Mamíferos carnívoros são mais suscetíveis ao cancro que os herbívoros

Os mamíferos que vivem de carne têm mais probabilidade de morrer de cancro do que os que só se alimentam de plantas, de acordo com um estudo com base em dezenas de milhares de animais de jardim zoológico, em todo o mundo. Saiba mais aqui!

kowari
O kowari, um marsupial carnívoro, é particularmente propenso ao cancro.

Orsolya Vincze, do Centro de Investigação Ecológica, na Hungria, e os seus colegas analisaram registos post mortem de mais de 110 mil animais, de 191 espécies de mamíferos, que morreram em jardins zoológicos, para determinar o seu risco de morrer de cancro.

Verificaram que os mamíferos carnívoros tinham muito mais probabilidade de morrer de cancro do que os mamíferos que raramente ou nunca comem animais. Os artiodáctilos, um grupo maioritariamente herbívoro que inclui antílopes, ovelhas e vacas, foi a ordem dos mamíferos menos propensos ao cancro.

A espécie mais propensa ao cancro foi o kowari (Dasyuroides byrnei), um pequeno marsupial australiano carnívoro, com 16 dos 28 registos post mortem disponíveis para a espécie, declarando o cancro como a causa de morte.

Em contraste, nenhum dos 196 antílopes-negros (Antilope cervicapra) ou das 213 maras patagónicas (Dolichotis patagonum) foram registados como tendo cancro quando morreram. Os antílopes-negros são herbívoros nativos da Índia e a mara patagónica é um grande roedor herbívoro encontrado na Argentina.

Relação entre o consumo de carne e o cancro

Os resultados desafiam a crença comum de que os animais maiores, com maior longevidade, correm maior risco de contrair cancro, uma vez que têm mais células que podem sofrer mutações e há mais tempo para que as mutações ocorram.

Em vez disso, o risco de cancro parece estar diretamente relacionado com a dieta, embora seja necessária mais investigação para confirmar se a relação observada nos mamíferos em cativeiro se encontra também em populações selvagens, afirmam os investigadores.

Uma razão pela qual os carnívoros podem ser mais propensos ao cancro é que a carne crua pode conter vírus que têm o potencial de causar esta doença quando ingeridos, diz Vincze. Por exemplo, descobriu-se que os cancros em alguns leões cativos estão relacionados com o papilomavírus em carcaças de vacas que comeram, afirmou.

Outra razão pode ser que os carnívoros estão mais expostos a poluentes que se concentram cada vez mais em animais mais acima na cadeia alimentar, diz Beata Ujvari na Universidade Deakin, em Geelong, na Austrália, que também esteve envolvida neste estudo. Além disso, os carnívoros têm dietas com alto teor de gordura, baixo teor de fibras e bactérias intestinais menos diversificadas do que os comedores de plantas, que são fatores que têm sido associados ao risco de cancro nas pessoas, afirmou.

A descoberta de que os mamíferos que comem carne são mais suscetíveis ao cancro não significa necessariamente que as pessoas que comem carne estejam também mais em risco, uma vez que temos estilos de vida diferentes dos outros mamíferos e não tendemos a comer carne crua, diz Ujvari. No entanto, alguns estudos sobre os humanos relacionaram o consumo de carne com o aumento do risco de cancro, diz ela.

O consumo de carne crua pode ser um dos fatores para a maior incidência de cancro nos mamíferos carnívoros do que nos herbívoros.

Nesta fase, não é claro porque é que os artiodáctilos parecem ser invulgarmente resistentes ao cancro, mas uma melhor compreensão disto poderia ajudar a proteger-nos também do cancro, frisa Ujvari. A sua dieta vegetal pobre em gorduras e rica em fibras pode ser um fator, ou podem ter desenvolvido defesas naturais anticancerígenas para compensar o potencial extra de cancro, causado pelo seu grande tamanho.

Espécies como o antílope-negro e a mara patagónica são de particular interesse devido às suas taxas de mortalidade por cancro excecionalmente baixas. "Compreender como eles desafiam o cancro pode ajudar-nos a desenvolver tratamentos contra o mesmo", frisou Vincze.