Ruptura de 480 km no sismo de magnitude de 7.8 de 2025 em Myanmar desafia precedentes geofísicos
No dia 28 de março de 2025, ocorreu um poderoso sismo de magnitude 7.8 em Myanmar, resultante do movimento da falha de Sagaing, que desafia precedentes geofísicos. Saiba as razões nesta notícia!

Este evento sísmico rompeu uma extensão impressionante de cerca de 480 km da falha, o que o coloca entre os mais longos registos de rupturas deste tipo. A falha de Sagaing, que separa as placas da Índia e da Sunda, está localizada em zona densamente povoada, passando por Mandalay e Nay Pyi Taw, e tem uma longa história de atividade sísmica, com vários sismos de grande magnitude registados ao longo do século XX.
Os métodos utilizados
O epicentro deste sismo situou-se próximo de Mandalay, com uma profundidade de cerca de 10 km. A análise inicial foi realizada através da combinação de diferentes técnicas: inversão de formas de onda de sismos telessísmicos, imagens InSAR (Radar de Abertura Sintética Interferométrico) para observar deformações na superfície, e técnicas de retroprojeção (backprojection) de ondas sísmicas de alta frequência.
Estes métodos revelaram que o deslizamento máximo atingiu aproximadamente 7 metros a norte do epicentro, e que a propagação da ruptura ocorreu em ambas as direções — para norte e para sul —, com a maior extensão e intensidade verificadas na direção sul.

Esse fenómeno não é comum e está normalmente associado a grandes libertações de energia e potencial destrutivo acrescido, sobretudo em zonas mais distantes do epicentro devido ao efeito de direcionalidade.
Dados da estação sísmica NPW, localizada a cerca de 5 km a oeste da falha e próxima da capital Nay Pyi Taw, confirmaram um deslocamento estático da ordem de 1,5 m e sugeriram uma velocidade média de ruptura de pelo menos 4,8 a 5,0 km/s.
Subdivisão da zona de ruptura
A geometria da falha revelou-se complexa. O modelo desenvolvido pelos autores subdivide a zona de ruptura em quatro segmentos com diferentes inclinações (dip): o segmento norte apresenta uma inclinação de cerca de 48,5°, que aumenta progressivamente para 80° nos segmentos mais a sul. Esta variação está de acordo com as observações de deformação na superfície — mais largas e assimétricas no norte, mais estreitas e simétricas no sul.
O modelo sísmico de fonte finita desenvolvido pelos autores mostrou que a maior libertação de energia ocorreu nos primeiros 130 km da falha, correspondendo ao segmento norte, onde o deslizamento foi mais intenso e raso. O restante deslizamento, mais fragmentado e menos intenso, estendeu-se até ao segmento mais a sul (F4), com cerca de 2,5 m de deslizamento máximo.

No contexto histórico, o sismo de 2025 parece ter rompido um segmento da falha identificado anteriormente como um "hiato sísmico" (seismic gap), entre eventos conhecidos de 1930 e 1956. Com base nas localizações e características dos sismos passados, acredita-se que este evento tenha libertado uma quantidade significativa de energia acumulada neste segmento. O comprimento total da ruptura em 2025, superior a 480 km, ultrapassou o da maioria dos grandes sismos strike-slip registados, como o sismo de 2001 em Kunlun (China), de 2002 no Alasca (Denali), e o de 2013 no mar de Scotia.

Os autores concluem que a ocorrência de propagação supershear em tão longa extensão é rara e significativa. Este fenómeno, aliado à direção preferencial da propagação da ruptura para sul, pode ter amplificado os efeitos do sismo a grandes distâncias, explicando os relatos de danos e abalos sentidos em locais como Bangkok. Destacam também a importância de estudos futuros, incluindo modelação dinâmica mais detalhada e análise de dados geodésicos, para entender melhor os mecanismos de nucleação da propagação supershear, as condições de ativação de segmentos falhados e a interação com bacias sedimentares que podem amplificar as ondas sísmicas.
Em suma, este estudo fornece uma análise abrangente e inovadora do sismo de 2025 em Myanmar, contribuindo de forma significativa para a compreensão dos mecanismos de propagação de rupturas em grandes falhas strike-slip, especialmente quando envolvem comportamento supershear. Esta investigação tem implicações diretas na avaliação de risco sísmico em zonas densamente povoadas e em falhas ativas de comportamento semelhante.
Referência da notícia
Ye, L., T. Lay, and H. Kanamori (2025). The 28 March 2025 Mw 7.8 Myanmar Earthquake: Preliminary Analysis of an ∼480 km Long Intermittent Supershear Rupture, The Seismic Record. 5(3), 260–269, doi: 10.1785/0320250021.