Tempo da próxima semana em Portugal: invulgar depressão atlântica trará rio atmosférico, eis os efeitos!

A próxima semana poderá ser mais quente do que a atual, apesar da continuidade dos aguaceiros e trovoadas, irregulares mas pontualmente fortes. Uma depressão atlântica impulsionará vento do quadrante Sul, permitindo uma gradual subida da temperatura. Eis a previsão para Portugal!

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Graças a uma rara depressão atlântica que arrastará consigo um rio atmosférico, há potencial para um grande temporal nos Açores, na Madeira e também em Portugal continental na próxima semana.

A formação de uma depressão atlântica abaixo da nossa latitude não é incomum, contudo, em meses estivais como o de junho, esta é uma ocorrência rara. Uma depressão tão cavada nesta área do Atlântico, com ar tão frio em altitude e abaixo do paralelo 40º é algo particularmente invulgar para um junho, mês marcado pelo domínio das altas pressões nesse setor.

Um jato polar muito fragilizado e o poderoso anticiclone de bloqueio em redor das Ilhas Britânicas e oeste da Escandinávia vão deixar a via aberta para o descolamento de uma massa de ar frio em pleno Oceano Atlântico que originará esta depressão relativamente cavada. A partir do próximo domingo, 4 de junho, estará nas imediações do Arquipélago dos Açores e, posteriormente, aproximar-se-á de Portugal continental.

Este sistema terá de ser monitorizado com muita atenção ao longo dos próximos dias dado que a sua posterior aproximação a Portugal continental irá contribuir para influenciar o estado do tempo que viveremos na semana vindoura. Arrastará desde o Oeste aquilo que é conhecido como um rio atmosférico, ou seja, uma massa de ar com um teor de humidade consideravelmente elevado, adquirido em latitudes subtropicais sobre o Atlântico.

As alterações associadas a esta situação meteorológica vão começar a ser sentidas a partir de segunda-feira (5), quando a circulação externa deste centro de baixas pressões começar a atingir, primeiro a Madeira, e depois Portugal continental.

Conforme a semana for decorrendo, a depressão terá tendência a deslocar-se para norte, perdendo gradualmente a sua intensidade e, por fim, sendo reabsorvida pela circulação do jato polar. Ainda assim, a depressão em altitude à qual está associada permanecerá por Portugal continental e partes de Espanha, podendo fazer com que o tempo instável persista durante mais uns dias (entre 7 e 10 de junho possivelmente).

A incerteza que há em relação ao final da próxima semana na previsão e a ausência, nos modelos, de uma crista anticiclónica a médio prazo, leva a crer que possamos continuar sob a influência de depressões e gotas frias até meados de junho. Também se prevê trovoadas dispersas e possibilidade de chuva sob a forma de granizo em Portugal continental. Com este panorama espera-se que os aguaceiros e as trovoadas persistam, mas com outras características e distribuição.

Com mais vento em altitude e a presença de uma massa de ar mais quente em camadas inferiores da atmosfera, há que contar com mais energia e cisalhamento em pontos da Região Norte (sobretudo montanhosos) mas também do interior Centro. As trovoadas aí poderão ser dispersas, mas localmente intensas e acompanhadas de granizo. A sua trajetória será menos errática dos que a destes últimos dias, uma vez que a sua origem será de Sul ou Sudoeste.

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Na cartografia sinótica aprecia-se perfeitamente o surgimento de uma depressão atlântica relativamente cavada sobre os Açores, Madeira e Canárias, a qual arrastará consigo um rio atmosférico e um potencial para inundações nestas Ilhas.

Potencial para grande temporal nos Açores e Madeira: risco de inundações, trovoada e estragos causados pelo vento

Estes aguaceiros e trovoadas irão também surgir quer nos Açores, quer na Madeira. Primeiro, logo no domingo 4 de junho, nas Ilhas Açorianas e, logo de seguida, na Madeira. Até terça, prevê-se que a depressão atlântica apareça de rompante sobre o Arquipélago açoriano, com períodos de chuva moderada a forte, ou aguaceiros, por vezes com abundante atividade elétrica, não sendo de descartar granizo e potenciais estragos causados pelo vento. Devido à quantidade de chuva esperada em poucas horas, também é provável a ocorrência de inundações rápidas, sobretudo em áreas historicamente vulneráveis.

Em todas as ilhas, entre segunda (5) e terça (6), o vento soprará muito forte, mas, é no Grupo Oriental que se prevê as rajadas mais fortes e a fase mais crítica do temporal: poderão atingir velocidade máxima de 100 km/h entre segunda (5) e terça (6) nas ilhas de São Miguel e Santa Maria!

O tempo severo também se manifestará entre segunda (5) e terça (6) na sua fase mais crítica no Arquipélago da Madeira, sob a forma de períodos de chuva moderada ou forte, ou aguaceiros - alguns convectivos - ou sob a forma de granizo e com condições favoráveis à ocorrência de trovoada. Isto acontecerá devido à possível colagem da cauda de uma das frentes da depressão atlântica que poderá atingir em cheio o Arquipélago da Madeira.

Tal como nos Açores, o risco de estragos causados por prováveis inundações e pelas fortíssimas rajadas de vento no Arquipélago da Madeira é elevado. Tome todas as precauções necessárias para se salvaguardar deste temporal, quer nas Ilhas, quer no Continente.

Temperatura a subir

A presença da depressão a oeste/sudoeste permitirá uma ligeira advecção do quadrante sul em todas as camadas atmosféricas, o que impulsionará uma massa de ar ligeiramente mais quente, proveniente de latitudes inferiores. A massa de ar a 850 hPa aquecerá progressivamente até alcançar valores térmicos típicos desta altura do ano.

Todavia, a abundante presença de nuvens e as trovoadas vão impedir a escalada das máximas e o seu afastamento em relação à média climática, sendo inclusive amenas em vastas regiões de Portugal continental. Só nalguns pontos do país é que se prevê temperatura máxima igual ou superior a 30 ºC, tais como a Região de Coimbra, Santarém ou alguns pontos do Vale do Guadiana e outros locais do Alentejo.