Estado das barragens em outubro: ligeira quebra, panorama global ainda bastante confortável
Portugal fechou a última semana de outubro com 73% de armazenamento nas albufeiras, após uma descida semanal de 117 hm³. A maioria das bacias está acima da média de outubro, mas persistem bolsas de défice a Norte e no Algarve.

O volume total armazenado nas albufeiras portuguesas fixou-se nos 9 746 hm³ no relatório semanal de 20 de outubro, o que corresponde a 73% da capacidade útil nacional (13 297 hm³). Face ao boletim anterior de 13 de outubro, registou-se uma redução líquida de 117 hm³, mas acredita-se que os últimos dias possam ter ajudado a aumentar novamente os valores armazenados. Apesar desta oscilação semanal, o país mantém um nível de armazenamento globalmente confortável para o final do mês.
Níveis de armazenamento elevados face à média na maioria das bacias hidrográficas
A leitura por bacia confirma um quadro heterogéneo. Em termos relativos, os armazenamentos estão acima das médias de outubro (1990/91–2023/24) na maioria das bacias. As exceções são Lima, Ave, Vouga, Mondego, Mira e Ribeiras do Barlavento, que permanecem abaixo do seu “normal” para o mês. Esta divergência geográfica traduz o padrão de precipitação recente e a inércia hidrológica de cada sistema.
No Noroeste, o Lima evidencia o maior desvio negativo semanal entre 13 e 20 de outubro (-5,0 %), mantendo-se com níveis contidos. No mesmo quadrante, Cávado/Ribeiras Costeiras (-0,94 %), Ave (-1,3 %) e Douro (-0,69 %) também recuaram. Ainda assim, muitos aproveitamentos do Douro continuam confortáveis: Régua (95%), Foz Tua (93%), Valeira (92%), Picote e Bemposta (91%) e Pocinho (90%). Em contraciclo, Alto Lindoso permanece baixo (47%), tal como Guilhofrei (44%) e Varosa (43%), sinalizando disparidades intra-bacia e a importância da gestão plurifuncional (energia, abastecimento e lazer).

No Centro, a bacia do Mondego caiu 1,1 % na semana, e o Vouga recuou 2,3 %. Persistem albufeiras em níveis modestos para a época: Fronhas (28%), Lagoacho (43%) e Vale do Rossim (47%). Ainda que Aguieira mantenha 58%, a média da bacia permanece abaixo da média para outubro, refletindo precipitações irregulares e escoamentos ainda contidos.
Mais a sul, o Tejo perdeu 1,3 %, mas exibe casos robustos como Castelo do Bode (81%), Bouçã (98%) e Capinha (100%). Em contrapartida, pequenas albufeiras de regadio e regularização, Póvoa (41%), Magos (44%) e Minutos (48%), recomendam vigilância local, sobretudo se a primeira quinzena de novembro for mais seca. A diversidade de usos (abastecimento urbano, rega, energia) torna a gestão operacional determinante neste início da época húmida.
No Algarve, o sinal é misto. O Arade baixou 0,55 %, com Arade em 43% e Bravura em 44%. Já Odelouca (74%) e Funcho (78%) sustentam o abastecimento na vertente ocidental. Do lado do Sotavento, a média caiu 0,94 %, mas Beliche (64%) e Odeleite (72%) mantêm-se em patamares razoáveis para outubro, oferecendo alguma almofada caso novembro traga pausa pluviométrica. Globalmente, as “ribeiras do Barlavento” continuam abaixo da média histórica do mês.
28% das albufeiras apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80%. O que esperar para novembro?
No retrato nacional, 28% das albufeiras apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 8% estão abaixo de 40%. Ou seja, coexiste um grupo numeroso de sistemas em conforto com um núcleo de risco localizado, dominado por pequenas a médias albufeiras, mais sensíveis a flutuações semanais e a consumos específicos (como rega ou reforço de caudais).
O mês de outubro termina com um stock nacional significativo, apesar de uma semana de ligeira perda líquida. A chave para novembro estará no regime de frentes do Atlântico: uma sequência de episódios moderados a fortes permitirá repor os défices no Noroeste e estabilizar os sistemas do Algarve. Pelo contrário, uma janela mais seca tenderá a prolongar as assimetrias regionais. Até lá, a fotografia do país é de cauteloso otimismo, com atenção particular às bacias do Lima, Mondego e às ribeiras algarvias, onde a normalização para a época ainda não está assegurada.
Para a primeira quinzena de novembro, o cenário de referência aponta para a persistência de um padrão húmido e ameno: precipitação acima do normal sobretudo a norte do Tejo, episódios de frente atlântica intercalados com abertas e temperaturas ligeiramente acima da média, sem sinais de frio intenso. Este enquadramento favorece nova recuperação de caudais nas bacias do Douro, Cávado e Tejo e poderá atenuar défices pontuais no Lima e Mondego.