Técnica baseada em IA é desenvolvida para prever erupções vulcânicas com até 12 horas de antecedência

Uma equipa de investigadores liderada pela Universidade de Granada está a revolucionar a vulcanologia ao analisar tremores com inteligência artificial para antecipar explosões magmáticas, salvando assim vidas em áreas de alto risco como La Palma.

erupção vulcânica
Ter alertas precoces para uma erupção vulcânica não só salva vidas, como também promove o desenvolvimento sustentável. Hoje, graças à IA, isso é possível.

Na mitologia grega, Hefesto, o deus ferreiro, forjava armas na sua forja localizada no coração vulcânico da ilha de Lemnos, no Mar Egeu, cujas erupções sempre surpreendiam os mortais. Hoje, a ciência está a transformar essa fúria imprevisível em algo controlável.

Imagine um sistema que lê os "sussurros" do subsolo como um herói astuto, avisando-nos antes que o dragão desperte. Este é o novo método desenvolvido por investigadores espanhóis que promete prever erupções vulcânicas com até 12 horas de antecedência, mudando para sempre a forma como lidamos com esses gigantes de lava.

Este avanço não é apenas um dispositivo tecnológico; é um escudo para comunidades inteiras. Em 2021, a erupção do vulcão Tajogaite, em La Palma, deixou milhares de pessoas desabrigadas e causou milhões de euros em prejuízos, lembrando-nos da fragilidade de se viver à beira de um vulcão.

Agora, com a ajuda da inteligência artificial (IA), podemos ganhar um tempo precioso para agir, como num filme de desastre onde o herói aciona o alarme a tempo.

É assim que funciona a IA "farejadora" de vulcões

Imagine os vulcões como panelas de pressão gigantes: o magma desce em bolhas e os tremores são como bolhas a subir. Essa técnica baseada em IA, criada por uma equipa interdisciplinar da Universidade de Granada com especialistas do México, Tenerife e Nova Zelândia, "escuta" estes ruídos sísmicos em tempo real utilizando três truques matemáticos simples.

  • Primeiro, a entropia de Shannon, que mede a "desordem" das vibrações: quando ela diminui, é como se a festa estivesse a preparar-se para uma grande explosão, indicando que o magma está a mover-se com um propósito.
  • Em segundo lugar, o índice de frequência, que deteta se os tremores mudam de tom, como uma sinfonia que acelera antes do clímax.
  • Em terceiro lugar, a curtose, uma variável estatística que indica se os dados apresentam valores discrepantes (valores excessivos) ou se a distribuição é mais "pesada" ou "leve" nos extremos, sendo eficaz na deteção de eventos repentinos, como batidas fortes numa porta.

Treinada com mais de uma década de dados do vulcão Colima, no México, e da erupção de La Palma, esta ferramenta analisou milhares de terramotos para aprender padrões.

Em testes com vulcões na Grécia, Itália, EUA, Peru e Rússia, o sistema previu com precisão o início da erupção do Tajogaite com 9 horas de antecedência e o seu fim em apenas 3 horas. Não é magia: é como um médico a usar um estetoscópio inteligente para ouvir as batidas irregulares do coração da Terra antes de uma erupção.

Um futuro mais seguro à sombra do vulcão

Esta conquista, publicada na revista Journal of Volcanology and Geothermal Research, marca um ponto de viragem na proteção civil. Com um alerta de 12 horas, os governos podem evacuar bairros inteiros, como foi previsto durante a crise de La Palma, onde o pânico foi amplificado pela repentina ocorrência do evento.

Graças à IA, que pode ser categorizada como um "talento divino" moderno, dados caóticos podem ser integrados no conhecimento, reduzindo não apenas as perdas humanas, mas também as perdas económicas em regiões turísticas como as Ilhas Canárias ou o México.

La Palma, vulcão
O vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, entrou em erupção em setembro de 2021. Cerca de 85.000 pessoas vivem na ilha.

Mas vamos além: num mundo envolvido num processo de alterações climáticas que estão a despertar ainda mais esses "gigantes adormecidos", esta tecnologia promove a resiliência global.

Os investigadores defendem a sua rápida adoção, pois cada hora ganha representa uma vida salva. A transição do mito para os modelos preditivos mostra como a humanidade pode domar o indomável, forjando uma espada de esperança para superar a imprevisibilidade da natureza.

Referência da notícia

Characterization of volcanic stages using seismic features: Case of Tajogaite (2021) and Colima (2013−2022). 08 de outubro, 2025. Rey-Devesa, et al.