Mudanças do ciclo solar afetam as variações do estado do tempo

A comunidade científica apresentou no último mês alguns estudos que mostram a correlação entre o fim dos ciclos solares e uma mudança dos estados do tempo associados aos fenómenos El Niño e La Niña. Fique a saber tudo sobre estas descobertas, connosco!

Superfície do Sol com erupções solares.
O Sol tem um papel fulcral na vida do Planeta Terra. Sem o seu poder, era impossível a subsistência da vida humana.

A variabilidade solar pode impulsionar a variabilidade climática sazonal, no Oceano Pacífico e em todo o Planeta Terra. Esta afirmação está incluída num estudo publicado na revista cientifica Earth and Space Science, realizado por investigadores de algumas entidades como a Universidade de Maryland – Condado de Baltimore (UMBS), o Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR, na sigla em inglês) e a NASA. Desta forma, poderá ser possível melhorar significativamente a qualidade das previsões do estado do tempo em particular dos que estão associados aos fenómenos El Niño e La Niña.

(...) estando desta forma aberto o caminho para novos estudos, ainda mais robustos, de forma a melhorar a capacidade de prever eventos tão relevantes como o El Niño e a La Niña.

Estes dois fenómenos são capazes de uma série de efeitos climáticos sazonais, principalmente nas áreas banhadas pelo Oceano Pacífico, ou seja, durante um La Niña, as regiões mais a Sul do Estados Unidos da América (EUA) tendem a ser mais quentes e secas. Em oposição, as regiões do Norte dos EUA tendem a ser mais frias e húmidas. Já no Hemisfério Sul, este fenómeno é responsável por verões mais frios e invernos mais secos nos territórios mais a Sudeste do Brasil, por exemplo.

O investigador Scott McIntosh, do NCAR e coautor deste artigo cientifico (coordenado por Robert Leamon, da UMBS) afirmou que “a energia do Sol é o principal impulsionador de todo o nosso sistema terrestre e torna possível a vida na Terra”. Salientou ainda que “(…) a comunidade científica não tinha a certeza do papel que a variabilidade solar desempenhava na influência do estado do tempo e dos eventos climáticos”. Tudo leva a crer que desempenha um papel fulcral, que ainda não tinha sido estudado de uma forma tão aprofundada.

Será altura de aplicar um novo relógio solar?

Ao longo dos anos, a emissão de radiação solar sofreu sempre alterações visíveis, associados ao aparecimento e desaparecimento de manchas no Sol, situação que foi registada durante centenas de anos. O aumento e a diminuição do número de manchas decorrem ao longo de ciclos que se acreditava durarem aproximadamente 11 anos, sendo que era impossível determinar com exatidão o preciso momento de início e fim de ciclo. Esta imprecisão levou a que a comunidade cientifica tivesse sempre dificuldades em relacionar as mudanças de ciclo com os fenómenos que ocorriam no planeta Terra.

Neste estudo, agora elaborado, os autores apontam para ciclos um pouco mais longos: 22 anos! Esta duração está associada a uma análise mais precisa ao ciclo de polaridade magnética do Sol. Um ciclo de 22 anos inicia-se quando bandas magnéticas de carga oposta que envolvem o Sol aparecem nas latitudes polares desta estrela. Enquanto o ciclo se desenvolve estas bandas migram pelas latitudes médias em direção ao equador. Um ciclo chega ao fim quando as bandas se encontram na área equatorial da estrela, aniquilando-se mutuamente. A isto, os cientistas chamam evento terminator.

Os investigadores sobrepuseram os dados dos eventos terminator com as temperaturas da água do Oceano Pacífico, desde 1960. Assim, descobriram que os cinco eventos terminator que decorreram até à época 2010/11 coincidiram de forma consistente com transições entre um El Niño (quando as temperaturas da água do mar à superfície são mais quentes do que a média) para uma La Niña (quando as temperaturas da água do mar à superfície são mais frias do que a média). Prevê-se que o fim do ciclo que decorre atualmente também vai coincidir com o início do um evento La Niña.

A análise dos dados estatísticos permitiu compreender que é muito pouco provável que esta correlação seja mero acaso, estando desta forma aberto o caminho para novos estudos, ainda mais robustos, de forma a melhorar a capacidade de prever eventos tão relevantes como o El Niño e a La Niña.