Apesar da redução no volume armazenado na última semana de julho, a maioria das albufeiras mantém níveis elevados
A 28 de julho de 2025, todas as bacias hidrográficas registaram uma descida nos volumes de água armazenada face à semana anterior. Ainda assim, a maioria das albufeiras mantém níveis elevados. O Governo avançou com novas medidas para reforçar a segurança hídrica, inclusive no Algarve.

O mais recente boletim da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), divulgado a 28 de julho de 2025, revela que todas as bacias hidrográficas do território nacional registaram uma descida nos volumes de água armazenada face ao boletim anterior, de 21 de julho. Este comportamento é típico dos meses de verão, marcados por menor precipitação e maiores consumos, mas reforça a necessidade de garantir uma gestão eficiente dos recursos hídricos, particularmente em áreas mais vulneráveis.
Apesar de redução dos níveis de armazenamento na última semana, os valores permanecem muito elevados
Apesar da descida generalizada, a situação hidrológica mantém-se, à data, relativamente confortável em termos nacionais. 60% das albufeiras monitorizadas apresentam níveis de armazenamento superiores a 80% da sua capacidade total, e apenas uma apresenta valores inferiores a 40%.
Em termos históricos, os volumes atuais são superiores à média do mês de julho no período de 1990/91 a 2023/24, excetuando-se as bacias do Mira e das Ribeiras do Barlavento, ambas localizadas no sul do país. No final do mês do julho, verifica-se um volume total armazenado de água de 85%, uma descida de 163 hm3 entre 21 e 28 de julho (-1,23%). Cifra-se, neste momento, em 11 267 hm3.

Este cenário nacional revela contrastes regionais. No Norte e Centro, as albufeiras continuam em geral com bons níveis de armazenamento, o que garante o abastecimento público e agrícola durante o verão. Em particular, as bacias hidrográficas do Lima (84,8%), Douro (90,2%) e Vouga (89,4%).
Já no Sul, onde a pressão climática e turística se faz sentir com maior intensidade, os níveis continuam mais baixos. O Algarve, em particular, mantém uma situação estável, mas frágil, em particular, Mira (55,9%) e Barlavento (52,8%).
Governo aposta na resiliência hídrica com novas infraestruturas e combate ao desperdício
Deve salientar-se que o Governo anunciou um pacote de medidas com vista ao reforço da resiliência hídrica em todo o país, com especial destaque para o sul.
O projeto já se encontra em fase de estudo de impacto ambiental e o projeto de execução deverá estar concluído nas próximas semanas. O custo da nova albufeira ronda os 20 milhões de euros, com prazo estimado de quatro a cinco anos para conclusão.
A par das novas infraestruturas, o Governo tem em curso a construção da primeira dessalinizadora do país, também no Algarve, uma obra já adjudicada e classificada como prioritária. No entanto, a ministra foi clara ao apontar um dos maiores desafios estruturais do país: a ineficiência das redes públicas de distribuição. “Não faz sentido construir uma dessalinizadora e perder a mesma quantidade de água nas redes”, alertou, exigindo maior empenho das autarquias na modernização das infraestruturas.
De acordo com a tutela, o Programa Operacional Sustentável, que financia até 60% dos investimentos nesta área, está com baixa execução, o que levou a ministra a reforçar o apelo à aceleração das candidaturas e da implementação de projetos. A preocupação é transversal ao território, já que as perdas nas redes públicas continuam acima dos 30% em muitos municípios.
Outra medida relevante prende-se com o levantamento das restrições à abertura de furos artesianos em várias áreas do Algarve. A decisão, sustentada por dados técnicos, resulta da “recuperação significativa” das massas de água subterrânea, designadamente nas zonas de Luz de Tavira, São Brás de Alportel, Peral, Moncarapacho e Arade. Ainda assim, os especialistas alertam que esta flexibilidade deve ser acompanhada de monitorização apertada e critérios rigorosos de licenciamento.
No que toca à barragem da Foupana, promessa antiga e tantas vezes adiada, o Governo limitou-se a garantir que “serão feitos estudos”, sem compromissos quanto à sua viabilidade ou calendário. Esta indefinição contrasta com o avanço firme da barragem de Alportel e da dessalinizadora, que se apresentam como as principais apostas no curto e médio prazo.
A nível nacional, o desafio da gestão da água continua a ser central na adaptação às alterações climáticas. Os modelos climáticos apontam para verões mais longos, quentes e secos, o que tornará mais frequentes os períodos de stress hídrico, sobretudo no sul e interior do país. Por isso, a resiliência do sistema não depende apenas de mais infraestrutura, mas também de maior eficiência no consumo, combate às perdas e uma cultura pública de poupança.