Saiba quais os rios que estão a ser renaturalizados para combater secas e cheias em Portugal

Cerca de 168 km de cursos fluviais serão reabilitados no âmbito da estratégia ProRios 2030, que, desde finais de 2024, já contemplou a recuperação de mais de 300 km de rios e ribeiras.

Ribeira do Vascão, Algarve
A requalificação da ribeira do Vascão, no sotavento algarvio, é um dos cursos intervencionados. Foto: Joaocosta99amei - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Alterações climáticas, expansão urbanística, procura de água potável para consumo humano, rega ou produção de energia hidroelétrica alteraram e pressionaram, ao longo de décadas, boa parte dos rios portugueses.

Os cursos de água, como resultado, têm vindo a perder funções vitais para prevenir secas, controlar cheias ou regular a erosão.

Inverter a deterioração dos recursos hídricos é, por isso, o objetivo de mais uma empreitada que já está em andamento para restaurar 168 quilómetros de rios e afluentes portugueses, bem como as suas áreas envolventes.

Ao todo são dez cursos de água distribuídos por todo o país que já estão a ser intervencionados com o intuito de recuperar as suas características originais.

Intervenções prioritárias

Num investimento superior a cinco milhões de euros, o programa, financiado pelo Fundo Ambiental e pela Agência para o Clima, será coordenado pela Agência Portuguesa do Ambiente no âmbito da estratégia ProRios 2030 – "Água que Une", que visa promover a gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos.

Entre as intervenções prioritárias está a requalificação da ribeira do Vascão, numa extensão de 60 quilómetros, no sotavento algarvio, a recuperação de ribeiras em Évora e em Beja, a reabilitação do sistema de açudes em Arronches, em Portalegre, bem como trabalhos no Alentejo Litoral.

Lago da Pateira de Fermentelos
Cerca de 800 metros de circuitos pedonais e cicláveis vão integrar uma rede de percursos em torno do lago da Pateira de Fermentelos, entre Águeda e Oliveira do Bairro. Foto: Raquel Rosa, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

No Norte e Centro, terá lugar a reabilitação do rio Neiva, em Esposende e Viana do Castelo, a recuperação do ribeiro de Picote, em Miranda do Douro, a valorização do rio Vez, em Arcos de Valdevez, a reabilitação dos rios Díz e Noéme, na Guarda, o restauro do rio Alfusqueiro, em Águeda ou ainda a valorização do Lizandro, em Mafra.

Os projetos de restauro incluem também o Rio Tuã, no Nordeste Transmontano, o Arunca e o Lena, no distrito de Leiria, o Cértima (Aveiro), o Zela (Viseu), o Alviela, na região de Lisboa, o Este (Braga), o Leça (Porto) e ainda o Vizela, que nasce no município de Fafe e desagua na margem esquerda do rio Ave, em Santo Tirso.

Na ribeira de Granja, o maior curso de água que atravessa a cidade do Porto, por exemplo, as suas margens estão a ser estabilizadas com a construção de uma bacia de retenção.

O rio Este, em Braga, irá ser igualmente regularizado e renaturalizado, enquanto o rio Leça, na Maia, será alvo de várias intervenções de requalificação, incluindo a construção de um viveiro de plantas aquáticas.

Rio Nabão, Tomar
A reabilitação da rede hidrográfica do Rio Nabão, em Tomar, envolve a construção de bacias de retenção para acomodar o aumento do caudal e minimizar o impacto das cheias. Foto: Carlos Goulão, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Em Águeda, Aveiro e Oliveira do Bairro, está a ser construída uma rede de percursos pedonais e cicláveis em torno da Pateira de Fermentelos. Em Tomar, por fim, está prevista a reabilitação da rede hidrográfica do Rio Nabão, com soluções baseadas na natureza para reduzir a área ameaçada por cheias.

As metas do Plano Nacional de Restauro

Os trabalhos deverão ficar concluídos até ao final do próximo ano, acontecendo aliás na sequência da intervenção em outros 300 quilómetros de cursos de água que já terminaram ou estão em fase de conclusão, como é o caso da Ribeira de Freixiel, em Vila Flor, inaugurada no verão de 2024.

Os programas estão a ser desenvolvidos sob a alçada do Plano Nacional de Restauro que tem como meta recuperar pelo menos 500 quilómetros de extensão de rios e afluentes até 2030.

A abordagem privilegia soluções de engenharia natural e intervenções de proximidade, em articulação com os municípios, para recuperar linhas de água degradadas, criar zonas de inundação controlada e reduzir riscos associados a cheias e secas.

O restauro fluvial tem por objetivo promover o regresso dos ecossistemas ribeirinhos ao seu estado original ou a uma condição próxima, através de alterações estruturais que permitam reduzir as pressões e recuperar as suas funções naturais, beneficiando a biodiversidade e as populações humanas que deles dependem.

Referência da notícia

Governo avança com reabilitação e restauro de 168 km de rios e ribeiras. portugal.gov.pt