A "ilha" viral nas redes sociais que não encontrará em nenhum mapa: Geógrafos esclarecem o mistério
Esta ilhota, criada por erros de dados geográficos, surge na intersecção da linha do equador com o Meridiano de Greenwich. Um ponto no oceano que se tornou lendário entre cartógrafos, programadores e curiosos sobre o mundo digital.

Quem procura em mapas o local exato onde o Meridiano de Greenwich encontra o equador terrestre — coordenadas 0° de latitude e 0° de longitude — no coração do Golfo da Guiné, encontrará apenas o azul que representa o mar.
No entanto, bem naquele ponto do Oceano Atlântico, encontra-se uma curiosa "ilha" que chamou a atenção de cartógrafos, programadores e amantes de peculiaridades geográficas: a Ilha Nula, ou Null Island em inglês.
É um lugar completamente fictício, mas tornou-se um fenómeno cultural e tecnológico.
O que é a Ilha Nula (Null Island)?
Como o próprio nome sugere, a Ilha Nula não existe no mundo físico. É um conceito virtual que atende à necessidade de gerir "pontos de erro" em sistemas de informação geográfica (SIG) e bancos de dados de mapeamento.
Non cazzecca molto con quello che accade in giro e con le convinzioni dei terrappiatisti ma per pura curiosità dico che esiste un punto sulla terra chiamato scientificamente NULL ISLAND contrassegnato con una boa rossa che ha come punti cardinali
— Ego (@ego_sono) July 1, 2025
0*N- 0*E
Notte a tutti pic.twitter.com/kiKOoZoGVo
O nome vem da prática comum de programação de representar valores desconhecidos ou vazios com a palavra "null". Assim, quando um sistema de geolocalização não sabe onde localizar algo — por falta de dados ou erros — ele geralmente atribui as coordenadas (0,0) por padrão.
O resultado? Milhões de localizações "perdidas" acabam por apontar para este ponto no Golfo da Guiné.
A origem do mito
Embora a ideia da Ilha Nula como uma ilha fantasma e imaginária circule entre os profissionais de dados geográficos há anos, a sua popularidade cresceu após 2011.
Isto aconteceu quando o site Natural Earth, um projeto colaborativo que oferece dados cartográficos gratuitos, colocou ali uma "ilha" bem-humorada de um quilómetro quadrado. Até a acompanharam com uma bandeira imaginária.

Na verdade, existe apenas uma boia meteorológica naquele exato local, a de número 13010, parte do programa PIRATA (Prediction and Research Moored Array in the Tropical Atlantic), uma rede que recolhe dados sobre correntes oceânicas e temperaturas.
Com o tempo, a Ilha Nula tornou-se um meme técnico. Ao reverem mapas de bancos de dados falhados, geógrafos e cartógrafos deparavam-se com misteriosos "hotéis", "lojas" ou até mesmo "acidentes de trânsito" localizados no meio do oceano, todos resultados de coordenadas erróneas que tinham sido redefinidas automaticamente para (0,0).
Lar dos dados perdidos
Em última análise, este fenómeno está relacionado como forma como os dados geográficos são armazenados. Se um registo não tiver coordenadas bem definidas — por exemplo, se um utilizador não ativar o GPS ao enviar uma foto — o sistema pode deixar as coordenadas vazias (nulas).
Em vez de tratar estes valores como nulos, alguns programas interpretam-nos como zeros, enviando a localização para o ponto zero do sistema de coordenadas: a intersecção da linha do equador com o Meridiano de Greenwich.
Null Island: punto con coordenadas geográficas 0°N 0°E, donde el ecuador interseca al meridiano de Greenwich
— IDE España (@IDEESpain) January 7, 2025
Cuando las coordenadas son mal procesadas, incompletas o faltan valores, muchos SIG interpretan el valor "nulo" como (0,0), lo que coloca el punto en este lugar concreto. pic.twitter.com/M7NZ8QxnwE
Este erro, que pode parecer trivial à primeira vista, teve sérias implicações para certos projetos.
Grandes bancos de dados de incidentes ou propriedades revelaram centenas de registos concentrados na Ilha Nula, forçando equipas técnicas a implementar filtros e validações mais rigorosas para evitar confundir dados reais com fantasmas digitais.
O encanto cultural de um lugar inexistente
Longe de ser apenas um inconveniente técnico, a Ilha Nula tornou-se um símbolo comum entre aqueles que trabalham com mapas digitais e tornaram-se entusiastas deste lugar inexistente.
Há T-shirts, canecas e até passaportes fictícios que celebram este "país" de coordenadas nulas. Aliás, em fóruns de geografia ou SIG, costuma-se utilizar como piada qualquer registo georreferenciado incorretamente como sendo proveniente da "Ilha Nula".
Além disso, o conceito que representa convida à reflexão sobre a dependência de sistemas digitais para representar o mundo. Assim, um simples erro de software pode fazer com que um restaurante pareça flutuar no oceano ou que um alerta de saúde seja acionado num local onde ninguém vive.
Em última análise, a Ilha Nula é muito mais do que um ponto remoto no mar. É um lembrete divertido — e às vezes perturbador — do poder e das limitações dos dados geoespaciais. Uma ilha imaginária que, apesar de não existir fisicamente, vive no coração de programadores e curiosos ao redor do mundo.