A Amazónia, uma linha de defesa vital na luta contra as alterações climáticas, está sob ataque
A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, é um dos pilares do sistema climático global, abrigando mais biodiversidade terrestre do que qualquer outro lugar do planeta.

Esta imensa floresta tropical, além de grandes incêndios florestais que por vezes a atingem, tem sido constantemente desmatada desde a década de 1970 e atualmente o crescente agronegócio brasileiro está prestes a transformar mais áreas em terras agrícolas.
A Amazónia e relação com o clima
A Amazónia é crucial para o clima, não apenas pela quantidade de dióxido de carbono que absorve, mas também pelo papel que desempenha no arrefecimento do planeta. Desempenha assim, um papel central no armazenamento de carbono.
Além do desmatamento, esta floresta tropical sofreu secas recordes em 2023 e 2024, quando muitos dos maiores rios do mundo estavam abaixo do ponto mais baixo já registado. Essa foi a quarta seca severa em duas décadas, quatro vezes mais do que seria esperado em um clima sem perturbações.
A cada ano, a estação seca está a tornar-se mais longa e mais árida. Quando a estação seca se estender por seis meses, não haverá como evitar a auto degradação.
Há muita água no solo amazónico. Árvores com raízes profundas absorvem-na e libertam-na para o ar, principalmente através da transpiração das folhas. Desta forma, as florestas reciclam 4-4,5 litros de água por metro quadrado por dia durante a estação seca, mas o entanto terras degradadas, como pastagens, reciclam apenas 1-1,5 litros.
Se perdermos a Amazónia, reduziremos a precipitação nessa região em mais de 40% e então podemos esquecer a produção agrícola nos níveis atuais.
Se a Amazónia atingir um ponto de inflexão, perder-se-á 50-70% da floresta, o que libertaria entre 200 e 250 bilhões de toneladas de dióxido de carbono entre 2050 e 2100, tornando completamente impossível limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
Consequências do desmatamento da Amazónia
Muitos estudos têm sido realizados sobre as consequências do desmatamento da Amazónia. O estudo mais recente publicado pela “AGU - Advancing Earth and Space Sciences”, aborda precisamente as consequências desse desmatamento e da redução da precipitação na região.
Neste estudo foi utilizado um modelo computacional para estudar como o desmatamento e as mudanças nas precipitações afetam a floresta amazónica.
O desmatamento, juntamente com a redução do fluxo de humidade, enfraquece a resiliência da bacia amazónica, potencialmente levando-a a uma mudança irreversível.
Pequenas mudanças na cobertura florestal ou no fluxo de humidade são capazes de fazer com que o sistema mude abruptamente entre os estados estáveis de floresta, savana ou matagal.

Os resultados deste estudo sugerem que, se continuar o desmatamento contínuo da floresta e se se verificar uma diminuição da precipitação, provavelmente o mundo irá assistir à transformação de uma floresta tropical exuberante a uma paisagem mais árida, semelhante a uma savana, com as respetivas consequências para o clima global.
Os pontos de inflexão do desmatamento de 45% e 55%, identificados por este estudo, indicam que mesmo no cenário de alterações climáticas mais moderado, a bacia amazónica enfrenta um futuro incerto.

É necessária uma ação urgente de limitar o desmatamento e mitigar as mudanças climáticas, a fim de garantir a saúde e a estabilidade a longo prazo da floresta amazónica.
Como evitar um ponto de inflexão na Amazónia?
Cientistas recomendam soluções baseadas na natureza, como restauração florestal em grande escala, desmatamento zero, eliminação de monoculturas e uma nova bio economia baseada na biodiversidade social. É possível reconstruir uma margem de segurança através de um reflorestamento imediato e ambicioso, particularmente em áreas degradadas por fazendas de gado e terras agrícolas amplamente abandonadas.
Atualmente todos os países amazónicos estão a tentar reduzir o desmatamento.