Outubro em Portugal: regresso do tempo de chuva ou intensificação da seca?

Apesar de setembro poder vir a ser classificado climatologicamente como um mês chuvoso, a situação de seca continua a ser bastante preocupante de norte a sul de Portugal continental. O que esperar para outubro? Irá este mês trazer a tão desejada chuva? Consulte a previsão!

chuva; seca; outubro; Portugal
Outubro é, climatologicamente, o 6 º mês mais chuvoso do ano em Portugal continental. E em 2022, como poderá ser?

A reta final de setembro tem sido pouco agitada em Portugal continental – meteorologicamente falando – apesar da previsão de chuva para quinta-feira 29 de setembro. A Madeira foi registando um panorama meteorológico algo variável nos últimos dias. Já os Açores foram atingidos, em cheio, pela tempestade tropical Gaston há alguns dias atrás. Houve precipitação abundante, sobretudo no Grupo Central, e rajadas de vento muito fortes.

No entanto, apesar dos episódios bonançosos de chuva, como o que sucedeu entre 12 e 15 de setembro graças à tempestade “ex-Danielle” e ao que ocorreu na semana que se seguiu – entre os dias 18 e 21 – gerado pela passagem de uma gota fria, a seca mantém-se assustadoramente preocupante. Dado que a situação é tão crítica, a generosa quantidade de água recebida neste setembro pelos solos, rios, barragens e aquíferos foi, ainda assim, manifestamente insuficiente.

Sobretudo tendo em conta que setembro – de entre os 12 meses do Ano Hidrológico 2021/2022 – será, muito provavelmente, apenas o segundo a ser classificado de chuvoso em termos climatológicos, fazendo companhia a um “solitário” março. As chuvas de outubro são, por isso, mais desejadas do que nunca!

Características climatológicas de outubro em Portugal

Pode-se considerar outubro como o primeiro mês verdadeiramente de outono. A temperatura em outubro, em Portugal continental, é, em média, 4,5 ºC inferior aquela que é registada em setembro. A descida assinalada pelos termómetros costuma ser consideravelmente mais notória nas Regiões do Centro e Alentejo, sendo que a Área Metropolitana de Lisboa habitualmente regista a variação térmica mais suave.

Em outubro, à noite, e pela manhã cedo, já começa a ser mais habitual não só o uso de casacos mais quentes e confortáveis para fazer face ao frio, como também ocorre a formação mais ocasional das primeiras geadas, especialmente nas áreas montanhosas do interior Norte e Centro.

Quanto à chuva, tendo em conta a normal climatológica de referência (1971-2000), a média acumulada de precipitação para outubro em Portugal continental é de 105,7 mm, o que lança este mês diretamente para a primeira metade da tabela, ao posicioná-lo em 6 º lugar no ranking dos meses mais chuvosos do ano.

Todavia, no que toca a outubro, há um contraste pluviométrico regional bastante evidente entre a parte setentrional e a parte meridional do nosso país. A norte do Tejo (Regiões Norte e Centro) o mês costuma ser húmido e chuvoso, ao ultrapassar substantivamente a centena de litros por m2 de precipitação acumulada.

Pelo contrário, a sul deste curso de água, a média acumulada de precipitação varia, grosso modo, entre os 60 e os 80 mm. Saliente-se que é também nos meses de outubro que começam a aparecer as depressões ou tempestades atlânticas e as suas frentes associadas, especialmente a partir da segunda quinzena.

Outubro de 2022, mais quente do que o normal em quase todo o país

No que concerne à temperatura, a previsão que gerimos na Meteored indica, para outubro de 2022, que este período de 31 dias será ligeiramente mais quente do que o habitual em dois terços de Portugal continental. Prevê-se anomalia térmica de até 1 ºC acima da média, em particular no interior do país (metade leste portuguesa).

mapa anomalia de temperatura; Portugal
Mais de metade do país registará um outubro ligeiramente mais quente do que o normal, segundo as atuais previsões.

Já no litoral, as temperaturas esperadas deverão rondar os valores médios. Realce-se que há uma pequena área dos distritos de Lisboa e Setúbal (Cabo da Roca, Cascais, Cabo Espichel e Sesimbra) que registarão temperatura um pouco inferior ao normal (até -1 ºC abaixo da média).

De momento, o nosso modelo de confiança prevê que na primeira quinzena do mês as altas pressões estejam “estacionadas” nas redondezas dos Açores – Ilhas Britânicas, enquanto que na segunda poderão, eventualmente, deslocar-se para o Mediterrâneo. Do ponto de vista sinótico, não é a situação ideal para grandes episódios de chuva à escala nacional.

Irá Portugal registar grandes episódios de chuva?

Em relação à chuva, tal como já foi referido, o país inteiro está gravemente afetado pela situação de seca. Rios secos, danos catastróficos no campo e restrições do uso de água em várias autarquias. Infelizmente, para já, não é possível dar boas notícias.

mapa anomalia de precipitação; ECMWF
De acordo com as atuais previsões, o cenário mais provável para Portugal continental durante a primeira quinzena de outubro é o de precipitação inferior à média de referência.

O cenário mais provável, à data de hoje, é o de uma precipitação inferior ao normal na primeira quinzena de norte a sul de Portugal continental, com destaque para as regiões a norte do Tejo, em particular Minho, Douro Litoral e parte da Beira Litoral. A Madeira viverá um cenário algo misto (seco na primeira semana, dentro do normal na segunda). Pelo contrário, os Açores registarão um tempo mais chuvoso que o normal na primeira semana e dentro dos valores habituais na segunda.

Para já, uma atenuação substancial da seca nem sequer está em perspetiva para outubro, pois de lés a lés de Portugal continental a chuva estará em níveis inferiores ao que seria normal.

Por outro lado, para a segunda quinzena de outubro prevê-se valores de precipitação em torno da média em praticamente toda a parte continental de Portugal e também em ambos os Arquipélagos. As exceções seriam algumas áreas do Nordeste Transmontano, da Beira Alta, da Região de Coimbra, do litoral alentejano e do Algarve. Esta é, então, uma projeção muito preocupante tendo em conta a atual situação de seca.

Há esperança em que a seca acabe?

Para mitigar - ou até mesmo eliminar - o grande défice hídrico presente em todas as regiões portuguesas (do Continente), seria preciso que uma sequência considerável de temporais atlânticos ou de ventos ábregos nos afetasse, algo que para já não é contemplado pelos mapas.

Mesmo assim, confie-se na mudança das previsões porque isso é algo que normalmente acontece no outono, uma época de grande dinamismo atmosférico. Infelizmente, para já, os cenários projetados pelos modelos não são muito encorajadores.