Primeiras operações contra madeireiros na Amazónia no novo governo Lula

Ibama lançou operações nos estados brasileiros do Pará, Roraima e Acre. Ações visam impedir ou afastar os madeireiros da realização de novas incursões na Amazónia Legal e multar os que forem encontrados com madeira ilegal. Veja os pormenores aqui!

desflorestação; poluição
A extração ilegal de minério causa desmatamento e poluição de rios na floresta amazónica perto da Terra Indígena Menkragnoti, no estado do Pará.

As primeiras operações contra o desmatamento ilegal da Amazónia sob o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começaram na quinta-feira, 19 de janeiro, depois da promessa de Lula de colocar fim à destruição deste território, que aumentou consideravelmente na gestão do seu antecessor Jair Bolsonaro.

A agência Reuters acompanhou com exclusividade as operações realizadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no estado do Pará para impedir que madeireiros e fazendeiros desmatem ilegalmente a floresta.

O Ibama lançou operações nos estados do Pará, Roraima e Acre, afirmou a coordenadora da agência ambiental Tatiane Leite. Este instituto brasileiro ganha agora novo fôlego despois de quase esvaziado no governo Bolsonaro, que havia dado primeiramente aos militares e depois ao Ministério da Justiça a autoridade sobre as operações de combate ao desmatamento.

A Reuters acompanhou o trabalho de 10 agentes desta agência ambiental, que saíram quinta-feira da sua base, no município de Uruara, no Pará, juntamente com uma dezena de polícias federais, em direção a um aglomerado de pontos onde imagens de satélite haviam mostrado madeireiros e fazendeiros a trabalhar recentemente no desmatamento ilegal da floresta.

Após longas doze horas por estradas de terra, o comboio de automóveis do Ibama e da Polícia Federal chegou a cinco áreas desflorestadas e queimadas no período da eleição de outubro passado, na reserva indígena de Cachoeira Seca, onde o desmatamento é proibido.

Os agentes do Ibama encontraram num primeiro local material abandonado e acreditam que possa ser um sinal de desistência, sabendo que o recém-eleito presidente Lula fez campanha com a promessa de reprimir o desmatamento.

"As pessoas sabem que neste governo a fiscalização será mais rígida e não permitirá que usem uma área que desmataram ilegalmente”, disse Givanildo dos Santos Lima, agente que lidera a missão do Ibama em Uruara.

Lula na campanha eleitoral do ano passado prometeu colocar o Ibama de volta no comando do combate ao desmatamento com financiamento e pessoal reforçados.

O recém-eleito presidente já assinou diversos decretos relacionados com a preservação do meio ambiente, em oposição às medidas tomadas pelo anterior governo. O governo liderado por Jair Bolsonaro é acusado de praticar um desmonte ambiental, sendo responsável pelo desmatamento de vários biomas, pelo estrangulamento de órgãos ambientais, leniente com invasão e violência em territórios indígenas, entre outras decisões controversas.

Um dos decretos assinados por Lula da Silva, publicados a 2 de janeiro, no Diário Oficial da União restabelece o Fundo Amazónia, que financia projetos de redução do desmatamento e fiscalização do bioma e que havia sido esquecido desde 2019, na vigência de Bolsonaro.

Amazónia;
Amazónia Legal sofreu nos últimos anos enormes pressões, desde os incêndios até ao desmatamento.

Nesta operação, numa outra área da reserva, os agentes encontraram uma casa recém-construída com várias motosserras e abastecida com alimentos para várias semanas, indicando que os ocupantes provavelmente fugiram pouco antes da chegada dos agentes do Ibama.

Um pequeno milheiral plantado de forma desorganizada e que chega até à altura dos joelhos dá ideia de ser uma tentativa de reivindicar a área para eventualmente a transformar em pasto para gado, disseram os agentes.

Vamos voltar com um helicóptero e apanhá-los de surpresa”, disse Lima.

Amazónia perdeu quase três mil campos de futebol por dia em 2022

O desmatamento na floresta amazónica em 2022 foi o maior registado em 15 anos, aponta o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon). Entre janeiro e dezembro, foram desmatados 10.573 km² de floresta — o equivalente ao abatimento de quase três mil campos de futebol por dia.

A Amazónia sofreu em 2022 com o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento, segundo a monitorização por satélites realizada pelo Imazon.

O desmatamento acumulado nos últimos quatro anos, entre 2019 e 2022, chegou aos 35.193 km². Uma área que quase ultrapassa o tamanho de dois estados brasileiros, Alagoas e Sergipe, de 21 e 27 mil km², respetivamente. Este valor representa um aumento de quase 150% em relação ao quadriénio anterior, entre 2015 e 2018, quando foram devastados 14.424 km².

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O estado do Pará segue como líder no desmatamento da Amazónia Legal desde 2019, com 3.874 km² derrubados no ano passado, cerca de 37% do total desmatado, seguido dos estados do Amazonas (2.575 km²) e Mato Grosso (1.604 km²), com 24% e 15% do total da área derrubada neste território, respetivamente.

Em relação às unidades de conservação (áreas protegidas), a devastação seguiu padrões altos. O desmatamento registado no ano passado foi o segundo maior em 10 anos nas unidades de conservação federais e o quarto maior da década nas áreas indígenas, segundo os dados do Imazon.

A situação mais crítica nas unidades de conservação em 2022 deu-se na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, no estado do Pará, onde foram desmatados 420 km² de floresta. Também o Território Indígena (TI) mais desmatado está situado no estado do Pará, o TI Apyterewa, junto ao rio Xingu, que atravessa quase todo o estado.

O município que mais sofreu com o abate da Amazónia Legal foi o de Apuí, no estado do Amazonas (586 km² de floresta), seguido de Altamira (556 km²), no estado do Pará e Lábrea (553 km²), no estado do Amazonas, que sofreu um aumento do desmatamento de 24% em relação ao ano anterior.