Os oceanos estão em risco? Especialistas desmistificam a possibilidade de ebulição

A ideia de oceanos ebulirem parece saído de um filme de ficção científica. Os especialistas também afirmam que, mesmo com o uso atual dos combustíveis fósseis, o planeta Terra não atingiria temperaturas a ponto de ebulir os oceanos. Saiba mais aqui!

oceanos; aquecimento global
Cientistas desmistificam agora a possibilidade de ebulição dos oceanos graças ao aquecimento global.

No cenário atual, apesar das práticas assentes na utilização de combustíveis fósseis pelo ser humano, a ideia de que os oceanos do planeta Terra podem evaporar parece mais um enredo de ficção científica do que uma ameaça real.

Além disso, os especialistas afirmam que ao utilizarmos todas as reservas conhecidas de combustíveis fósseis não seria suficiente para levar a Terra a tal extremo. No entanto, a preocupação com o aumento da temperatura e dos seus efeitos sobre os oceanos permanece.

A Terra e os oceanos: o equilíbrio delicado diante do aquecimento global

O climatólogo Zeke Hausfather, da ONG Berkeley Earth, esclarece que, mesmo diante do aumento dos gases com efeito de estufa (GEE), a Terra não atingiria temperaturas extremas a ponto de ebulir os seus vastos oceanos.

Hausfather destaca que, embora a superfície dos oceanos absorva quase 93% do calor extra gerado pela captura de energia do Sol na atmosfera, existem limites para este fenómeno.

A água, mais densa do que o ar, pode absorver uma quantidade assinalável de calor, especialmente nos 2,5 metros superiores, retendo a mesma quantidade de calor que toda a manta de atmosfera acima dela. Este calor mistura-se lentamente nos 100 metros superiores de água, designada por “camada mista”, sendo responsável pelo prolongamento do tempo necessário para atingir as camadas mais profundas.

No entanto, as observações recentes indicam um aumento nas temperaturas mesmo nas regiões mais profundas, despertando preocupações sobre o impacte contínuo do aquecimento global nos oceanos.

Voltamos atrás. Teoricamente, os oceanos do planeta podem atingir temperaturas elevadas o suficiente para iniciar o processo de ebulição. Enquanto a água se aquece, as moléculas começam a vaporizar da superfície do oceano, criando um ciclo de resposta que contribui para o aumento do efeito de estufa.

Embora o planeta Vénus, por exemplo, tenha vivenciado algo semelhante no passado, as condições necessárias para tal fenómeno no nosso planeta são consideravelmente mais extremas, exigindo níveis de dióxido de carbono (CO₂) dez vezes superiores ao que poderia ser emitido ao utilizar todas as reservas conhecidas de combustíveis fósseis.

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Colin Goldblatt e os seus colaboradores, da Universidade de Victoria, num estudo de 2013, publicado na Nature Geoscience, sugeriram que para induzir um efeito de estufa “descontrolado”, seria necessário um aumento substancial de CO₂ na atmosfera, um cenário altamente improvável pela observação das atuais práticas antrópicas.

Além do ser humano: os desafios naturais que aguardam os oceanos num futuro distante

Além das atividades humanas, outros fatores naturais também podem impactar os oceanos. O Sol, eventualmente, chegará ao fim da sua vida, expandindo-se para fora como uma estrela vermelha gigante. Tais proposições são assinaladas pelo astrónomo Robert Smith, da Universidade de Sussex, que prevê, aliás, que nos próximos 7 mil milhões de anos, a temperatura da superfície da Terra irá sofrer um aumento gradual.

Em 2008, Smith e a sua equipa calcularam o possível destino da Terra, incluindo a vaporização dos oceanos. No entanto, a incerteza persiste sobre quando ocorrerá o evento responsável por esta alteração, com estimativas apontando para aproximadamente mil milhões de anos. Tais perspetivas, patenteiam que será muito depois de a Humanidade ter deixado de adicionar GEE à atmosfera.

De facto, embora a ebulição dos oceanos permaneça como uma preocupação remota, outros desafios relacionados com o aquecimento global, como o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e os eventos climáticos extremos, estão já a afetar vastas áreas do globo.


Referência da notícia
Goldblatt, C., Robinson, T., Zahnle, K. et al. Low simulated radiation limit for runaway greenhouse climates. Nature Geosci 6, 661–667 (2013).