Como estão as barragens em Portugal Continental após o término do verão climatológico?
Os dados mais recentes revelam que 40% das barragens portuguesas estão acima dos 80% da capacidade, cenário pouco comum para agosto. Apesar da redução do volume total armazenado na última semana, os armazenamentos superam a média histórica, exceto nas bacias do Mira e Ribeiras do Barlavento.

O boletim divulgado a 25 de agosto de 2025 pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), comparativamente ao de 18 de agosto, confirma uma evolução negativa nas reservas hídricas nacionais. Apesar disso, o volume armazenado aumentou numa bacia hidrográfica (do Douro). Entre as albufeiras monitorizadas, 40% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto apenas duas registam valores inferiores a 40%.
Última semana de agosto regista redução em praticamente todas as bacias hidrográficas, mas o cenário é favorável
O cenário atual destaca-se como particularmente favorável. No final de agosto, os armazenamentos em praticamente todas as bacias hidrográficas encontram-se acima da média para este mês (considerando o período de 1990/91 a 2023/24). As únicas exceções são as bacias do Mira (54,7%) e Ribeiras do Barlavento (49,1%), no sul do país, onde a disponibilidade hídrica permanece abaixo dos valores de referência. As bacias do Douro (88,4%), Guadiana (85,6%), Vouga (81,1%) são aquelas que registam os valores mais elevados de armazenamento.

Este resultado é invulgar, dado que agosto costuma ser associado a descidas acentuadas no armazenamento das albufeiras devido à evapotranspiração intensa e ao uso agrícola, urbano e balnear mais exigente. Contudo, em 2025, a situação mostra-se mais confortável, mesmo tendo em conta as elevadas temperaturas e os episódios de calor extremo e ondas de calor que marcaram o verão. O país apresenta reservas superiores, tanto em barragens como na água no solo, o que dá margem de segurança para os próximos meses.
Apesar da tranquilidade no imediato, este nível de armazenamento não deve ser interpretado como garantia absoluta. Pelo contrário, constitui um fator a ponderar no arranque do outono. De qualquer forma, é de apontar que a última semana registou uma diminuição em 14 bacias hidrográficas e o aumento somente numa. Do volume total de armazenamento de 10 784 hm3 registados a 18 de agosto, nesta semana o volume estava situado nos 10 663 hm3, o que representa uma redução de -0,91% (-121 hm3).
Setembro: mês de transição e contrastes
Amanhã, segunda-feira, 1 de setembro, marca simultaneamente o início da semana, do mês e da estação climatológica do outono. Este período caracteriza-se pela transição entre o calor persistente do verão e a chegada progressiva das primeiras frentes atlânticas.
Em Portugal, setembro é um mês de extremos. Não é raro que prolongue o verão, mantendo temperaturas elevadas e agravando a ausência de precipitação. Por outro lado, também pode ser sinónimo de chuvas intensas. A irregularidade deste período é ainda reforçada pelas alterações climáticas, que têm ampliado fenómenos de calor tardio e episódios de instabilidade súbita. Os chamados “veranicos” são cada vez mais comuns.
Com a descida gradual das temperaturas e o encurtar dos dias, torna-se mais frequente a chegada de sistemas frontais e depressões atlânticas. Estas podem provocar precipitação contínua e abundante, contrastando com os aguaceiros intensos e localizados associados às chamadas “gotas frias”.
É precisamente nesta altura que começam a surgir as primeiras bolsas de ar frio de maior dimensão, em forma de vales depressionários ou de depressões isoladas em altitude. Em Portugal, os episódios de frentes atlânticas são historicamente mais frequentes do que as gotas frias no início do outono, mas ambos têm potencial para provocar fenómenos severos. Caso se verifique um cenário de maior precipitação em Portugal Continental, estarão criadas as condições para manter ou aumentar as reservas hídricas.