Como erupções vulcânicas causam tsunamis globais

A erupção do vulcão Tonga gerou efeitos nunca antes vistas na História, apenas passíveis de comparação com a erupção do Krakatau (Indonésia) em 1883, gerando um tsunami de consequências à escala planetária. Saiba mais pormenores aqui!

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A erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai causou efeitos nunca antes vistos.

A 15 de janeiro de 2022, um caldeirão vulcânico quase submerso no Pacífico Sul chamado Hunga Tonga-Hunga Ha'apai deu-se a conhecer ao mundo, entrando em erupção. Depois de 7 anos “adormecido”, acordou gerando uma impressionante nuvem de cinzas que atingiu a estratosfera e um tsunami que devastou o isolado arquipélago insular do Reino de Tonga.

Embora o número de vítimas tenha sido manifestamente inferior ao esperado dada a dimensão do evento, este vulcão entrou para a história, quebrando todos os tipos de recordes.

Sabe-se hoje que a energia por si libertada ultrapassou a maior explosão provocada pelo Homem na História, a mais potente bomba nuclear detonada, a bomba Tsar. Uma investigação publicada na revista Nature confirmou que esta erupção se tinha tornado a maior explosão na Terra nos tempos modernos.

Mas os seus efeitos não se ficam por aqui. Estima-se que os seus efeitos poderiam alterar o clima da Terra ao ponto de o aquecer nos próximos cinco anos, afetando também a camada de ozono.

O que a história nos ensina

Tinham passado praticamente 140 anos desde que uma erupção de dimensão idêntica abalou a Terra. Em 27 de agosto de 1883, quando o Krakatoa, entrou em erupção, levou à autodestruição de parte daquela ilha indonésia, causando aquele que havia sido até aos dias de hoje o maior e mais desastroso tsunami vulcânico da História. Estima-se que tenha gerado ondas de 40 metros de altura.

Este evento causou a morte a dezenas de milhares de pessoas, estima-se que tenham sido mais de 36.000 pessoas.

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Apenas a erupção do Krakatoa encontra semelhanças na História.

Esta erupção expeliu tanta cinza que, por um tempo, mudou as cores do pôr do sol. Na história, poucas erupções vulcânicas foram tão documentadas, até esta recente erupção submarina no remoto arquipélago de Tonga.

O tsunami global

A erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai foi já classificada como Krakatoa 2.0”. Depois deste acontecimento, vários foram os estudos produzidos. Para que se tenha um termo de comparação com o evento de Krakatoa, as ondas que este tsunami produziu nas proximidades imediatas do vulcão atingiram uma altura de quase 90 metros.

A explosão submarina ferveu o oceano, criando uma cratera de mais de 90 metros de profundidade e 5 milhas de largura. O tsunami resultante afastou-se do vulcão em direção a Tonga, a uma velocidade superior a 400 km por hora.

O tsunami atingiu Tongatapu, a principal ilha do Reino de Tonga em aproximadamente 10 minutos e inundou-a a uma altitude de mais de 18 metros, destruindo casas, meios de subsistência e vidas. A ilha chegou a ficar um mês com a rede de comunicação cortada devido aos estragos causados num cabo submarino.

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O impacto da explosão e do tsunami que ela gerou não se limitou a este arquipélago de mais de 170 ilhas e ao sul do Oceano Pacífico. A erupção gerou um tsunami global, um dos muito poucos tsunamis que conhecemos que afetou todos os oceanos e mares do planeta Terra.

Quase três horas antes desse grande tsunami cruzar o Oceano Pacífico e atingir o Japão, pequenos picos de ondas chegaram às Ilhas Ogasawara, cerca de 1.000 quilómetros ao sul de Tóquio. Nesse mesmo dia, picos semelhantes foram registados no Mar das Caraíbas, em Porto Rico e no México, na Califórnia e até no Mar Mediterrâneo, a 18.000 quilómetros da erupção.

“A diversidade de mecanismos geradores para a destruição intensa perto do evento e para o sinal de tsunami mais sustentado em todo o mundo ilustra o quanto ainda há para aprender sobre a geração de tsunamis e quão difícil é a previsão de um problema”, diz Baris Mete Uz, diretor de programa da Divisão de Ciências Oceânicas da NSF

Este tsunami global foi gerado por um choque de pressão provocado pela erupção que viajou na atmosfera. Este choque de pressão foi notavelmente estável, dizem os cientistas, tendo sido registado em estações meteorológicas em todo o mundo, circulando o globo quatro vezes.

À medida que viajava sobre os oceanos, a onda de choque empurrou a superfície do oceano com ele, criando continuamente vários tsunamis em todo o mundo. Já num estudo de 1955, a propósito da erupção do Krakatoa, um grupo de cientistas havia chegado à conclusão que estes tsunamis distantes se correlacionavam com a chegada da onda de pressão que se propagava pelo ar a partir da erupção. Esta erupção veio comprová-lo.