Glaciares derretem mais rápido no oceano do que o imaginado, revela estudo

Estudo a glaciar na Gronelândia revela uma alarmante preocupação, a de que os glaciares derretem a uma velocidade muito mais rápida no oceano do que anteriormente se supunha. Conheça aqui os detalhes!

glaciar gronelândia
Imagem aérea dos lagos de água derretida que se formam na superfície do glaciar Petermann, na Gronelândia.

A Gronelândia é a maior ilha do planeta, normalmente congelada, mas, com as temperaturas no norte terrestre a registarem subidas cada mais rápidas do que em outras regiões, as suas enormes camadas de gelo estão a derreter-se a uma velocidade alarmante.

A perda de gelo polar na Gronelândia e na Antártida quintuplicou desde a década de 1990 e é responsável por um quarto do aumento do nível dos mares, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). A ESA afirma que a Gronelândia e a Antártida perderam 7,56 trilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2020, tendo o degelo atingido o pico em 2019 com a perda de 612 bilhões de toneladas, em parte impulsionada por uma onda de calor no Ártico.

Este fenómeno está a intrigar a comunidade científica, em especial o rápido derretimento do glaciar Petermann, na Gronelândia, na última década e meia. Este glaciar, situado no noroeste da ilha, tem cerca de 70 quilómetros de comprimento, 15 quilómetros de largura e uma espessura que varia entre os cerca de 600 metros, a cerca de 30 a 80 metros no aterramento final.

A preocupação pelo seu derretimento acelerado levou um conjunto de investigadores a explorar as causas subjacentes, concentrando-se particularmente na intrusão de água quente do oceano sob esta grande camada de gelo.

O trabalho desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade da Califórnia, Irvine (UCI), em colaboração com o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que permitiu realizar o primeiro estudo de observação e modelação em grande escala a este enorme glaciar.

O objetivo passa por esclarecer quais são as implicações potenciais do derretimento do gelo. A análise computacional por modelação mostrou um resultado preocupante: o potencial aumento do nível do mar será muito pior do que o estimado anteriormente.

As implicações da subida do nível do mar poderão afetar o mundo de forma visível, conduzindo, por exemplo, a inundações, colocando especialmente em perigo os meios de subsistência nas zonas costeiras. Desde 1992 o degelo polar causou um aumento de 2,1 centímetros no nível médio global dos mares e oceanos.

O impacto das alterações climáticas no gelo, na água do mar e na terra

A equipa de investigadores utilizou dados de interferometria de radar de várias missões de satélites europeus para mapear o movimento das marés do glaciar Petermann. Além dos dados de satélite, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu um modelo de cálculo geral para avaliar o impacto das alterações climáticas num ambiente complexo com gelo, água do mar e terra.

O modelo monitoriza a interação entre estes três elementos, desde a influência das marés até aos aumentos de temperatura provocados pelas alterações climáticas. Através dos dados de satélite e da conjunção do modelo, a equipa descobriu que os glaciares se deslocaram vários quilómetros (milhares de pés) juntamente com a mudança das marés.


“Durante muito tempo, pensamos que a fronteira de transição entre o gelo e o oceano era nítida, mas não é, e na verdade ela difunde-se por uma zona muito ampla, a «zona de aterramento», que tem vários quilómetros de largura. A água do mar sobe e desce com as mudanças nas marés oceânicas naquela zona e derrete vigorosamente o gelo subterrâneo”.

Eric Rignot, professor da UCI e coautor do estudo

O modelo revelou taxas de fusão exorbitantemente altas perto da boca da cavidade da zona de aterramento e maiores do que em qualquer outro lugar na cavidade da plataforma de gelo. A água mais quente e a maior intrusão de água do mar sob o gelo são a razão pela qual o gelo está a diminuir ao longo da linha de fluxo central do glaciar Petermann.

A imagem mostra uma parte do glaciar Petermann, no noroeste da Gronelândia.

Acontece que esta zona de aterramento contribui significativamente para o derretimento acelerado do gelo. Os investigadores observaram um afinamento de quase 40 metros ao avaliar através do modelo numérico, observando apenas a temperatura mais quente do oceano.

Noutra avaliação, notaram um aumento na cavidade da zona de aterramento de dois para seis quilómetros, que eventualmente cresceu para 140 metros, nas duas primeiras décadas do século, e ainda que, em média, a taxa de derretimento aumentou de cerca de 3 metros por ano na década de 1990, para 10 metros por ano na década de 2020.

“Estes resultados de modelação concluem que as mudanças nos comprimentos das zonas de aterramento aumentam o derretimento de forma mais significativa do que apenas as temperaturas mais quentes do oceano”.

Ratnakar Gadi, investigador da UCI e autor principal do estudo.

Assim, quando o gelo da zona de aterramento derrete, reduz a resistência que os glaciares enfrentam à medida que se movem em direção ao oceano, fazendo com que recuem mais rapidamente. Isto é imperativo para prever a subida do nível do mar no futuro.

Os resultados publicados neste artigo têm implicações importantes para a modelação do manto de gelo e para as projeções do aumento do nível do mar. Estudos anteriores já indicavam que a inclusão do derretimento na zona de aterramento duplicaria as projeções de perda de massa glacial, o que este estudo confirma. O temor é real, os glaciares derretem muito mais rápido no oceano do que se supunha anteriormente!

Referência da notícia:

Gaudi, R., Rignot, E., Menemenlis, D. (2023). Modeling Ice Melt Rates From Seawater Intrusions in the Grounding Zone of Petermann Gletscher, Greenland. Geophysical Research Letters.