A Amazónia, uma linha de defesa vital na luta contra as alterações climáticas, está sob ataque

A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, é um dos pilares do sistema climático global, abrigando mais biodiversidade terrestre do que qualquer outro lugar do planeta.

Amazónia
A Amazónia abrange cerca de 7 milhões de quilómetros quadrados e distribui-se por nove países, em que cerca de 60% encontra-se no Brasil.

Esta imensa floresta tropical, além de grandes incêndios florestais que por vezes a atingem, tem sido constantemente desmatada desde a década de 1970 e atualmente o crescente agronegócio brasileiro está prestes a transformar mais áreas em terras agrícolas.

A Amazónia e relação com o clima

A Amazónia é crucial para o clima, não apenas pela quantidade de dióxido de carbono que absorve, mas também pelo papel que desempenha no arrefecimento do planeta. Desempenha assim, um papel central no armazenamento de carbono.

É fundamental preservar a Amazónia para a estabilização do clima global.

Além do desmatamento, esta floresta tropical sofreu secas recordes em 2023 e 2024, quando muitos dos maiores rios do mundo estavam abaixo do ponto mais baixo já registado. Essa foi a quarta seca severa em duas décadas, quatro vezes mais do que seria esperado em um clima sem perturbações.

A cada ano, a estação seca está a tornar-se mais longa e mais árida. Quando a estação seca se estender por seis meses, não haverá como evitar a auto degradação.

Há muita água no solo amazónico. Árvores com raízes profundas absorvem-na e libertam-na para o ar, principalmente através da transpiração das folhas. Desta forma, as florestas reciclam 4-4,5 litros de água por metro quadrado por dia durante a estação seca, mas o entanto terras degradadas, como pastagens, reciclam apenas 1-1,5 litros.

Se perdermos a Amazónia, reduziremos a precipitação nessa região em mais de 40% e então podemos esquecer a produção agrícola nos níveis atuais.

Se a Amazónia atingir um ponto de inflexão, perder-se-á 50-70% da floresta, o que libertaria entre 200 e 250 bilhões de toneladas de dióxido de carbono entre 2050 e 2100, tornando completamente impossível limitar o aquecimento global a 1,5 °C.

Consequências do desmatamento da Amazónia

Muitos estudos têm sido realizados sobre as consequências do desmatamento da Amazónia. O estudo mais recente publicado pela “AGU - Advancing Earth and Space Sciences”, aborda precisamente as consequências desse desmatamento e da redução da precipitação na região.

Neste estudo foi utilizado um modelo computacional para estudar como o desmatamento e as mudanças nas precipitações afetam a floresta amazónica.

O desmatamento, juntamente com a redução do fluxo de humidade, enfraquece a resiliência da bacia amazónica, potencialmente levando-a a uma mudança irreversível.

Esta investigação mostra que uma redução de mais de 65% na cobertura florestal ou uma diminuição de 10% no fluxo de humidade (aproximadamente 6% menos precipitação) poderia mudar o clima de uma floresta tropical húmida para um ambiente mais seco e árido, semelhante a uma savana.

Pequenas mudanças na cobertura florestal ou no fluxo de humidade são capazes de fazer com que o sistema mude abruptamente entre os estados estáveis de floresta, savana ou matagal.

Savana
Savana é uma região plana cuja vegetação predominante são as plantas gramíneas

Os resultados deste estudo sugerem que, se continuar o desmatamento contínuo da floresta e se se verificar uma diminuição da precipitação, provavelmente o mundo irá assistir à transformação de uma floresta tropical exuberante a uma paisagem mais árida, semelhante a uma savana, com as respetivas consequências para o clima global.

Os autores do estudo alertam que, se as tendências atuais continuarem, o desmatamento da Amazónia e a redução da precipitação, isto pode levar esse ecossistema de importância global a um ponto sem retorno ainda neste século.

Os pontos de inflexão do desmatamento de 45% e 55%, identificados por este estudo, indicam que mesmo no cenário de alterações climáticas mais moderado, a bacia amazónica enfrenta um futuro incerto.

Desmatamento
O desmatamento acarreta diversas consequências negativas para o meio ambiente e para a sociedade

É necessária uma ação urgente de limitar o desmatamento e mitigar as mudanças climáticas, a fim de garantir a saúde e a estabilidade a longo prazo da floresta amazónica.

Como evitar um ponto de inflexão na Amazónia?

Cientistas recomendam soluções baseadas na natureza, como restauração florestal em grande escala, desmatamento zero, eliminação de monoculturas e uma nova bio economia baseada na biodiversidade social. É possível reconstruir uma margem de segurança através de um reflorestamento imediato e ambicioso, particularmente em áreas degradadas por fazendas de gado e terras agrícolas amplamente abandonadas.

Atualmente todos os países amazónicos estão a tentar reduzir o desmatamento.

Referência da notícia

“Deforestation Could Push Amazonia Close to a Tipping Point Under Future Climate Change”, László Hunor Hajdu et al., AGU, Published: 01 August 2025.