Mudanças climáticas: uma pandemia sem estado de alarme

Será que podemos comparar a pandemia com as mudanças climáticas? Porque razão não é decretado um estado de alarme para as mudanças climáticas? Descubra tudo aqui!

Vírus
A crise do coronavírus serviu para enfrentar a realidade do que é um problema global que põe em xeque a nossa saúde e a nossa economia.

A Covid-19 gerou uma crise social e económica sem precedentes, em tempos de paz. A vulnerabilidade da globalização ficou demonstrada através de um vírus, um organismo vivo infinitamente pequeno. Sob a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), os países tomaram medidas sanitárias drásticas para deter a pandemia. O confinamento afetou a economia de metade dos habitantes do planeta e a tragédia humana tem sido enorme.

O confinamento devido à pandemia do coronavírus, trouxe efeitos positivos na qualidade do ar.

No entanto, houve uma imediata e involuntária melhoria da qualidade do ar, graças à paralisação de máquinas térmicas movidas a energia fóssil. Além da diminuição das emissões do dióxido de carbono – CO2, principal gás com efeito de estufa, verificou-se uma diminuição da concentração de poluentes tóxicos no ar, nas zonas urbanas submetidas ao confinamento e cujo impacto é mais local e regional. Perante a pandemia registou-se uma reação imediata dos governantes e gestores.

Pandemia e Mudanças Climáticas

Durante décadas, organizações ambientais, baseados em resultados de trabalhos científicos, têm avisado da emergência ambiental que estamos a enfrentar devido às mudanças climáticas. Pode-se perguntar porque não lidamos com a emergência climática com a mesma força com que está a ser enfrentada a pandemia.

O conceito da pandemia pelo coronavírus é muito semelhante ao que significa a mudança climática, com uma escala de tempo maior, mas com consequências potencialmente mais devastadoras ainda.

A pandemia viral tem um órgão de referência, a OMS, a que os governos se referem ao avaliar o problema e decidir as respostas. O equivalente climático mais parecido com a OMS seria o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o grupo científico das Nações Unidas que assessora os governos sobre as mudanças climáticas.

Os relatórios do IPCC não são menos contundentes do que os avisos da OMS, mas a realidade é que não é decretado a nível global um estado de alerta de emergência climática.

Apesar de o estado de emergência climática ter sido aprovado recentemente por alguns governos, as medidas a serem aplicadas têm demorado bastante tempo a serem aprovadas.

O que teria acontecido se a resposta ao coronavírus tivesse que esperar todo esse tempo?

O clima equivalente ao confinamento seria suspender todo o consumo não essencial de combustíveis fósseis. Parece impossível de realizar, mas a verdade é que durante o confinamento, devido à paragem de muitas atividades, especialmente os transportes, as emissões foram bastante reduzidas. Este ano as emissões globais podem ser reduzidas em cerca de 4% devido à pandemia.

No entanto, ao contrário do coronavírus, para evitar mudanças climáticas perigosas (que resultariam do aquecimento global de mais de 1.5oC) a redução das emissões globais deve ser cerca de 7% por ano ano.

Alterações climáticas. Descrepâncias.
Para combater as mudanças climáticas, devem ser reduzidas as emissões de gases de efeito de estufa para a atmosfera.

Na ação climática existem alternativas que não envolvem a paragem da economia como com o coronavírus, uma vez que os serviços de energia podem ser mantidos mesmo sem combustíveis fósseis recorrendo às energias renováveis. O problema é que continuam fortes resistências a esta alternativa.

Curiosamente, à medida que o mundo se esforça para procurar um tratamento médico contra o coronavírus, não parece haver a mesma urgência em encontrar uma solução para as mudanças climáticas.

Quando os fatos confirmam as previsões há muito anunciadas, pergunta-se o que mais tem de acontecer para fazê-los ouvir.

O que se pensaria se alguém tivesse tratamento para a Covid-19 e não o deixássemos aplicá-lo?