Chaos gardening: moda que promete cor, liberdade e sustentabilidade, mas que também levanta dúvidas sobre manutenção

Chaos gardening: a nova moda que conquista jardineiros e redes sociais promete cor e liberdade, sem regras de planeamento. A prática, simples e intuitiva, liberta da pressão dos jardins formais. Mas especialistas alertam: nem sempre resulta e pode trazer riscos ambientais. Saiba mais aqui!

Pacotes aleatórios e tendências nos jardins
Chaos gardening é uma nova tendência, que se sustenta no uso de pacotes de sementes aleatórios para plantação nos jardins.

Nos últimos meses, uma tendência conhecida como chaos gardening (jardinagem-caos) tem conquistado espaço nas redes sociais e despertado a curiosidade de jardineiros ocasionais e amantes da natureza. A ideia é simples: pegar em pacotes de sementes, muitas vezes esquecidos, misturá-los e lançá-los ao acaso no solo. Depois, basta esperar que a diversidade faça o resto, transformando o espaço num jardim colorido, aparentemente espontâneo e despreocupado.

A jardinagem-caos surgiu como uma resposta à pressão do perfeccionismo associado aos jardins formais e meticulosamente planeados. Em vez de se preocupar com esquemas de cores, alinhamentos ou espaçamentos, quem adere à tendência opta por uma abordagem mais intuitiva: sem desenhos prévios nem cálculos, apenas a surpresa do que irá florescer. Para muitos, trata-se de um modo descontraído de experimentar, reduzindo a ansiedade associada à manutenção de espaços verdes.

No entanto, como sublinha Deryn Davidson, especialista em paisagem sustentável da Colorado State University Extension, nem tudo é tão simples quanto os vídeos virais fazem parecer.

“De vez em quando, surgem tendências que prometem ser a solução milagrosa para a jardinagem: poupar água, atrair polinizadores e não exigir manutenção. A realidade é que a jardinagem-caos pode resultar, mas nem sempre”, refere a investigadora.

O que é e o que não é a jardinagem-caos?

Na prática, a jardinagem-caos consiste em espalhar uma mistura variada de sementes, desde flores anuais a perenes, muitas vezes aproveitando sobras ou misturas comerciais. O objetivo é criar densidade, cor e surpresa. Apesar da aparência rebelde, não se deve confundir este estilo com técnicas de restauro ecológico ou criação de prados de polinizadores, que exigem seleção de espécies, preparação cuidada do solo e gestão a longo prazo.

Uma das razões para a popularidade do conceito é a simplicidade. Muitas pessoas desejam jardins bonitos, mas sem o peso das regras de design paisagístico ou da necessidade de conhecimentos técnicos. A jardinagem-caos surge como uma alternativa acessível, mais lúdica e permissiva.

Ao mesmo tempo, responde ao desejo crescente de contacto com a natureza. Estudos mostram que, mais do que os benefícios ambientais, é a ligação emocional e a acessibilidade que motivam as pessoas a jardinar. Assim, o simples ato de lançar sementes pode ser suficiente para criar entusiasmo e estimular a descoberta.

Quando funciona melhor? E onde se pode falhar?

Os melhores resultados surgem quando há alguns “travões” no caos. Recomenda-se escolher plantas com necessidades semelhantes, sobretudo anuais de crescimento rápido e floração abundante, como zínias, cosmos, tagetes ou girassóis. Além de atrativas, estas espécies oferecem flores cortadas para ramos, o que aumenta a recompensa.

Outro fator determinante é a adaptação ao contexto local. O que resulta bem num clima seco pode falhar num clima mais húmido. O tipo de solo, o pH, a disponibilidade de água e a duração da estação de crescimento são variáveis que influenciam a escolha das espécies.

A investigadora sublinha ainda a importância de incluir flores ricas em néctar e pólen, como rudbéquias, monardas ou equináceas, para beneficiar polinizadores locais. Planear a floração ao longo de várias estações permite fornecer alimento contínuo a abelhas, borboletas e outros insetos.

Por fim, alguma preparação do terreno faz diferença: remover infestantes, soltar a camada superficial do solo e regar com regularidade, sobretudo na fase de germinação, garante maiores taxas de sucesso.

Apesar do entusiasmo online, há riscos e limitações. A escolha de espécies inadequadas para as condições de luz, água ou solo pode comprometer o desenvolvimento das plantas. Mais grave ainda, muitas misturas comerciais rotuladas como “nativas” incluem espécies exóticas que podem tornar-se invasoras, ameaçando os ecossistemas locais.

Além disso, a ideia de que basta lançar sementes e esperar o milagre não corresponde à realidade. Jardins-caos também exigem manutenção: rega, controlo de infestantes e, no fim da estação, a remoção das anuais que completaram o ciclo.

Mais do que uma moda, uma forma de conexão com a natureza

Por detrás da estética despreocupada, a jardinagem-caos pode servir de porta de entrada para algo mais profundo. Quem começa por lançar sementes de zínias pode, com o tempo, interessar-se por espécies autóctones, pela observação de polinizadores ou pela saúde do solo. Nesse sentido, esta tendência pode despertar uma consciência maior para a biodiversidade e para a sustentabilidade.

Chaos gardening e sustentabilidade ambiental
O chaos gardening pode ser mais do que uma moda. Esta tendência pode causar maior consciência pela biodiversidade e sustentabilidade ambiental.

Mesmo que não substitua jardins cuidadosamente planeados, pode ser o primeiro passo para aproximar mais pessoas da jardinagem e da natureza. O caos, afinal, pode ser apenas o início de uma relação duradoura com a terra.