Portugal sem chuva e com calor crescente: temperaturas diurnas elevadas e noites tropicais marcam os próximos dias

Portugal continental entra na segunda metade da semana sob um cenário meteorológico marcado pela estabilidade, ausência de precipitação e calor crescente. A mudança de circulação atmosférica já em curso abrirá caminho à entrada de massas de ar quente.

A partir de quarta-feira, 23 de julho, Portugal continental entrará numa fase de tempo quente e seco, cujos efeitos deverão intensificar-se progressivamente ao longo da semana. A passagem de uma circulação atlântica para uma dominante continental — com vento de leste e ausência de nortada — marcará uma mudança significativa na configuração meteorológica do país.

O anticiclone dos Açores, ao deslocar-se para nordeste, irá formar uma crista em direção à Europa Central, abrindo a porta à entrada de massas de ar muito quente e seco provenientes do Norte de África e do interior da Península Ibérica.

Portugal continental com calor extremo e noites tropicais até ao final da semana

Na quarta-feira, os primeiros sinais desta transição serão já notórios. As temperaturas máximas deverão ultrapassar os 35 ºC em vastas áreas do interior centro e sul, com especial incidência nos distritos de Beja, Évora, Portalegre e Santarém. No litoral, a diminuição da intensidade do vento permitirá que o calor avance em direção ao mar.

A instabilidade dos dias anteriores dará lugar a céu limpo e à estagnação de massas de ar quente, o que contribuirá para a elevação das temperaturas noturnas. Em cidades como Lisboa, Setúbal ou Coimbra, são esperadas noites com mínimas acima dos 20 ºC.

Na quinta-feira, 24 de julho, consolida-se o episódio de calor extremo, com registos que poderão atingir ou superar os 36 ºC em áreas como Alentejo, Ribatejo, Beira Baixa e Vale do Douro.

A ausência de precipitação será generalizada, e as condições de humidade relativa descerão significativamente, especialmente no interior, aumentando o risco de incêndio rural. O IPMA deverá emitir avisos de tempo quente e de risco de incêndio elevado em diversas regiões.

Aumento da temperatura na próxima quinta-feira.
Na quinta-feira, 24 de julho, consolida-se o episódio de calor extremo e os cuidados devem ser redobrados em todo o país.

Este padrão térmico manter-se-á durante os dias seguintes, com temperaturas persistentemente elevadas até, pelo menos, domingo, 27 de julho. O calor será agravado pelo efeito da subsidência atmosférica associada à crista anticiclónica, responsável por comprimir e aquecer ainda mais as camadas de ar próximas da superfície. Esta configuração contribuirá também para a manutenção do céu limpo e para a inexistência de mecanismos que favoreçam a convecção ou a precipitação.

Fim de semana prolonga temperaturas excecionalmente altas, que poderão prolongar-se até agosto

Ao longo do fim de semana, as previsões atuais dos modelos meteorológicos utilizados pela nossa equipa da Meteored apontam para a persistência desta massa de ar quente sobre o território português. Mesmo as regiões costeiras, tradicionalmente mais resguardadas, deverão registar máximas superiores a 32 ºC.

Braga, Leiria, Lisboa, Porto e Setúbal poderão atingir valores excecionalmente elevados para estas localidades, sobretudo tendo em conta a ausência da habitual nortada. O fenómeno do “forno ibérico” fará sentir-se com particular intensidade nesta fase.

Intensificação do fenómeno de "forno ibérico" com temperaturas muito elevadas.
Temperaturas aumentam durante a semana e mantêm-se no fim de semana, durante o dia e noite, intensificando-se o fenómeno de "forno ibérico".

As noites continuarão muito quentes, com valores mínimos frequentemente acima dos 22 °C no interior e em áreas urbanas do litoral. Em cidades como Beja, Santarém e Lisboa, poderão verificar-se temperaturas de 28 a 30 ºC pelas 22h ou 23h, cenário que dificultará a reposição térmica noturna e poderá ter efeitos na saúde da população, sobretudo dos grupos mais vulneráveis.

Ao contrário de Portugal, grande parte da Europa deverá experienciar temperaturas abaixo da média climatológica nesta fase. O contraste térmico entre o território português e os restantes países europeus será acentuado, evidenciando o papel da geografia peninsular, da orografia e da circulação atmosférica regional como fatores que contribuem para a intensificação do calor em território nacional.

A confirmar-se a persistência deste cenário nos próximos dias, poderá classificar-se oficialmente como uma onda de calor prolongada, com duração superior a 5 dias e impacte significativo. A previsão estende o período de calor até, pelo menos, 30 de julho, com possibilidade de prolongamento até aos primeiros dias de agosto, segundo os mapas semanais de anomalia térmica do ECMWF.

A ausência de precipitação manter-se-á até ao final do mês. Nenhum modelo aponta para mudanças significativas no padrão atmosférico, sendo improvável o regresso da chuva antes da viragem para agosto. Esta situação reforça a importância de um acompanhamento regular das previsões e dos avisos oficiais emitidos pelas autoridades, bem como da adoção de medidas de autoproteção por parte da população.