O que aconteceria se todo o gelo dos pólos e os glaciares do mundo derretessem?

O aumento sustentado e acelerado da temperatura global, tanto no ar como no mar, está a acelerar o degelo da criosfera. Quanto é que o nível do mar subiria se todo o gelo da Terra derretesse?

degelo
Gelo a flutuar na água na Islândia.

Quanta água existe na Terra? O planeta contém cerca de 1,4 mil milhões de km³ de água. Cerca de 97% desta água está nos oceanos e 2% está congelada. Apenas o restante está em rios, lagos, redes subterrâneas, e afins.

Devido ao aumento sustentado e acelerado da temperatura média do planeta, tanto no ar como nos oceanos, parte da criosfera (zonas terrestres e marítimas com neve ou gelo) está a derreter rapidamente.

"Se assumirmos 1,5 °C (em comparação com a era pré-industrial), é provável que percamos irrevogavelmente as camadas de gelo. Se estas desaparecerem, o nível do mar em todo o planeta aumentará 10 metros."

Simon Stiell, Secretário Executivo para as Alterações Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

O problema é que, se continuarmos como até então os especialistas prevêem que a temperatura média no mundo aumentará pelo menos 3°C em comparação com a média registada antes da revolução industrial.

O que é que acontece quando tudo derreter?

Quando as previsões meteorológicas estão sobre a mesa, surge imediatamente a questão: o que aconteceria se todo o gelo dos pólos e dos glaciares se fundisse?

"Se todo o gelo que faz parte da criosfera do planeta derretesse, o nível do mar subiria, em média, 70 metros em todo o mundo", alerta Raúl Cordero, climatologista da Universidade de Santiago (Usach) e diretor do grupo científico @Antarcticacl.

E acrescenta que "felizmente, isto não é algo que aconteça de um dia para o outro, essa é a boa notícia. A má notícia é que este processo já está em curso."

pinguim
Se continuarmos nesta via do aquecimento global, um dia deixaremos de ver pinguins no gelo da Antártida.

A Antártida perde cerca de 150 mil milhões de toneladas de gelo todos os anos. Entretanto, os campos de gelo da Patagónia perdem cerca de 18 mil milhões de toneladas de gelo por ano.

Aumento do nível do mar

Devido ao rápido degelo de parte da criosfera, o nível do mar está a subir 3,5 milímetros por ano. "O problema é que este ritmo está a acelerar. Na melhor das hipóteses, prevê-se mesmo que o nível do mar suba vários metros até ao final do século, em comparação com os níveis atuais. Eu insisto no melhor cenário possível", diz Cordero.

O nível do mar está a subir em todo o mundo, mas não de forma homogénea. Tende a subir mais nos trópicos do que nos pólos.

"O degelo polar é o maior contribuinte para a subida do nível do mar, mas quando os pólos perdem massa, perdem também a sua atração gravitacional. Isto significa que a água tende a concentrar-se na direção do equador, pelo que o nível do mar sobe mais rapidamente nas costas tropicais", afirma o investigador.

Esta diferença, segundo o climatologista do Usach, é ilustrada pelos seguintes dados. Em Punta Arenas (o ponto mais meridional do Chile), o nível do mar sobe 2 milímetros por ano, enquanto em Arica (o ponto mais setentrional do Chile) sobe quase 3 milímetros por ano, ou seja, mais 50%.

Embora o nível do mar suba apenas alguns milímetros por ano, o risco de inundações costeiras não permanentes aumenta quando as marés sobem.

"Nos últimos 25 anos, o nível do mar subiu, em média, cerca de 10 centímetros, o que é particularmente significativo durante os fenómenos extremos", afirma Raúl Cordero.

Pólo Sul vs. Pólo Norte

A subida do nível do mar não é igual entre o Pólo Norte e o Pólo Sul. O que contribui para a subida do nível do mar é o degelo na superfície terrestre, como no continente antártico ou nos glaciares das montanhas dos outros continentes, como na Gronelândia ou nos campos de gelo da Patagónia.

Porquê? Porque o Ártico é gelo marinho, o que significa que é água congelada flutuante. O mesmo se aplica aos blocos de gelo (icebergues) que já estão a "flutuar" nos oceanos.

glaciar
O derretimento dos glaciares, o gelo nos continentes, é, em última análise, o que cria o abastecimento de água para a subida do nível do mar.

Naturalmente, é catastrófico que todos os anos uma área mais pequena do Pólo Norte fique congelada, pelo que se estima que em 2030 já quase não haverá gelo no Ártico durante os Verões setentrionais. Este é outro problema de grande magnitude, mas aqui centramo-nos apenas na contribuição para a subida do nível do mar.

Porquê? Porque a água já lá está, apenas em estados diferentes (líquido e sólido). Por exemplo, coloque um copo com gelo e água. Deixa o gelo derreter e vê se o copo transborda quando está completamente coberto. O que é que aconteceu? O nível não subiu, porque o volume de água é o mesmo, apenas a parte sólida se tornou líquida.