Vamos contar borboletas? Projeto de ciência-cidadã está à procura de voluntários

Os Censos de Borboletas contam com o contributo de voluntários, que recolhem informações sobre o estado de conservação destes insetos, bem como a saúde dos seus habitats.

Borboleta pousada na mão
O Censos de Borboletas, lançado em 2019, conta com cerca de 120 voluntários, mas precisa de mais cientistas-cidadãos para aumentar o volume de dados em todo território continental de Portugal. Foto: Pixabay

Sabia que as borboletas estão entre os melhores bioindicadores para estudar a diversidade e abundância de outros insetos menos conhecidos e difíceis de monitorizar?

Ao responderem rapidamente às mudanças ambientais, as borboletas fornecem ainda informações vitais sobre a saúde dos habitats e a eficácia das práticas que estão a ser implementadas na gestão sustentável de um território.

As borboletas, por tudo isso, não são apenas insetos exóticos que alegram os nossos dias com a sua beleza, cor e leveza. Elas são um autêntico tesouro que importa preservar e esse é precisamente o intuito dos Censos de Borboletas.

borboletas
A presença das borboletas reflete a saúde e o estado da biodiversidade de um ecossistema. Fotos: Pixabay

A iniciativa, promovida pelo Centro de Conservação de Borboletas de Portugal (tagis) é uma valiosa ferramenta para avaliar o sucesso de medidas adotadas no âmbito da nova Lei do Restauro da Natureza.

Lançados em 2019, os censos fazem parte do Plano Europeu de Monitorização de Borboletas Diurnas, que consiste na contagem regular, ao longo de vários anos, do número de indivíduos de cada espécie destes insetos.

Esta monitorização segue uma metodologia padronizada, utilizada em toda a Europa, possibilitando o cálculo de indicadores ecológicos, assim como a comparação entre diferentes locais e a análise das tendências populacionais das borboletas e de outros insetos.

O projeto, todavia, depende em grande parte do trabalho de voluntários para conseguir cobrir o território continental.

Monitorização de norte a sul

Em Portugal Continental, são já mais de 120 as pessoas que participam neste projeto de ciência-cidadã, todas elas treinadas na identificação de borboletas e na metodologia de monitorização.

Os participantes são cientistas-cidadãos, que fazem a contagem e catalogação de forma voluntária, mas também técnicos de organizações não governamentais ou entidades municipais e estatais.

O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), por exemplo, assegura a monitorização de 33 sítios localizados em áreas protegidas ou classificadas.

O esforço de voluntários que participam no projeto de ciência-cidadã, juntamente com os técnicos de diferentes organizações, como o Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, o programa ABLE – Avaliar BorboLetas na Europa ou o Butterfly Conservation Europe, já permitiu recolher, entre 2019 e 2024, um impressionante número de 108 544 borboletas pertencentes a 112 espécies contados de norte a sul do país.

Se quiser, portanto, fazer parte deste movimento, terá somente de seguir quatro passos recomendados pelo Centro de Conservação de Borboletas de Portugal.

1 – Escolher um percurso onde realizar as contagens

O trajeto escolhido deverá ter aproximadamente 1 km e ser de fácil acesso para permitir contagens periódicas. Esse é, aliás, um aspeto determinante para obter dados confiáveis.

Um dos grandes desafios, inclusive, é manter a regularidade na monotorização ao longo dos anos, sendo necessárias, no mínimo, 10 contagens anuais para cada percurso.

Rotas dos Censos de Borboletas
Para participar no Censos de Borboletas, os voluntários devem escolher um percurso perto do trabalho ou de casa para conseguir fazer as contagens de forma frequente e continuada ao longo de anos.

O primeiro passo é, portanto, marcar o percurso no Google Earth, assinalando as secções que correspondem aos diferentes habitats ou paisagens incluídos no caminho a fazer. Poderá solicitar apoio ao tagis - Centro de Conservação de Borboletas de Portugal para selecionar e marcar as secções do seu percurso.

2- Ajustar o percurso e decidir com os técnicos a rota definitiva

Deverá dar conhecimento aos técnicos sobre o percurso (ou transeto) que pretende fazer para que, em conjunto, decidam a rota e as diferentes paisagens (ou seções) que melhor se adaptem aos objetivos dos censos.

É necessário, para isso, recolher imagens e vídeos do percurso e enviá-los num ficheiro KMZ (ficheiro compactado semelhante ao ZIP e compatível com os softwares do Google Earth) para o seguinte endereço eletrónico: [email protected].

3 – Registar-se na plataforma dos Censos de Borboletas

Após definir o percurso poderá registar-se na plataforma do European Butterfly Monitoring Scheme – eBMS, através do endereço eletrónico www.butterfly-monitoring.net. Atualmente, a rede eBMS conta com cerca de quatro mil transetos na Europa.

4 – Conte as borboletas, usando a metodologia europeia

Ainda antes de partir para o terreno, deverá estar munido de uma folha de registo, que pode ser descarregada no website do Centro de Conservação de Borboletas de Portugal ou de um caderno de campo. Ao chegar a casa, os registos recolhidos devem ser introduzidos na plataforma eBMS.

borboleta cramera (Aricia cramera)
A cramera (Aricia cramera) é uma borboleta do Sul da Europa e Norte de África, podendo ser encontrada desde Marrocos e Tunísia até Portugal e Espanha. Marc Pascual/Pixabay

Todo este processo é apoiado por especialistas envolvidos nos Censos de Borboletas, mas deverá também consultar o manual com a descrição das metodologias de marcação dos transetos e ainda descarregar o guia das borboletas comuns em Portugal continental.

Borboleta-carnaval
A época de voo da borboleta-carnaval (Zerynthia rumina), espécie endémica da Península Ibérica, é entre fevereiro e junho, mas as alterações climáticas estão a colocá-las em perigo. Foto: No-longer-here/Pixabay

Veja nas referências deste artigo os documentos e os websites onde poderá obter mais informação e inicie esta aventure pelos caminhos coloridos das borboletas.

Referências da notícia

Censos Borboletas de Portugal - Centro de Conservação de Borboletas de Portugal (tagis)

Manual dos Censos de Borboletas de Portugal - Centro de Conservação de Borboletas de Portugal (tagis)

Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental- Centro de Conservação de Borboletas de Portugal (tagis)

European Butterfly Monitoring Scheme - eBMS

Assessing Butterflies in Europe (ABLE)

Butterflies Conservation Europe