Os répteis do Triássico e a “zona morta tropical”
Uma abordagem inovadora mostra travessias na chamada "zona morta tropical", considerada uma barreira climática intransponível para vertebrados terrestres.

A origem, dispersão e diversidade ecológica dos primeiros arcossauromorfos. Devido à incompletude e distribuição desigual do registo fóssil, os autores propõem uma abordagem inovadora que combina inferência filogeográfica bayesiana com análises de conectividade de paisagem e simulações climáticas profundas no tempo geológico.
A investigação e os resultados mostram que estes animais já se tinham dispersado
A investigação mostra que estes animais já se tinham dispersado por várias regiões da Pangeia, incluindo travessias através da chamada “zona morta tropical”, considerada até agora uma barreira climática intransponível para vertebrados terrestres após a extinção do final do Pérmico.
Os resultados apontam para uma origem europeia dos arcossauromorfos durante o final do Pérmico (aproximadamente 260 milhões de anos atrás), muito antes da sua diversificação evidente no registo fóssil do Triássico. A investigação mostra que estes animais já se tinham dispersado por várias regiões da Pangeia, incluindo travessias através da chamada “zona morta tropical”, considerada até agora uma barreira climática intransponível para vertebrados terrestres após a extinção do final do Pérmico.
Para modelar essas rotas de dispersão, os autores utilizaram o modelo TARDIS (Terrains and Routes Directed in Space–Time), que considera as mudanças geográficas e topográficas da Terra ao longo do tempo como um grafo espaço-temporal.
Com este modelo, foi possível estimar caminhos de dispersão mais plausíveis entre pontos de origem e destino ao longo da árvore filogenética, respeitando as condições climáticas simuladas com base em modelos atmosféricos e oceânicos de circulação global.

Um dos conceitos-chave aplicados é a chamada “dualidade de Hutchinson”, que reconhece a interdependência entre o nicho ecológico (conjunto de condições climáticas toleradas) e o biotopo (distribuição geográfica). A partir desta relação, os investigadores inferiram tolerâncias climáticas ancestrais com base nas rotas de dispersão estimadas. Este método revelou uma amplitude ecológica e climática muito mais vasta do que aquela que se observa diretamente no registo fóssil, especialmente durante o Triássico.
A análise mostra dados surpreendentes
A análise demonstrou que os arcossauromorfos toleravam uma grande variedade de climas, incluindo ambientes áridos e de elevada sazonalidade, sugerindo a tolerância à adversidade climática, fazendo provavelmente parte integrante de seu sucesso evolutivo posterior.
Além disso, os autores notam que as estimativas de origem e dispersão estão frequentemente alinhadas com as regiões mais bem amostradas do registo fóssil (como a Europa e América do Sul), levantando a hipótese de que parte dos padrões inferidos possa refletir enviesamentos de amostragem.
Em suma, o estudo destaca o potencial das abordagens filogeográficas explícitas na paisagem para reconstruir trajetórias evolutivas e ecológicas de clados com registos fósseis incompletos. A metodologia utilizada fornece uma nova forma de observar a história natural em contextos geográficos e climáticos que não estão diretamente preservados, abrindo caminho para a aplicação do mesmo tipo de análise a outros grupos fósseis com registos igualmente fragmentados.
Referência da notícia:
Flannery-Sutherland, J.T., Elsler, A., Farnsworth, A. et al. Landscape-explicit phylogeography illuminates the ecographic radiation of early archosauromorph reptiles. Nat Ecol Evol (2025).