Como os incêndios podem originar tempestades

Os grandes incêndios florestais podem emanar tanto calor para a atmosfera que acabam por formar o seu próprio sistema de tempestade. Saiba mais aqui!

Quanto maiores forem os incêndios e maior for a instabilidade atmosférica, maior é a probabilidade destas tempestades ocorrerem.

A ocorrência de tempestades de fogo tem vindo a aumentar na Austrália. Só no período entre 2001 e 2018, há registo de 50 tempestades deste género. Nas primeiras seis semanas deste ano, 18 delas originaram a formação de pirocumulonimbus, principalmente no Reino Unido.

Não está claro se os atuais incêndios provocam tempestades de fogo, mas com a frequência de incêndios extremos, com tendência para aumentar, vale a pena examinar com mais pormenor, como as tempestades acontecem e quais são os efeitos que produzem.

Tempestade de fogo, o que é e que efeitos produz?

Em termos simples, são tempestades geradas pelo calor de um incêndio florestal. Se um incêndio abrange uma área suficientemente grande, o movimento ascendente do ar quente pode fazer com que o fogo interaja com a atmosfera acima dele, formando desta forma, uma nuvem de poeira. Esta nuvem consiste em fumo, cinzas e vapor de água. Se as condições não forem muito severas, o fogo pode produzir uma nuvem chamada pirocumulus, que é uma nuvem que se forma sobre o fogo.

Contudo, se o fogo é particularmente grande ou intenso, ou se a atmosfera acima dele é instável, esse processo pode dar origem a um pirocumulonimbus. As nuvens tempestuosas convencionais e pirocumulonimbus têm características semelhantes. Ambas formam uma nuvem em forma de bigorna que se estende até à troposfera podendo chegar à estratosfera.

O que são 'firenados'?

O estado de tempo sob essas nuvens pode ser feroz. À medida que a nuvem se forma, a circulação do ar dálugar a ventos fortes, com rajadas verticais que atingem o solo e se espalham por todas as direções. No caso de um pirocumulonimbus, essas rajadas têm o efeito adicional de trazer o ar seco para a superfície, a partir do fogo. Os ventos agitados podem também transportar brasas por longas distâncias, porém, a eficácia na resposta a este processo faz com que os incêndios não ganhem muito terreno. As tempestades de fogo produzem raios secos que acabam por provocar novos incêndios que podem fundir-se com outros, dando origem a grandes incêndios.

Em casos excecionais, uma tempestade de fogo pode transformar-se num "tornado de fogo". Isto acontece devido aos ventos rotativos, na coluna convectiva de um pirocumulonimbus, já que estes estão presos à tempestade de fogo e portanto, podem ascender a partir do solo. Um exemplo deste fenómeno deu-se durante os incêndios ocorridos, em janeiro de 2003, em Camberra, quando um pirotornado seguiu caminho perto do Monte Arawang, em Kambah. As tempestades de fogo são as manifestações mais perigosas e imprevisíveis de um incêndio, sendo que se tornam impossíveis de suprimir ou controlar.

Uma investigação realizada na UNSW (Sydney – Australia's Global University), com a colaboração das agências de bombeiros, fez um progresso considerável na identificação desses fatores. Fatores como o "comportamento do fogo eruptivo", em que em vez de uma taxa constante de propagação do fogo, a pluma pode prender-se ao chão e acelerar rapidamente. Outro processo, chamado de “propagação lateral accionada por vorticidade”, também foi reconhecido como um bom indicador de possível explosão de incêndio. Este ocorre quando um incêndio se espalha lateralmente ao longo de uma linha de cordilheira, em vez de seguir a direção do vento.