A Golegã volta a ser a capital do cavalo: a maior festa do cavalo de Portugal está de regresso ao Ribatejo
A vila ribatejana volta a transformar-se no epicentro da cultura equestre. Entre 7 e 16 de novembro, a Feira Nacional do Cavalo leva milhares de visitantes à Golegã para dez dias de tradição, competição e festa.

Durante dez dias, o som dos cascos e o cheiro a castanhas assadas voltam a tomar conta das ruas da Golegã. A vila ribatejana prepara-se para receber, entre 7 e 16 de novembro, a 49.ª edição da Feira Nacional do Cavalo, que decorre em simultâneo com a 26.ª Feira Internacional do Cavalo Lusitano e a tradicional Feira de São Martinho.
Não se deixe enganar, esta não é apenas uma feira. É um ritual que atravessa gerações. Durante uma semana e meia, a pequena vila do distrito de Santarém transforma-se na capital viva da cultura equestre. Criadores, cavaleiros, tratadores e curiosos chegam de todo o país — e também de fora dele — para assistir às provas, sentir o ambiente e participar num evento que é, ao mesmo tempo, desporto, cultura e celebração.
Um programa cheio de energia, tradição e arte equestre
E quanto ao programa deste ano? Promete ser dos mais completos de sempre.
A organização anunciou mais expositores, novas zonas de exposição e um calendário competitivo repleto de provas, desde a Equitação de Trabalho à Dressage, passando pelos Saltos de Obstáculos, Endurance, Atrelagem e Técnicas de Randonnée Equestre de Competição.
Logo no arranque, a 7 de novembro, o público pode assistir ao Concurso Nacional de Saltos de Obstáculos, uma das provas mais aguardadas, e à abertura do Campeonato Nacional de Atrelagem, que se prolonga durante o fim de semana. No dia seguinte, o destaque vai para o Endurance, prova de resistência que põe à prova a ligação entre cavalo e cavaleiro em percursos que podem ultrapassar os 100 quilómetros.
A Equitação de Trabalho, que combina técnica, agilidade e herança rural, terá as suas fases decisivas nos dias 15 e 16 de novembro, marcando o encerramento oficial das competições. Para quem prefere a elegância clássica da equitação portuguesa, o Concurso Nacional de Dressage e o Troféu Marquês de Marialva prometem momentos de grande nível, com alguns dos melhores binómios nacionais em pista.

Mas a feira não vive apenas de competição. Todos os anos, o Desfile de Amazonas — em que as cavaleiras montam de lado, como ditava a tradição do século XIX — é um dos pontos altos do evento, misturando tradição, elegância e cor. Também o Cortejo dos Romeiros de São Martinho, na manhã de 11 de novembro, continua a ser um momento de devoção e celebração popular. Centenas de cavaleiros partem da Porta de Fernão Lourenço até à Igreja Matriz, onde recebem a bênção antes de regressar ao Largo do Arneiro.
A feira dentro da feira: gastronomia, convívio e animação até de madrugada
E, claro que nem só de cavalos vive a Feira da Golegã. Quem a visita encontra uma vila em festa, com música, aromas e sabores que se confundem com a tradição ribatejana. Este ano, o recinto volta a contar com restaurantes e tasquinhas dedicados à gastronomia local, como o Solar Ribatejano, o Restaurante Lusitanos e o Rédea Curta, onde não faltam pratos de tacho e bons vinhos da região. Para quem prefere um ambiente mais informal, há roulotes espalhadas pelas ruas e as farturas do costume.
À noite, o ambiente muda de tom: as casetas e bares da feira enchem-se de gente e tornam-se palco de convívio e dança até de madrugada. O Coparias, com várias versões (Dia, Noite e Taberna), é já um clássico do evento, a par do Cabriolas, que este ano volta a ter entrada gratuita, embora com pulseiras prioritárias disponíveis para quem quiser evitar filas. Entre um copo de abafado e um brinde de ginja, há sempre tempo para reencontrar amigos ou conhecer quem partilha o mesmo entusiasmo pela festa equestre.
Sim, também há espaço para momentos mais tranquilos. Exposições, lançamentos de livros, homenagens e aulas abertas completam a programação cultural. Este ano, a feira presta tributo a Manuel dos Santos, figura mítica da tauromaquia nacional, e ao mestre Nuno de Oliveira, reconhecido mundialmente pela sua contribuição para a arte equestre portuguesa.
Como chegar, onde ficar e o que não pode perder
A Golegã está a cerca de 120 quilómetros de Lisboa e é facilmente acessível por estrada. Durante o evento, a Câmara Municipal reforça a logística com 32 parques de estacionamento, incluindo zonas reservadas a expositores e transportes de cavalos, para evitar congestionamentos no centro.
Quem decidir prolongar a estadia encontra várias opções de alojamento local, desde casas rurais a pequenas pousadas e hotéis de charme. A vila convida ainda a passear pelas ruas iluminadas, visitar o Museu Martins Correia ou a exposição temporária “Manuel dos Santos e o São Martinho”, patente no museu local.

Como não podia deixar de ser, o Dia de São Martinho, a 11 de novembro, continua a ser o momento mais simbólico da feira — e, para muitos, o dia ideal para visitar. É quando o Largo do Arneiro se enche de público, cavaleiros e romeiros, num cenário único em Portugal, onde se misturam tradição, fé e boa disposição.
Entre o bater dos cascos, o cheiro a palha e o som das guitarras, a Feira Nacional do Cavalo é um daqueles eventos que se sentem mais do que se descrevem. É o retrato fiel da alma ribatejana: genuína, calorosa e orgulhosa das suas raízes. E, como manda a tradição, enquanto houver cavalo, haverá Golegã — e enquanto houver Golegã, haverá festa.