Jacinto de água: a praga dos rios que se converteu numa oportunidade para a agricultura biológica
O projeto português BioComp aproveita os nutrientes e a biomassa desta planta invasora para produzir fertilizantes destinados a solos agrícolas pouco produtivos.

O jacinto de água (Eichhornia crassipes) está entre as plantas invasoras que mais danos provoca nos ecossistemas aquáticos da Península Ibérica. Desenvolvendo-se rapidamente, a planta é capaz de formar densos tapetes e cobrir a superfície dos cursos de água, bloqueando a entrada da luz e ameaçando outras espécies marinhas.
A sua proliferação é um problema para a biodiversidade e para a saúde pública, com enormes impactos na qualidade da água.
Uma vez que é também responsável pela obstrução dos canais fluviais, os prejuízos causados pelo jacinto de água se estendem igualmente à navegação dos rios, com impactos nos desportos aquáticos, pesca ou irrigação.
A invasão do Minho ao Algarve
Esta planta representa, portanto, um perigo para os rios ibéricos. Em Portugal Continental, por exemplo, a espécie invasora encontra-se no Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo e Algarve. Mas são sobretudo os rios Soraia, Cávado e o Mondego os mais afetados.

O seu controlo tem de ser realizado com regularidade através de barreiras flutuantes, que dividem o leito em segmentos para conter a sua dispersão.
Aproveitar a biomassa e nutrientes destes desperdícios é precisamente o objetivo do projeto BioComp. Financiado pelo Compete 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, a iniciativa visa produzir compostos orgânicos biológicos, a partir de jacintos de água, que possam vir a ser utilizados como fertilizantes na agricultura.
Para fazer a compostagem destas plantas, a equipa que integra investigadores da empresa Colina Generosa, do Instituto Politécnico de Bragança e da Escola Superior Agrária de Coimbra, juntaram outros desperdícios das indústrias agropecuária e agroalimentar.
Desse composto foram criados seis tipos de fertilizantes orgânicos destinados à produção agrícola biológica.
O piloto conduzido no leito do Mondego
O rio Mondego, na Região Centro, é a base desta experiência que, arrancou com uma escala laboratorial. O processo de compostagem, feito nas instalações da Escola Superior Agrária de Coimbra, produziu bons resultados no cultivo de alfaces em vasos.
Avançou-se, então, para uma escala maior com ensaios de campo para avaliar o efeito do compostado nas propriedades do solo e nas culturas de amendoal, pastagem e pomares cultivados ao ar livre e em estufas.
Tecnologias acessíveis para os agricultores
De planta invasora a composto biológico usado na agricultura sustentável – esta é a grande viagem que o jacinto de água está a fazer atualmente. Mas o plano deste consórcio entre academia, autarquias e indústria é ainda mais ambicioso.

Os investigadores esperam também desenvolver um plugin para identificar, através de drones e imagens de satélite, as manchas de jacintos de água nos leitos do rio. O processo permitirá monitorizar o desenvolvimento da planta sem necessidade de deslocações ao local, pelo menos até à fase da sua remoção.
A aplicação, que será disponibilizada nos smartphones, irá reunir, no fundo, toda a informação, incluindo o processo sobre o seu manuseamento, transporte ou licenças necessárias.
O projeto irá, portanto, continuar até setembro deste ano, com mais metas a serem estabelecidas. A identificação de solos com baixa produtividade e a deficiente gestão de resíduos orgânicos será umas das etapas centrais para reduzir os encargos com o controlo desta praga e aumentar a fertilidade e resiliência dos solos agrícolas.

Para desenvolver a sua atividade, o BioComp, desenvolvido pela Colina Generosa, em conjunto com Instituto Politécnico de Bragança, a Escola Superior Agrária de Coimbra e associações municipais, foi apoiado em 622 mil euros pelo COMPETE 2020, dos quais cerca de 450 mil euros provieram do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Referências da notícia
Biocomp 2.0 – Valorização do jacinto de água
Biocomp 3.0 – Produção de compostos orgânicos