O ano de 2022 marcou uma nova era... na velocidade a que se está a perder glaciares!

Os glaciares do continente europeu são dos que mais sofrem com as alterações climáticas e com os seus crescentes efeitos. Fique a saber mais sobre este assunto, aqui!

Glaciar
O Glaciar de Aletsch é um dos muito exemplares nos Alpes que têm visto a sua paisagem mudar significativamente.

A perda de massa dos glaciares alpinos conheceu um novo capítulo sombrio, principalmente a partir do último ano (2022). Todo o complexo sistema de glaciares sofreu perdas significativas, que se tornaram mais relevantes a partir dos 3000 metros de altitude.

Um estudo recentemente publicado pelo Jornal da Universidade de Cambridge afirma que na época de 2021/2022, alguns glaciares alpinos, principalmente junto ao Monte Branco perderam mais de 3,5 metros de altura de gelo, quando nos 9 anos anteriores não tinham sido registadas alterações significativas nestas áreas.

A médio e a longo prazo, o degelo dos glaciares pode ter consequências relacionadas com o nível dos oceanos (...)

Esta informação expõe o facto de que os glaciares de altitude, um pouco por todo o mundo, que se mantiveram relativamente estáveis em termos de massa, estão agora a responder aos impactes das alterações climáticas. As principais causas desta situação estão relacionadas com as anomalias que se registam tanto do ponto de vista das temperaturas, como do ponto de vista da precipitação, ao longo de todo o ano meteorológico.

O albedo é o poder refletivo de um objeto sem luz própria, como um planeta ou uma lua ou até de algum ponto ou área de superfície terrestre. Pode ser descrito como o rácio entre a quantidade de luz refletida em todas as direções e o total da luz recebida.

Depois de um inverno excecionalmente ameno e com pouca precipitação (2021) a que se seguiu um verão muito quente e seco (2022), os glaciares do centro da Europa registaram perdas recorde, que correspondem por exemplo, nos Alpes suíços, a 6% da massa de gelo.

A queda de neve é um fator essencial de proteção aos glaciares pois funciona como uma capa que os protege dos agentes erosivos (devido ao seu albedo, por exemplo). Uma época em que a acumulação de neve esteve abaixo da média imediatamente seguida de uma época de degelo excecionalmente longa e forte colocou em causa a sustentabilidade dos ecossistemas associados aos glaciares.

Rsultados a curto, médio e longo prazo

Os resultados a curto prazo costumam manifestar-se nas disponibilidades hídricas, principalmente nas áreas junto aos grandes relevos. As barragens são incapazes de conter a quantidade de água que desce das montanhas e essa água que poderia ser utilizada diretamente para consumo humano ou para as atividades agrícolas e industriais acaba por se perder.

Outro tipo de resultado passa pela descoberta de corpos de alpinistas que foram dados como desaparecidos quando exploravam estas áreas inóspitas. Ainda no último verão, o corpo de um alpinista alemão foi descoberto nos Alpes, mais precisamente nas vertentes do monte Matterhorn, sendo que estava dado como desaparecido desde setembro de 1986.

A médio e a longo prazo, o degelo dos glaciares pode ter consequências relacionadas com o nível dos oceanos, nomeadamente com a sua subida. No continente europeu, a cadeia montanhosa dos Alpes é a região que tem registado maiores perdas em termos de massa e de área ocupada por glaciares. Esta situação conjugada com a fraca queda de neve, durante o inverno, ajuda a que os grandes rios europeus registem uma diminuição significativa dos seus caudais na época estival.

Estas alterações devem continuar a ser monitorizadas já que a saúde dos glaciares, associada aos valores de precipitação e temperatura, constituem indicadores válidos numa análise a um sistema climático cada vez mais fragilizado.

Referência da notícia: BERTHIER, E.; VICENT, C.; SIX, D. Exceptional thinning through the entire altitudinal range of Mont-Blanc glaciers during the 2021/22 mass balance year. Cambridge University Press, 2023.