Preços baixos da azeitona levam à quebra de rendimentos no olival tradicional. Produtores não sabem quando vão receber
A colheita da azeitona está no auge, mas a quantidade e rendimento em azeite regista, este ano, uma quebra significativa, alerta a CNA. A redução da produção na campanha oleícola 2025/2026 e a acentuada queda dos preços do azeite pagos à produção estão a gerar “forte preocupação”.

Portugal é reconhecido como o país que maior quantidade de azeite de alta qualidade produz em todo o mundo. É o sexto maior produtor mundial e o terceiro maior exportador europeu de azeite, ultrapassando a fasquia dos 1.5 mil milhões de euros anuais em exportações.
A última campanha olivícola em Portugal tinha sido positiva, seguindo-se a um ano anterior menos produtivo, com a produção nacional a aumentar cerca de 10% face à campanha anterior, para cerca de 177 mil toneladas de azeite.
Preço da azeitona em queda
Com o fim do mês de novembro à porta e com a campanha oleícola 2025/2026 no auge, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) veio esta semana emitir um comunicado a alertar para o facto de a quantidade e o rendimento em azeite das azeitonas de que estão a ser colhidas registarem “uma quebra significativa face à campanha anterior”.
Por outro lado, “a acentuada queda dos preços do azeite pagos à produção são motivo de forte preocupação para os produtores do olival tradicional”, avisa a CNA, que fala de uma “inexplicável quebra de preços” das azeitonas num ano de menor produção.
Para os produtores que optam por fazer o azeite, também os custos de laboração dos lagares são “mais elevados” este ano. A CNA revela que, “em alguns casos, passaram de 12 cêntimos por quilo, na campanha de 2024, para 14 cêntimos, nesta campanha”.
IVA passou de 6% para 23%
A este facto não é alheio o aumento do IVA que é cobrado pelos lagares pelo serviço da moagem da azeitona e que passou de 6% para 23%.

Apesar de se prever que esse imposto regresse a 6% no início de 2026, a CNA alerta que a tributação atual “prejudica quem tem de fazer a laboração até ao final deste ano”.
A Confederação Nacional da Agricultura aponta como razões para estas dificuldades dos olivicultores no olival tradicional “a total desregulação do mercado, que submete sobretudo os pequenos agricultores, que precisam de escoar a sua produção, à mercê do que os compradores estão dispostos a oferecer”.
Considerando que esta é uma “situação profundamente injusta”, a CNA explica que, “a manter-se, poderá ter graves consequências na continuidade do olival tradicional”, que é, justamente, “de onde saem os melhores azeites do mundo, com qualidade e características únicas”.
Distribuição justa do valor ao longo da cadeia
Para a Confederação, é necessário promover “uma distribuição justa do valor ao longo da cadeia agro-alimentar”, lembrando que essa “tem de ser uma preocupação central do Governo, para garantir rendimentos dignos para os agricultores”.

Para tal, a CNA reitera a “urgência da adoção de uma lei que proíba que se pague aos agricultores abaixo dos seus custos de produção” e a criação de “instrumentos que assegurem o cumprimento dessa lei”.
O olival tradicional é um importante fator de coesão social e territorial e das economias das zonas onde se produz.
No entanto, segundo a CNA, a atração de jovens e novos agricultores, bem como a fixação dos atuais produtores, apesar do investimento que têm feito, “só é possível com a rentabilidade da produção, com preços compensadores”.
A Confederação defende, assim, “políticas públicas para a valorização do olival tradicional, através de um “plano integrado para a dinamização do olival tradicional”. E com a “promoção do consumo de azeite nacional em cantinas públicas” ou, ainda, a “inclusão, nos apoios da Política Agrícola Comum, de uma intervenção setorial dedicada ao olival tradicional”.