Plantas que brilham no escuro: cientistas dão um passo fundamental para a criação de lâmpadas vivas
Os investigadores conseguiram fazer com que plantas comuns emitam luz multicolorida após exposição ao sol. Esta descoberta abre a possibilidade de sistemas de iluminação sustentáveis, embora subsistam dúvidas quanto ao seu impacto a longo prazo.

Cientistas da South China Agricultural University (SCAU), em Guangzhou, desenvolveram as primeiras plantas multicoloridas do mundo que brilham no escuro.
A descoberta, publicada na revista Matter, não depende da engenharia genética, mas de um método surpreendentemente simples e barato: injetar minúsculas partículas de fósforo nas folhas. Estes compostos, semelhantes aos utilizados nos brinquedos fluorescentes, captam os fotões e depois libertam-nos lentamente, gerando um efeito fosforescente visível durante algumas horas.
O segredo está nas partículas
O sucesso da técnica reside no ajuste do tamanho das partículas fosforescentes. Os investigadores determinaram que 7 micrómetros era o tamanho ideal para lhes permitir deslocarem-se através do tecido foliar sem perderem a capacidade luminosa.
Quando as partículas eram demasiado pequenas, a difusão era fácil, mas o brilho era insuficiente. As partículas maiores, por outro lado, produziam um brilho intenso, mas ficavam presas sem poderem viajar ao longo da folha.
As suculentas revelaram-se a espécie ideal para esta experiência, graças à estrutura dos seus tecidos: canais estreitos, uniformes e bem distribuídos que permitem que as partículas se difundam facilmente e gerem uma luminescência homogénea.
Do teste de laboratório à “parede brilhante”
Com alguns minutos de exposição à luz, as suculentas modificadas conseguiram brilhar até duas horas de cada vez. A utilização de diferentes produtos fosforescentes permitiu variar a paleta de cores, que incluía diferentes tonalidades de verde, azul e vermelho.
Scientists crafted glow-in-the-dark #succulents that recharge in sunlight. Injected with light-emitting phosphor, the plants can shine as bright as a small night light. https://t.co/GXVTp1bqnY#SCAU Shuting Liu & colleagues@Matter_CP pic.twitter.com/YhY8lXfekv
— Cell Press (@CellPressNews) August 27, 2025
Os investigadores deram um passo em frente e construíram uma instalação experimental: uma parede viva com 56 plantas brilhantes. O conjunto foi capaz de emitir luz suficiente para distinguir objetos próximos ou mesmo ler a curta distância.
O procedimento também se revelou rápido e económico. A preparação de cada planta levou apenas dez minutos de trabalho e o custo dos materiais foi de cerca de um euro e meio, sem incluir a mão de obra.
Aplicações potenciais e limites atuais
A descoberta suscita tanto entusiasmo como cautela. Por um lado, os cientistas prevêem utilizações práticas imediatas: iluminação de caminhos, jardins, espaços interiores ou decorações sustentáveis que poupam energia.
No entanto, subsistem questões importantes. A intensidade do brilho diminui com o tempo e o efeito destas partículas na saúde das plantas ou no ambiente natural não foi estudado em profundidade. Antes de considerar a produção comercial, os investigadores sublinham a necessidade de avaliar a segurança e a durabilidade do tratamento.
Outro desafio é a possibilidade de transferir o método para outras espécies além das suculentas, o que alargaria o leque de aplicações e levaria a tecnologia a plantas de maior porte ou com funções ornamentais e urbanas mais relevantes.
Uma nova forma de biointegração
Para além da estética e da curiosidade científica, o trabalho representa um passo em frente na integração de micromateriais inorgânicos em organismos vivos sem alterar o seu ADN. De acordo com os autores, esta abordagem poderá conduzir a um futuro em que a biologia e a tecnologia convergem para criar soluções sustentáveis, reduzindo o consumo de energia e a pegada ambiental.
Para já, as plantas brilhantes são uma experiência fascinante, a prova de que a natureza pode tornar-se uma fonte de luz com um pequeno empurrãozinho tecnológico. O tempo dirá se estas suculentas luminosas são apenas uma curiosidade científica ou o prelúdio de uma revolução verde na iluminação urbana.
Referência da notícia
Shuting Liu et al. Sunlight-powered multicolor and uniform luminescence in material-engineered living plants. Matter (2025). https://doi.org/10.1016/j.matt.2025.102370