Junho 2025 foi o 3º mais quente desde 1931: meteorologista Teresa Abrantes explica as duas ondas de calor em Portugal

Junho de 2025, em Portugal continental, classificou-se, do ponto de vista climatológico, como um mês muito quente em relação à temperatura do ar e muito seco em relação à precipitação. Descubra aqui porquê.

Calor
O mês de junho foi um mês muito quente e muito seco.

Em junho, o estado do tempo no continente foi condicionado predominantemente pela ação do anticiclone dos Açores a estender-se em crista em direção à Península Ibérica ou ao Golfo da Biscaia dando origem a tempo seco. No entanto em alguns períodos tivemos a passagem de ondulações frontais de fraca atividade e uma depressão a oeste da Península que originou condições de instabilidade.

Temperatura muito acima dos valores normais para o mês de junho

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA, em Portugal continental, no mês de junho, o valor médio da temperatura média do ar, 22.49 °C, foi 2.14 °C superior ao valor da normal 1991-2020.

Junho de 2025 foi o 3º junho mais quente desde 1931.

Os dois junhos mais quentes ocorreram nos anos de 2004 e 2005.

O valor médio da temperatura máxima do ar, 29.57 °C, foi 2.87 °C acima do valor normal no período de 1991-2020 e o 4º mais alto desde 1931. O valor médio da temperatura mínima do ar, 15.41 °C, registou uma anomalia de 1.40 °C, sendo o 4º valor mais alto desde 1931.

O maior valor da temperatura máxima do ar foi 46.6 °C, que se registou em Mora, no dia 29 e o menor valor da temperatura mínima, 5.0 °C, ocorreu em Carrazeda de Ansiães, no dia 05.

Anomalia da temperatura
Anomalias da temperatura média do ar no mês de junho, em Portugal continental, em relação aos valores médios no período 1991-2020. Fonte: IPMA

Em grande parte dos dias do mês de junho, os valores diários da temperatura do ar foram em geral superiores aos valores médios mensais, com destaque para dois períodos muito quentes, o de 16 a 20 e o de 27 a 30 de junho.

Nos dias 29 e 30 mais de 30% das estações do IPMA registaram dias extremamente quentes (Tmáx ≥ 40 °C) e verificaram-se 30 novos extremos da temperatura máxima do ar e 6 da temperatura mínima do ar.

A temperatura do ar registada em Mora, 46.6 °C, constitui um novo extremo absoluto para junho em Portugal continental.

Nos dois períodos muito quentes também ocorreram noites tropicais (Tmín ≥ 20.0 °C). Nos dias 17, 19 e de 28 a 30 em mais de 20% das estações do IPMA, em mais de 35% no dia 29 e cerca de 45% no dia 30.

Ocorreram duas ondas de calor, a primeira com 6 dias de duração (15 a 20 junho) e a segunda com a duração máxima de 13 dias (27 junho a 09 julho), abrangendo essencialmente toda a região Norte, o interior Centro, o Alentejo e o sotavento Algarvio.

A precipitação foi muito inferior ao valor médio

Ainda de acordo com o IPMA, o mês de junho de 2025 registou um total de precipitação mensal de 4.9 mm, muito inferior ao valor médio 1991-2020, com uma anomalia de -16.4 mm.

Junho de 2025 foi o 4º junho mais seco desde 1931.

Durante o mês não se verificou precipitação significativa, no entanto no final do mês verificaram-se condições de instabilidade com ocorrência de aguaceiros, por vezes de granizo e acompanhado de trovoada e vento por vezes forte e com rajadas, em especial nas regiões do interior Norte.

Anomalias da precipitação
Anomalias da quantidade de precipitação, no mês de junho, em Portugal continental, em relação aos valores médios no período 1991-2020. Fonte: IPMA

Os valores de precipitação em junho foram muito inferiores ao valor normal 1991-2020, exceto nalguns locais do interior Norte e Centro, com grande parte dos distritos com percentagens inferiores a 25% em relação à média.

O maior valor da quantidade de precipitação em 24 horas, 25.3 mm, registou-se nas Penhas Douradas, no dia 29, enquanto o maior valor mensal da quantidade de precipitação em junho foi registado em Vinhais, 40.5 mm.

Nas estações meteorológicas de Sines, Aljezur, Neves Corvo, Albufeira e Faro, não se registou precipitação em todo o mês.

O valor mais elevado de percentagem de precipitação em junho, em relação ao valor médio, 92%, verificou-se em Mirandela.

Monitorização da Seca – Índice PDSI

O valor da quantidade de precipitação acumulada no ano hidrológico 2024/2025 é de 820.2 mm, o que corresponde a 109% do valor normal 1991-2020.

De acordo com o Índice Meteorológico de Seca, PDSI, índice meteorológico de seca calculado pelo IPMA para monitorização da situação de seca, no final de junho, como consequência dos baixos valores de precipitação registados nos últimos 2 meses, verificou-se o surgimento da seca meteorológica fraca, na região Noroeste do território e no Sotavento Algarvio.

Nas restantes regiões verificou-se uma diminuição significativa das classes de chuva e um aumento da classe normal.

Em termos de distribuição percentual por classes do índice PDSI no território continental, no final de junho verificava-se: 14.8% na classe de chuva fraca, 76.4% na classe normal e 8.8% na classe de seca fraca.