Portugal com 93% da capacidade de armazenamento nas barragens, mas há exceções preocupantes

Volume total de água armazenada em Portugal Continental continua acima da média para o mês de maio. Ainda assim, algumas bacias no Sul do país apresentam níveis críticos, exigindo atenção à gestão local.

Boletim de Albufeiras da APA relatório semanal de maio de 2025
No final de maio de 2025, um nível médio de armazenamento de 93% da capacidade total foi registado em Portugal Continental, conforme os dados mais recentes do Boletim de Albufeiras da APA.

As barragens em Portugal Continental registam, no final de maio de 2025, um nível médio de armazenamento de 93% da sua capacidade total, segundo os dados mais recentes do Boletim de Albufeiras da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Esta percentagem representa um volume total de 12.422 hectómetros cúbicos (hm³) de água, num universo de 13.299 hm³ de capacidade máxima.

Armazenamento confortável, mas com assimetrias regionais

O valor representa uma ligeira descida face à semana anterior, em que se registavam 12.437 hm³, mas permanece bem acima da média histórica para o mês de maio, com exceção de algumas regiões específicas do Sul.

A análise à evolução semanal mostra um comportamento assimétrico nas bacias hidrográficas: oito registaram aumentos de volume armazenado, enquanto sete sofreram descidas. Já na última semana do mês, entre 19 e 26 de maio, apenas duas bacias aumentaram o volume armazenado, ao passo que treze apresentaram descidas.

O relatório da APA indica que, de forma geral, os armazenamentos estão acima das médias mensais históricas (referência: 1990/91 a 2023/24). No entanto, duas bacias destacam-se negativamente por continuarem abaixo dessas médias: Mira e Ribeiras do Barlavento, ambas no Sul do país.

A situação mais preocupante continua a ser a da barragem de Beliche, inserida na bacia hidrográfica das Ribeiras do Sotavento, no Algarve, que se encontra com apenas 9% da sua capacidade total de armazenamento. Esta albufeira é essencial para abastecimento público e rega, e permanece em níveis críticos, não apresentando evolução significativa nas últimas semanas.

Boletim Semanal das Albufeiras e o estado das barragens
Relatório da APA aponta para um bom saldo das bacias hidrográficas, embora persistam níveis de armazenamento abaixo das médias no Sul do país. Fonte: Boletim Semanal das Albufeiras, SNIRH, APA.

Outro caso que merece atenção é o da barragem de Monta da Rocha, na bacia do Sado, que mantém uma capacidade de apenas 38%. Também aqui, o nível de água se manteve estável desde o último boletim, não evidenciando melhorias.

Apesar destes casos específicos, os dados globais são positivos: 84% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do seu volume total. Estes valores são especialmente importantes num contexto de crescente instabilidade climática e seca sazonal.

A região do Algarve, historicamente vulnerável à escassez hídrica, apresenta este ano um panorama misto. Para além de Beliche, a barragem de Odeleite destaca-se com 97% da sua capacidade, refletindo uma situação confortável. Também as albufeiras de Odelouca (92%), Funcho (83%) e Arade (71%) se mantêm em níveis positivos, apesar de ligeiras oscilações semanais.

Na bacia das Ribeiras do Barlavento, a barragem da Bravura encontra-se com 61% da sua capacidade, uma melhoria face a anos anteriores, embora ainda aquém do desejável face à pressão agrícola.

Vigilância reforçada e planeamento estratégico são fundamentais

As oscilações semanais nos volumes armazenados refletem a dependência do regime de precipitação e o uso intensivo dos recursos hídricos, especialmente em setores como a agricultura e o turismo. De 19 a 26 de maio, 13 bacias hidrográficas registaram decréscimos no volume de água armazenado, demonstrando que a situação, embora confortável no plano nacional, pode alterar-se rapidamente.

A manutenção de níveis elevados em maio tem sido facilitada por uma primavera húmida, mas não garante reservas suficientes para os meses de verão, em que o consumo aumenta substancialmente e a precipitação tende a escassear.

A situação atual vem confirmar a importância do planeamento hídrico regional, sobretudo para enfrentar desigualdades persistentes no território. As discrepâncias entre o Norte e o Sul do país, e mesmo entre bacias vizinhas, evidenciam que os desafios da gestão da água vão muito além da média nacional.

A modernização dos sistemas de rega, a reutilização de águas residuais tratadas e a monitorização constante dos níveis de armazenamento são medidas já reconhecidas como essenciais. No entanto, os investimentos e medidas de adaptação à escassez ainda enfrentam barreiras orçamentais, legais e técnicas.

Portugal entra no verão de 2025 com níveis globais de água confortáveis, mas com situações críticas localizadas que não devem ser ignoradas. A dependência de fatores meteorológicos e a pressão crescente sobre os recursos hídricos impõem uma gestão rigorosa e antecipatória, especialmente nas bacias com valores persistentemente baixos.