O jato polar vai confinar o frio às latitudes altas, Alfredo Graça: “outubro não vai começar como muitos esperam”

Nestes próximos dias a corrente de jato polar vai fortalecer-se no Atlântico Norte, onde circularão depressões bastante cavadas nas latitudes altas. Analisamos porque é que isto impedirá a chegada de ar polar ou ártico a Portugal no curto e médio prazo.

A corrente de jato polar está a acelerar nas nossas imediações, o que favorecerá a instalação de um padrão NAO+ a partir deste primeiro fim de semana de outubro e manter-se-á connosco durante vários dias. Tudo isto significa que as depressões circularão sobre latitudes muito altas, enquanto Portugal estará sob a influência de uma massa de ar subtropical associada à crista que nos vai envolver.

O que é o jato polar?
Também é conhecido como corrente de jato ou “jet stream”. É um canal de ventos muito fortes em forma de tubo que corre a cerca de 9-16 km acima da superfície da Terra.

Podemos vê-lo como um rio de ar que flui a velocidades de 100-250 km/h, com milhares de quilómetros de comprimento, mas apenas alguns quilómetros de largura.

A tendência é clara: as temperaturas vão subir de forma generalizada em Portugal, com um estado do tempo estável, embora haja algumas exceções que serão analisadas mais abaixo.

Um jato polar muito forte será favorável à instalação de um padrão NAO+

Como já avançámos anteriormente na Meteored, tudo indica que não será uma situação particularmente persistente, prolongando-se no máximo por uma semana. Depois poderia dar lugar a um padrão de bloqueio, o que tampouco garante uma situação de chuva abundante e generalizada. Porém, é importante recordar que estamos no outono, uma época do ano em que a atmosfera é muito dinâmica, pelo que as tendências de longo prazo são extremamente variáveis.

jato polar
O jato polar vai tornar-se muito intenso sobre o Atlântico Norte, o que resultará na deslocação de depressões nas latitudes altas. Para já, não se vislumbra a chegada de massas de ar frio ao Sudoeste Europeu.

Este padrão de NAO+ provocará um tempo bastante ameno para as datas em grande parte da geografia de Portugal, especialmente nas horas centrais. O cenário mais provável na presente data revela que as temperaturas na próxima semana (6-13 de outubro) estarão entre 1 e 3 ºC acima dos valores médios da normal climatológica de referência em grande parte de Portugal continental.

Não se prevê a chegada de uma massa de ar frio intensa a curto prazo, mas...

Com uma corrente de jato polar tão forte, a depressão Amy, que sofreu um processo de ciclogénese explosiva, e os remanescentes do ex-furacão Humberto e tempestade tropical Imelda que entretanto se transformaram em depressões muito cavadas, deslocar-se-ão sobre latitudes muito altas. Embora outubro seja o primeiro mês verdadeiramente outonal, este panorama será responsável por impedir a chegada de massas de ar polar ou ártico ao Sudoeste Europeu nos próximos dias, confinando o ar frio às latitudes mais setentrionais a partir deste fim de semana.

Mesmo assim, neste fim de semana e em particular no sábado (4) serão sentidos os efeitos indiretos da depressão Amy no litoral Oeste (distritos de Leiria e Lisboa) e em locais montanhosos do extremo norte do Continente (distritos de Vila Real e Bragança), com rajadas de vento localmente fortes (50 km/h), agitação marítima no litoral Norte e Centro (ondas com altura máxima de 5 metros no domingo, 5 de outubro) e uma frente associada a Amy, que gerará períodos de chuva fraca, ou aguaceiros pontuais no Minho e Douro Litoral (distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto).

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Além disto, o ar polar arrastado pela movimentação da depressão Amy far-se-á sentir nas regiões do Interior e também mais a sul, provocando uma descida temporária e acentuada das temperaturas no sábado (4). Porém, esse arrefecimento será efémero uma vez que os nossos mapas mostram nova subida das temperaturas logo para o dia seguinte: domingo, 5 de outubro.

A próxima semana vai começar com temperaturas invulgarmente elevadas para a época do ano em quase todo o território de Portugal continental, com anomalias mais acentuadas previstas para o interior Norte e Centro.

Por conseguinte, por enquanto, não há perspetivas quanto à chegada de uma massa de ar frio intensa a Portugal neste arranque de outubro. Não obstante, alguns cenários do conjunto de cenários do ECMWF, modelo de confiança da Meteored, não excluem a possibilidade de, a meio ou no final da próxima semana, se desenvolver uma depressão isolada em altitude (ou gota fria) a oeste de Portugal continental. Se tal se confirmar, os seus efeitos poderão ser radicalmente diferentes na nossa geografia, conforme a sua trajetória e posição.