Alfredo Graça revela as primeiras tendências do verão 2025 em Portugal: estes podem ser os fenómenos mais adversos

Arrancou neste 1º de junho, Dia da Criança, o verão climatológico em Portugal. O modelo de referência da Meteored atualizou a previsão do tempo para os próximos meses no nosso país. Saiba as probabilidades de ondas de calor e de fortes trovoadas!

Mapa de anomalia térmica da próxima segunda-feira, 2 de junho, às 16:00. As temperaturas baixaram, mas mantêm-se acima da média no período diurno em praticamente toda a geografia continental.

A primavera climatológica já lá vai, sendo que em quase toda a geografia de Portugal continental esta reta final de maio, sobretudo desde quarta-feira, 28 de maio, o estado do tempo apresentou-se excessivamente quente para estas datas. As anomalias térmicas foram impressionantes e chegaram mesmo a ser registadas temperaturas máximas até 18 ºC acima da normal climatológica de referência.

Quanto à precipitação, a mesma foi historicamente abundante nos últimos 4 a 5 meses, o que é imensamente benéfico para campos, culturas agrícolas, recursos hídricos (albufeiras, barragens e redes de abastecimento para consumo próprio) e até mesmo para usos úteis e funcionais da sociedade no quotidiano. Deste modo, a chuva caída em 2025, e no conjunto do ano hidrológico (que inicia a 1 de outubro), ajudará a enfrentar tranquilamente a estação estival (ou verão) de 2025.

Onde costumam ser registadas as temperaturas mais elevadas e onde é que chove mais?

O verão climatológico é caracterizado pelo calor e pela estabilidade meteorológica, mas existem algumas nuances. Nos meses de junho, julho e agosto, as temperaturas máximas médias variam entre 30 e 35 ºC em algumas zonas do vale do Guadiana e do Sotavento Algarvio. Os distritos mais quentes na estação estival são: Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja, seguidos por Santarém e algumas zonas dos distritos de Faro e Setúbal.

Para a disciplina científica da Climatologia, o verão compreende o período que se estende de 1 de junho a 31 de agosto. Todos estes meses têm em comum as temperaturas elevadas e a precipitação escassa em todo o território de Portugal.

As noites tropicais são um dos fenómenos mais incómodos em determinadas regiões da nossa geografia e, além disso, têm vindo a aumentar de forma exponencial nos últimos anos. Concentram-se principalmente no Alentejo, no Algarve, nos vales do Tejo, Sado, Guadiana e Douro e também em pontos dos Açores e Madeira.

Somente no Litoral Norte, Centro e Oeste e nalgumas outras zonas de alta montanha das Regiões Norte e Centro é que os meses de verão são termicamente agradáveis.

No caso das regiões do litoral tal facto se deve, naturalmente, ao anticiclone dos Açores, ao vento Norte (nortada), ao nevoeiro de advecção que surge muitas vezes nas manhãs de julho e agosto e às brisas marítimas que sopram do Atlântico e suavizam o calor intenso.

O verão é a estação mais seca do ano, mas por vezes ocorrem exceções

Na Região Norte (distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança) a precipitação de verão é mais volumosa nos meses de junho (até 30 mm no total mensal, por vezes ligeiramente acima disso), sendo claramente inferior a 20 mm, tanto no mês de julho, como no mês de agosto, na maioria dos distritos nortenhos referidos.

As chuvas são normalmente muito escassas no verão em Portugal. Mas ainda mais nas regiões localizadas a sul do rio Tejo. Na época estival a precipitação é muito temida por quem vive para a Agricultura: as tempestades de granizo podem ser catastróficas para os campos, uma verdadeira “lotaria do inferno”.

Aveiro, Viseu e Guarda pertencem à Região Centro, mas, de acordo com a normal climatológica 1991-2020 recentemente divulgada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), os valores mensais de precipitação total para o verão (junho, julho e agosto) nestes três distritos descreve, de um modo geral, uma tendência de pluviosidade acumulada por mês, muito semelhante à da Região Norte.

trovoada verão Portugal
As trovoadas de verão em Portugal são um fenómeno ocasional, potencialmente causador de inúmeros prejuízos nos campos e culturas agrícolas, mas protagonistas de grandes "shows" meteorológicos, especialmente apaixonantes para os amantes do Tempo e Clima.

