Vai nascer no Alentejo um santuário para elefantes resgatados de cativeiros
Rodeados de sobreiros e olivais, estas enormes criaturas vão colocar a região alentejana no mapa mundial de conservação da vida selvagem. Descubra aqui onde ficará o primeiro refúgio em grande escala da Europa.

Sabia que há milhares de anos havia elefantes a vaguear pela Península Ibérica? Vestígios de pegadas com mais de 30 mil anos do Palaeoloxodon antiquus, ou elefante-antigo, já foram encontrados no litoral alentejano. Foi há muito, muito tempo, durante os períodos interglaciais do Plistoceno Médio e Superior.
A data de inauguração ainda não é conhecida, mas a apresentação oficial do primeiro santuário de elefantes em grande escala da Europa está marcada para a tarde desta quinta-feira, 6 de novembro.
O evento irá acontecer no Cineteatro Florbela Espanca, em Vila Viçosa, com a presença dos autarcas dos dois municípios e representantes da Pangea Trust, a entidade, com sede no Reino Unido e em Portugal, que irá gerir este espaço.

São três propriedades, com cerca de 400 hectares, partilhados entre estes dois municípios do distrito de Évora. O acontecimento é único e colocará a região alentejana no mapa mundial da conservação da espécie. Vale a pena, por isso, conhecer esta história desde o seu início.
Resgatar os animais do cativeiro
O projeto nasceu de uma enorme dificuldade sentida nos países europeus. A maioria dos estados da UE proibiu o uso de animais em circos, mas a legislação trouxe um novo problema.
Mais de 600 elefantes vivem atualmente em cativeiro na Europa, segundo a Pangea Trust. Boa parte dos zoológicos não tem capacidade logística e financeira para acolher estes animais. Os governos, sem opções, deparam-se com inúmeros obstáculos para fazer cumprir as leis de bem-estar animal.
Porquê o Alentejo?
Existem santuários de grande porte em África, Ásia e Américas, mas não na Europa. Após um extenso estudo de viabilidade e uma busca por todo o continente, a organização encontrou finalmente um terreno no Alentejo.
A região oferece as condições ideais para os elefantes vagarem, procurarem por alimento e socializarem, contribuindo simultaneamente para o restauro ecológico.
A Pangea viu, portanto, no Alentejo a oportunidade de criar um espaço destinado aos elefantes, mas também a outros animais resgatados dos cativeiros oriundos de todos os pontos da Europa.
A propriedade poderá acolher até 24 elefantes, e animais em famílias ou com juvenis que tenham estado em circos ou em outras situações de cativeiro.
Planícies amplas e cuidados especializados
Inspirado em refúgios naturais de grande porte em outros continentes, o projeto foi planeado por especialistas em elefantes em cativeiro e biólogos de elefantes selvagens.

O plano foi apresentado aos dois municípios em novembro de 2022, obtendo a aprovação de ambas as autarquias. Foi ainda necessário esperar pelos pareceres favoráveis do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.
A organização estabeleceu parcerias com especialistas em paisagens mediterrânicas para restaurar a flora e fauna nativas. Áreas de eucaliptos e de pastagens degradadas foram regeneradas para ajudar a recuperação da natureza.

Espera-se que a combinação dos princípios da reintrodução da vida selvagem com práticas de gestão da terra, como baixas densidades de elefantes, contribua para aumentar a biodiversidade, melhorar a qualidade do solo, reduzir a erosão e a degradação do habitat e ainda diminuir o risco de incêndios florestais.
Conservação, ciência e turismo
Além de assegurar a proteção animal, a iniciativa pretende também afirmar o Alentejo como referência internacional na conservação do ambiente. O objetivo do santuário é vir a colaborar com universidades e centros de investigação em estudos sobre comportamento animal e ecossistemas de grande porte.
O contacto com estes animais será cuidadosamente planeado. A interação humana terá de ser sempre limitada e o acesso ao público não acontecerá diariamente, mas em dias previamente estipulados pela organização.
Mas estão previstas, por exemplo, parcerias com instituições académicas onde os estudantes poderão visitar o santuário e aprender sobre o trabalho ali desenvolvido.

Serão criados ainda programas de voluntariado e um centro educacional, próximo do santuário, com exposições interativas e transmissões de vídeo para os visitantes aprenderem mais sobre a vida destas criaturas enquanto os observam ao vivo e a cores.
Aguardemos, então, pelo regresso dos paquidermes à Península Ibérica. O Alentejo está pronto para lhes dar as boas-vindas nestas planícies de azinheiras, sobreiros e olivais, onde vão ter tudo para esquecer os dias de cativeiro e serem felizes.
Referência da notícia
A haven for nature, a sanctuary for elephants – Pangea Trust