Grandes herbívoros emergem como aliados cruciais na prevenção de incêndios florestais

Um estudo recente, no âmbito do projeto GrazeLIFE, revela que o pastoreio com grandes herbívoros oferece uma solução promissora na mitigação de incêndios florestais. Destaca ainda a importância da coexistência entre humanos, natureza e paisagens resilientes.

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Pastoreio com recurso a grandes herbívoros é apontada como solução para enfrentar os incêndios florestais.

Os incêndios florestais representam um perigo crescente para os indivíduos, propriedades e biodiversidade planetária. Uma investigação recente traz alguma esperança para a minimização do risco.

Nesse estudo, apresentado no âmbito do projeto GrazeLIFE, afirma-se que o pastoreio com grandes herbívoros pode ser uma abordagem pro-ativa e altamente eficaz na mitigação do risco de incêndios florestais. A investigação oferece, aliás, uma solução promissora para enfrentar os incêndios florestais que não apenas reduz o perigo das chamas, mas também promove paisagens mais saudáveis e maior biodiversidade.

O pastoreio com grandes herbívoros, incluindo gado doméstico, herbívoros selvagens e semisselvagens, demonstrou ser uma alternativa eficiente relativamente a métodos mais onerosos, como o combate direto a incêndios e a remoção mecânica da vegetação. Os resultados do estudo publicado no Journal of Applied Ecology (JAE) destacam o papel crucial destes grandes herbívoros na prevenção e mitigação de incêndios florestais e oferecem recomendações para revisitar as políticas internacionais e europeias em matéria de incêndios e agricultura.

Desafios da atualidade: incêndios florestais em ascensão

Nos dias de hoje, os incêndios florestais representam uma ameaça para as comunidades em todo o mundo, sendo que nos países do mediterrâneo os efeitos têm sido bastante drásticos nas últimas décadas, acarretando enormes perdas materiais e, sobretudo, de vidas humanas.

Os fatores socioeconómicos, como o despovoamento rural e o abandono das áreas rurais, estão a contribuir para o agravamento dos problemas. Efetivamente, a diminuição das populações rurais e a redução drástica de práticas tradicionais de pastoreio e pastorícia contribuem para a proliferação de áreas de terreno propícias ao acúmulo de vegetação combustível.

Mormente, com o desaparecimento dos aceiros naturais, que tradicionalmente atuavam como barreiras naturais contra os incêndios, o risco e a gravidade dos focos de incêndio florestal estão em aumento crescente. Em resposta a esta ameaça, os governos, comunidades locais e outros stakeholders têm investido recursos significativos na melhoria da capacidade de combate aos incêndios.

Uma abordagem alternativa e sustentável

O estudo do JAE oferece uma perspetiva alternativa e económica para combater o problema. A investigação, conduzida no âmbito do projeto GrazeLIFE, co-financiado pela Comissão Europeia e coordenado pela Rewilding Europe, concentrou-se na eficácia do pastoreio realizado por grandes herbívoros na redução do risco de incêndios florestais.

Os resultados revelaram que herbívoros, como cavalos e bisontes, desempenham um papel fundamental na redução do risco de incêndios florestais por meio da atividade de pastoreio. Em alguns casos, podem ser particularmente eficazes, designadamente em áreas remotas e de difícil acesso, onde o maneio cuidadoso pode prevenir incêndios florestais e, ao mesmo tempo, beneficiar a natureza selvagem.

O pastoreio por estes grandes herbívoros funciona através da redução da quantidade de vegetação combustível disponível numa determinada área específica, tornando-a menos propensa a incêndios intensos e de rápida propagação. Além disso, cria uma espécie de "aceiros naturais" através do pastoreio de baixa intensidade, onde a vegetação é mais rala e, portanto, menos suscetível a sustentar incêndios.

Benefícios adicionais para a natureza e comunidades locais

Além da sua eficácia na prevenção de incêndios florestais, o pastoreio com grandes herbívoros oferece uma série de benefícios adicionais. Os rebanhos destes herbívoros, especialmente daqueles que circulam livremente, desempenham um papel crucial na criação de paisagens diversificadas em mosaico que suportam níveis mais elevados de biodiversidade.

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Wouter Helmer, conselheiro sénior da Rewilding Europe e co-autor do estudo, descreve estes grandes herbívoros como "arquitetos paisagistas", contribuindo para a preservação da natureza em várias frentes.

Implicações para as políticas globais e europeias

Com base nas evidências científicas deste estudo, os investigadores apontam várias recomendações para a gestão do solo e policymakers. Uma das sugestões principais trata-se de promover e apoiar o pastoreio extensivo por herbívoros domésticos ou semisselvagens em áreas atualmente afetadas pelo abandono das terras.

Isto implicaria necessariamente a integração de políticas agrícolas, florestais e de gestão do fogo, bem como a provisão do apoio financeiro às pessoas envolvidas na prevenção de incêndios que utilizem estes animais. Na Europa, a nova Política Agrícola Comum (PAC) é apontada como uma oportunidade para apoiar os agricultores e proprietários de terras na adoção de práticas de pastoreio extensivo.

Guy Pe'er, investigador do iDiv (German Centre for Integrative Biodiversity Research) e da UFZ ( Helmholtz-Centre for Environmental Research), ressalta que ao permitir que os animais desempenhem esse papel é uma maneira excecionalmente económica de gerir o uso dos solos.
Num período de alterações climáticas, encontrar soluções para responder mais eficazmente em matéria de preservação das florestas é um ponto fulcral nas agendas políticas nacionais e internacionais. Neste domínio, este estudo oferece uma luz de esperança, apontando soluções baseadas na natureza, que não apenas reduzem o risco perante os incêndios florestais, mas também contribuem para o bem-estar das comunidades locais e a conservação da biodiversidade.