Do rio Mondego para sul, mas sobretudo do rio Tejo para Sul - até ao Algarve, os valores de precipitação acumulada nos meses de junho, julho e agosto baixam drasticamente, o que revela o facto de serem regiões com clima temperado mediterrâneo e que estão, muitas vezes, brutalmente expostas à possibilidade de uma enorme escassez hídrica. Deste modo, os verões nestas regiões devem ser preparados, geridos e encarados com muita cautela.

No entanto, é preciso salientar que, uma única tempestade intensa de verão pode “virar do avesso” o balanço pluviométrico de toda a estação estival. No trimestre veranil, é mais frequente a ocorrência de precipitação do tipo convectivo, associada à sobreposição de vales depressionários ou gotas frias, de carácter local ou irregular, e que por vezes deixam grandes acumulações de água num período de tempo muito curto. Em agosto, sobretudo a partir da segunda quinzena do mês, a precipitação pode, por vezes, surgir com alguma frequência.

Temperaturas previstas: um verão de calor extremo ou suportável?

No que diz respeito às temperaturas, até à data, não se vislumbram surpresas. É muito provável que o verão seja mais quente do que o habitual em grande parte da Europa, incluindo Portugal continental e as suas 2 Regiões Autónomas (Açores e Madeira).

Em Portugal, esta probabilidade é mais elevada no arquipélago da Madeira (70-100%); sendo 50 a 70% nos Açores e em quase toda a geografia de Portugal continental. A probabilidade de que seja um verão mais quente que o habitual rondará os 30-40% nas zonas orientais/fronteiriças dos distritos de Portalegre, Évora e Beja.

O mapa concebido no Departamento de Meteorologia da Meteored e combinado com dados baseados no modelo ECMWF perspetiva um julho ligeiramente mais quente do que o normal numa vasta extensão da geografia de Portugal continental.

Isto não significa que seja o verão mais quente desde que há registos no nosso país. Embora a fiabilidade destas previsões seja reduzida, as anomalias de calor mais significativas importantes concentrar-se-iam no extremo noroeste da Península Ibérica (Galiza), no sul de Itália, na Grécia e nos Balcãs. No resto da Europa a probabilidade parece apresentar quase a mesma percentagem (50-70%).

No que concerne à ocorrência de ondas de calor, é absoluta ficção científica afirmar o que quer que seja nesta fase, uma vez que estes fenómenos só podem ser previstos com alguns dias de antecedência. Se a tendência observada nos últimos anos se mantiver, é provável que pelo menos uma onda de calor ocorra.

Quanto à chuva, será expectável um verão muito tempestuoso em Portugal?

Vale a pena recordar que, em Portugal, a precipitação média do verão não é um bom indicador devido à sua irregularidade em intensidade e em distribuição geográfica, bem como ao facto de ser tendencialmente menos volumosa nas regiões situadas a sul do rio Tejo.

A exceção são algumas serras e montanhas das Regiões Norte e Centro, bem como algumas zonas de litoral/vales e quiçá planícies, mas de forma mais pontual. A tudo isto é preciso ter em conta a possibilidade de uma temperatura da superfície do mar mais quente (calor oceânico emanado do Atlântico), bem como de uma atmosfera, também ela global ou localmente mais quente.

Como seria de esperar tendo em conta os dados climatológicos, o verão em grande parte da Europa, incluindo a Península Ibérica, é tendencialmente seco e este ano não parece que será uma exceção. No entanto, recordemos que na Meteorologia, há sempre espaço para surpresas.

De momento, não se observam tendências significativas nos Açores e na Madeira (regiões autónomas insulares portuguesas manchadas a branco na cartografia sinóptica).

Na unidade territorial do Continente, os mapas sugerem anomalias de precipitação ligeiramente negativas (tempo algo mais seco do que o normal), com as baixas pressões (ou depressões) a circularem muito a norte da Europa, o que é perfeitamente habitual no verão.

Mas lembre-se do que foi dito anteriormente: uma única tempestade forte (aguaceiros, trovoada e granizo) pode alterar consideravelmente a precipitação da estação estival.