Quase todas as barragens com níveis acima dos 80%, mas Algarve continua em seca

Apesar da diminuição do volume armazenado em 14 bacias hidrográficas na última semana, a maioria das albufeiras nacionais mantém-se com níveis confortáveis. Segundo o boletim do SNIRH de 23 de junho de 2025, 78% das albufeiras monitorizadas têm mais de 80% da sua capacidade.

Albufeiras com mais de 80% da capacidade total.
78% das albufeiras monitorizadas apresentam mais de 80% da capacidade total no mês de junho de 2025.

O último boletim do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), publicado a 23 de junho de 2025, revela um retrato misto sobre o estado de armazenamento nas albufeiras de Portugal continental. Embora a maioria das barragens apresente níveis de água confortáveis, a situação nas regiões sul, especialmente no Algarve, continua a suscitar preocupações, com reservas aquém da média para esta altura do ano.

Barragens portuguesas mantêm níveis elevados, mas o sul do país preocupa

Comparando com o boletim anterior, datado de 16 de junho, observou-se uma descida do volume armazenado em 14 bacias hidrográficas e um único aumento. Este comportamento reflete as condições meteorológicas mais secas que se têm verificado nas últimas semanas, com menor precipitação e8 temperaturas elevadas, especialmente no sul e interior do país.

62 das 80 albufeiras monitorizadas apresentavam mais de 80% do armazenamento a 23 de junho de 2025.
62 das 80 albufeiras monitorizadas apresentavam mais de 80% do armazenamento a 23 de junho de 2025. Fonte: Relatório Semanal do SNIRH/APA.

Apesar disso, os dados são, no geral, animadores: 78% das albufeiras monitorizadas apresentam atualmente disponibilidades hídricas superiores a 80% da sua capacidade total. Este nível elevado de armazenamento é superior às médias do mês de junho (calculadas entre os anos hidrológicos de 1990/91 a 2023/24) para quase todas as bacias hidrográficas, com duas exceções significativas: a bacia do Mira e as Ribeiras do Barlavento algarvio.

Aliás, várias bacias encontram-se com os valores acima dos 90% de armazenamento, com destaque para o Douro (92,1%), Vouga (95,3%); Guadiana (93,5%) e Sotavento (91,1%). Esta última com o resultado inédito comparativamente aos últimos anos, com 20% acima da média hidrológica dos últimos 30 anos.

Duas bacias com níveis preocupantes

A bacia do Mira, localizada no Alentejo litoral, e as Ribeiras do Barlavento, no barlavento algarvio, continuam abaixo da média histórica de junho e refletem a persistência da seca estrutural que afeta o sul do país há vários anos. Uma das albufeiras monitorizadas encontra-se mesmo abaixo dos 40% da capacidade total de armazenamento, o que pode representar dificuldades para o abastecimento público, rega e outros usos nos meses de maior procura turística que se aproximam, tradicionalmente mais exigentes.

Este cenário é particularmente preocupante para a região do Algarve, onde o consumo de água aumenta substancialmente devido à atividade turística e à agricultura intensiva. A baixa disponibilidade nas albufeiras da região pode obrigar a medidas de gestão mais restritivas, como a limitação da rega ou o recurso a campanhas de sensibilização para a poupança de água.

A distribuição do armazenamento hídrico pelas diferentes regiões do país continua a ser assimétrica. Enquanto as bacias do norte e centro apresentam níveis acima da média, beneficiando de precipitações mais regulares ao longo do ano hidrológico, o sul enfrenta dificuldades recorrentes.

Este padrão reflete a vulnerabilidade crescente das regiões meridionais às alterações climáticas, com períodos de seca prolongada e temperaturas cada vez mais elevadas.

Alerta-se para que esta realidade exige uma gestão mais integrada e adaptativa dos recursos hídricos. As soluções passam por investimentos em infraestruturas de reutilização de águas residuais tratadas, maior eficiência nos sistemas de rega e abastecimento urbano, bem como políticas de ordenamento do território que reduzam a pressão sobre as áreas mais vulneráveis.

Necessidade de ação a longo prazo, considerando a possibilidade de um verão quente e seco

As autoridades têm vindo a destacar a necessidade de preparar o país para enfrentar uma maior variabilidade nos regimes hídricos. O Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA) e os Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH) incluem já medidas para mitigar os efeitos da escassez hídrica, mas a execução no terreno enfrenta desafios, desde a resistência de alguns setores económicos à mudança até à escassez de financiamento para projetos estruturantes.

Enquanto isso, a população é chamada a adotar comportamentos responsáveis no uso da água. O bom estado geral das barragens neste final de junho de 2025 não deve ser motivo para complacência. A previsão de um verão quente e seco poderá inverter rapidamente os níveis atuais, sobretudo nas regiões mais frágeis do país.

O boletim do SNIRH vem confirmar a robustez do sistema nacional de armazenamento de água na maioria das regiões, fruto de um ano hidrológico razoavelmente favorável até ao momento. No entanto, a exceção das bacias do Mira e Barlavento continua a ser uma chamada de atenção para os riscos de dependência de recursos finitos num contexto de alterações climáticas.