Calor tórrido, incêndios e poeiras impactam saúde pública em Portugal: eis as regiões mais expostas até dia 7 de agosto

Portugal continental atravessa a fase mais crítica do verão 2025. A prolongada onda de calor e os incêndios devastadores não dão tréguas, contribuindo para impactar a saúde pública, já para não falar das poeiras do Saara. Saiba a previsão completa!

A atual onda de calor está a ser gerada pela combinação de um centro de altas pressões localizado a norte do arquipélago dos Açores (anticiclone dos Açores), que se vai estendendo em crista até ao Golfo da Biscaia, e por uma depressão térmica que se desdobra desde o Norte de África até à Península Ibérica. Nesta ação conjunta ocorrerá o transporte de uma massa de ar tropical continental (origem no Norte de África), muito quente e seco.

Persistência de temperaturas extremamente elevadas desencadeia múltiplos avisos na nossa geografia

Os mapas de referência utilizados pela Meteored antecipam que este episódio de calor tórrido persista, pelo menos, até à próxima quinta-feira, 7 de agosto, não se excluindo a hipótese de que se prolongue para lá desta data. O período de tempo quente entre domingo (3) e terça-feira (5) será particularmente crítico, estando previstos valores de temperatura máxima do ar muito elevados.

Prevê-se que a a atual onda de calor tórrido dure, pelo menos, até quinta-feira, 7 de agosto.

Prevê-se que os termómetros registem entre 35 e 40 ºC em grande parte da geografia de Portugal continental, e entre 41 e 44 ºC no Alentejo (Portalegre, Évora, Beja), vale do Tejo (Lisboa, Santarém e Setúbal) e vale do Douro (Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda). Nalguns locais das regiões supracitadas, a temperatura máxima poderá escalar até aos 45 ºC! Mesmo assim, é expectável uma descida temporária da temperatura máxima na segunda-feira (4) no Algarve.

Incêndios libertam dióxido e monóxido de carbono. Em excesso estes gases são perniciosos para a saúde

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o fumo dos incêndios florestais é uma combinação de poluentes atmosféricos perigosos, como as PM2.5, o dióxido de azoto, o ozono ou o chumbo, que tornam o ar contaminado.

O fumo tóxico gerado pela combustão existente nos incêndios afeta o clima uma vez que são libertadas para a atmosfera quantidades enormes de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa (GEE).

Especialistas de universidades norte-americanas e britânicas esclarecem que no momento em que estas partículas chegam ao pulmão, o ser humano fica sujeito a uma inflamação sistémica, com todos os outros sistemas do corpo a ficarem potencialmente afetados.

"O pulmão fica junto ao coração, pelo que há provas de que a exposição à poluição atmosférica pode afetar a saúde cardíaca."

Colleen Reid, especialista da Universidade do Colorado em Boulder

Ainda segundo estes especialistas, devemos estar conscientes de todos os perigos que os incêndios florestais representam, e não apenas do risco imediato para a vida. "Um dos poluentes resultantes dos grandes incêndios florestais é o monóxido de carbono", explica Kelly, professor e perito em saúde ambiental e poluição do Imperial College de Londres.

Como papel químico! As concentrações de monóxido de carbono previstas para as próximas horas e dias em Portugal continental corresponde na perfeição às localidades e regiões mais afetadas pelos incêndios florestais. O Noroeste (Minho e Douro Litoral) poderão registar concentrações elevadíssimas (superiores a 400/500 µg/m³!)

De acordo com este especialista, está provado que o monóxido de carbono é um poluente muito perigoso em concentrações elevadas, com potencial impacto na função cognitiva. Deste modo, é possível que, quando expostos repetidamente a incêndios florestais, os seres humanos possam desenvolver a médio ou longo prazo defeitos cardíacos e doenças degenerativas.

Nos próximos 3 dias espera-se que os distritos mais afetados pelas concentrações excessivas de monóxido de carbono sejam: Viana do Castelo, Braga e Porto (níveis entre 350 e 550 µg/m³). Porém, é preciso cautela também nos de Vila Real, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Lisboa, e partes dos de Setúbal, Portalegre e Castelo Branco (níveis de monóxido de carbono superiores a 200/250 µg/m³).

Poeiras do Saara previstas pelo menos até quinta-feira, 7 de agosto, saiba os riscos para a saúde

Além do vários perigos para a saúde humana e animal causados pelo calor extremo e pelos incêndios florestais, existem os riscos decorrentes do transporte de poeiras do Saara, cuja ocorrência é frequente quando Portugal continental fica condicionado por uma configuração sinóptica como a atual.

A massa de ar tropical muito quente e seca proveniente do continente africano e, em concreto, do Deserto do Saara, conterá as já conhecidas poeiras. Estas partículas acarretam inúmeros benefícios para os solos e para a vegetação (por exemplo, são ricas em minerais que fertilizam culturas agrícolas e nutrem as paisagens, tornando-as verdejantes).

Por outro lado, trazem malefícios para a saúde humana

  • Deterioração da qualidade do ar - a concentração de poeiras pode, em certas ocasiões, atingir números equivalentes aos de grandes cidades e metrópoles com elevados níveis de poluição atmosférica;
  • Causam ou agravam problemas em pessoas com doenças respiratórias e/ou cardiovasculares;
  • Podem desencadear reações alérgicas e ataques de asma.

O perigo gerado pelas poeiras reside no conteúdo de bactérias, vírus, esporos, ferro, mercúrio e pesticidas.

Na quarta-feira, 6 de agosto, espera-se que as poeiras do Saara fiquem em suspensão, sobretudo, sobre as regiões a sul da Serra da Estrela.

Prevê-se que as poeiras do Saara cheguem de forma faseada a Portugal continental entre hoje, domingo (3) e quinta-feira (7), sendo possível que perdurem em território nacional para lá desta data.

Apesar dos riscos para a saúde humana que as poeiras por vezes acarretam, as concentrações dos próximos dias não serão particularmente elevadas para colocar em perigo a saúde dos portugueses. Já no que concerne aos gases libertados pelos incêndios florestais, 'a história é outra', tal como comentámos acima.

Primeiro afetarão mais as regiões Sul e Centro na segunda (4), posteriormente - já na terça (5) - cobrirão o Norte também, e na quarta-feira, 6 de agosto, espera-se que condicionem a qualidade do ar e tornem o céu mais esbranquiçado/turvo na Beira Baixa, Alentejo, Algarve e Área Metropolitana de Lisboa.