O especialista Alfredo Graça avisa: “em breve, uma mudança radical do tempo acabará com o calor canicular em Portugal”

Ao longo dos próximos dias, a corrente de jato polar continuará a intensificar-se no Atlântico Norte, o que se traduzirá na circulação de depressões nas latitudes altas. Como já explicámos anteriormente na Meteored, isto será favorável à subida em latitude de uma massa de ar extraordinariamente quente para a época do ano, que envolverá Portugal continental durante grande parte desta terceira semana de setembro, deixando temperaturas diurnas de pleno verão em vastas zonas do país, sobretudo no Interior.

Hoje, o IPMA confirmou a ocorrência deste episódio de temperaturas elevadas para quase um terço da geografia do território continental, ao já ter procedido à ativação do aviso amarelo de tempo quente em 5 distritos e na Costa Sul da Madeira.

É possível que nos próximos dias, caso o cenário atualmente apresentado pelos mapas de referência da Meteored se concretize, o aviso amarelo por persistência de valores elevados da temperatura máxima seja alargado, não só em termos temporais (mais além de quarta-feira, dia 17), como também em termos geográficos (mais distritos poderiam eventualmente ser cobertos por este aviso).

Calor excessivo para a época em boa parte de Portugal

De acordo com o nosso modelo de confiança (ECMWF), até domingo (21) as temperaturas estarão entre 3 e 6 ºC acima da média para estas datas em todas as regiões do Interior de Portugal continental. Portanto, estamos perante um episódio de temperaturas bastante elevadas e anómalas para meados de setembro.

Por outro lado, na faixa costeira ocidental, no arquipélago da Madeira e no Grupo Oriental dos Açores as anomalias térmicas positivas serão mais moderadas devido ao efeito termorregulador do mar, mas as temperaturas continuarão a ser 0 a 1 ºC superiores aos valores médios de referência. Nalgumas zonas do litoral (por exemplo litoral Norte) e no Grupo Central dos Açores as temperaturas estarão dentro da média.

Por fim, somente para as ilhas do Corvo e das Flores é que é expectável uma anomalia térmica negativa (-1 ºC). Nos próximos dias, cidades como Évora e Beja irão registar temperaturas próximas aos 40 ºC, enquanto que nos principais vales (Mondego, Tejo, Sado e Guadiana) se situarão em torno ou acima dos 35 ºC, valores mais típicos da canícula.

Apesar da tendência de subida das temperaturas noturnas, já será possível sentir que estamos em meados de setembro em várias regiões do país, especialmente nas do litoral, sendo que em algumas capitais de distrito, como Viana do Castelo, Braga e Leiria as temperaturas descerão até aos 10/11 ºC em algumas noites.

Isto contrastará com o panorama previsto para a Beira Baixa, Alto e Baixo Alentejo, Algarve e Madeira, onde as temperaturas não descerão abaixo dos 20 ºC em muitas cidades e localidades, pelo que em pleno setembro, já na segunda quinzena, estaremos na iminência de registar noites tropicais.

Quanto à chuva, tanto em Portugal continental como no arquipélago da Madeira, prevê-se um estado de tempo completamente livre de precipitação, apresentando-se estável, seco e maioritariamente soalheiro, pelo menos até sexta-feira, 19 de setembro. A única unidade territorial portuguesa onde se prevê chuva significativa ao longo desta semana é o arquipélago dos Açores, que viverá períodos ocasionais de chuva fraca a moderada e aguaceiros.

Para o fim de semana, a incerteza na precipitação aumenta consideravelmente devido à possível mudança que a maioria dos modelos prevê, que poderá trazer uma descida acentuada das temperaturas e chuva mais intensa e espalhada por mais regiões.

Na reta final da semana poderá ocorrer uma mudança significativa no estado do tempo

Os mapas mostram que o padrão NAO+, com as depressões a circularem muito a norte, longe de Portugal, poderá dar lugar a um padrão de crista atlântica ou de bloqueio. Isto significa que é provável que a corrente de jato polar volte a apresentar ondulações mais pronunciadas e a maioria dos cenários indica agora que, a partir de sexta-feira, 19 de setembro, o anticiclone ficará orientado de sul para norte no Atlântico, apontando em direção à Islândia.

Esta configuração sinóptica seria então favorável ao desprendimento de um vale depressionário considerável sobre a Europa, cujos efeitos se poderiam fazer sentir também em Portugal continental. Tudo indica que chegarão massas de ar mais frias, que resultariam numa descida significativa das temperaturas, com ventos do quadrante Norte. Vai ser preciso monitorizar a evolução deste desprendimento, uma vez que os modelos projetam várias possibilidades.

Uma delas é que o vale depressionário se solte e se isole do jato polar, formando uma depressão isolada em altitude ou gota fria que provocaria um episódio significativo de instabilidade atmosférica. Também não deve ser excluída uma situação de arrefecimento, com chuva escassa. O que se torna cada vez mais claro é que o início do outono astronómico (equinócio a 22 de setembro) trará novos desenvolvimentos para a meteorologia.