A borboleta-branca-da-Madeira está oficialmente extinta
A extinção das borboletas está em curso e o fim da espécie endémica da ilha Madeira é um sinal de que medidas urgentes não podem mais ser adiadas, alertam os conservacionistas.

Durante dois anos, uma equipa de entomólogos da Butterfly Conservation Europe realizou buscas intensivas em toda a ilha da Madeira.
Subiram picos montanhosos, desceram vales profundos, percorreram o Maciço Vulcânico Central, o planalto do Paúl da Serra ou ainda as grandes falésias como o Cabo Girão, a maior da Europa.
Os especialistas procuravam a borboleta-branca-da-Madeira (Pieris wollastoni), mas o esforço foi em vão. Bateram a ilha inteira e não encontraram nada. A espécie está agora oficialmente desparecida.
É a primeira borboleta europeia classificada como globalmente extinta. Vista pela última vez em maio de 1977, já tinha sido descrita como extinta em 2008 por uma equipa portuguesa de micologistas, mas agora oficial.

A Lista Vermelha das Borboletas da Europa atualizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) avaliou um total de 442 espécies – seis estão criticamente em perigo, 35 estão em perigo e 24 com estatuto vulnerável. A borboleta-branca-da-Madeira é a única espécie declarada como extinta.
Um “marco trágico” para a biodiversidade em Portugal
A confirmação é um “marco trágico” do colapso da biodiversidade do país – lamentou em comunicado a Rewilding Portugal, advertindo não se estar diante de um caso isolado. E, se nada mudar, avisa a organização ambiental, as extinções tornar-se-ão cada vez mais frequentes.
São, por isso, urgentes políticas mais robustas de financiamentos e mecanismos de monitorização para assegurar “o equilíbrio ecológico e a biodiversidade” no território nacional.
Uma delas é a borboleta cleópatra-da-Madeira (Gonepteryx maderensis), catalogada como em perigo de extinção. Outra é a borboleta-azul-das-turfeiras (Phengaris alcon), avaliada em Portugal como em perigo, mas como quase ameaçada a nível europeu.
A extinção à escala europeia
O relatório da UICN dá conta ainda de 65 espécies de borboletas ameaçadas de extinção na Europa, um número que registou um aumento de 73% em apenas uma década.
Degradação de habitats, provocada pela intensificação da agricultura, do pastoreio ou drenagem de zonas húmidas são algumas das grandes causas, mas a principal ameaça da última década são as alterações climáticas.
O relatório da UICN concluiu que 52% (34 espécies) de todas as espécies em risco na Europa estão ameaçadas pelas alterações climáticas, uma percentagem que deverá aumentar nos próximos anos.

O restauro de rios, solos, zonas húmidas e florestas nativas, bem como a criação de paisagens resilientes aos incêndios e a integração das comunidades locais nestes esforços coletivos são algumas das medidas concretas que os ambientalistas propõem para reverter o declínio das borboletas.
“Precisamos agora de ações urgentes para salvar um grande número de espécies da extinção, alertou Martin Warre, um dos mais respeitados especialistas europeu e coautor do relatório da UICN. As alterações climáticas, para o diretor executivo da Butterfly Conservation, são mais difíceis de travar, mas ao restaurar e gerir os habitats de uma forma eficiente, aumenta-se as hipóteses de assegurar a sobrevivência das espécies.

As borboletas estão entre os melhores bioindicadores da diversidade biológica. Ao responderem rapidamente às mudanças ambientais fornecem informações vitais sobre o estado de conservação dos habitats, dando pistas valiosas sobre a eficácia das medidas implementadas na gestão sustentável de um território. E é por isso que, quando se salva uma espécie, estamos, na verdade, a salvar todo um ecossistema.
Referência da notícia
European Red List of Butterflies - União Internacional para a Conservação da Natureza