Japão lança simulação de IA da erupção do Monte Fuji: é assim que afetaria 20 milhões de pessoas em Tóquio
A animação projeta como as cinzas podem cobrir ruas, prédios e veículos, e reabre o debate sobre como comunicar riscos sem gerar pânico.

Esta semana, o Governo Metropolitano de Tóquio divulgou um vídeo gerado por IA a recriar uma erupção do Monte Fuji e a chegada de cinzas à capital.
O vídeo, divulgado pela Divisão de Prevenção de Desastres, mostra uma mulher a receber um alerta no seu telemóvel. Em poucos minutos, o céu escurece enquanto uma nuvem de cinzas avança, começando a interromper o transporte, a energia e o abastecimento.
japanese govt releases ai generated eruption of mt fuji in awareness campaign: pic.twitter.com/Z2hzvSz0LS
— ian bremmer (@ianbremmer) August 29, 2025
O vídeo utiliza imagens geradas por IA para retratar uma coluna eruptiva no Monte Fuji e a subsequente queda de cinzas em direção ao leste. No pior cenário, os modelos estimam que as cinzas poderiam cobrir o centro de Tóquio em apenas duas horas, com impactos imediatos na saúde, energia, transporte e abastecimentos em geral. Trata-se de um material pensado para a comunicação pública atual: breve, visual e fácil de partilhar.
A peça foi lançada para o Dia Mundial da Prevenção de Desastres Vulcânicos, comemorado no Japão todos os 26 de agosto. A ideia não era espalhar pânico, esclareceram as autoridades, mas sim ajudar os 20 milhões de moradores da região metropolitana a saber o que fazer em caso de erupção do vulcão. "Não há sinais de uma erupção iminente", enfatizam.
IA para responder a um antigo problema de comunicação de risco
Um dos aspetos mais impressionantes desta experiência é como a inteligência artificial foi utilizada como ferramenta de comunicação de risco. As imagens geradas permitem que um perigo abstrato — como uma grande queda de cinzas — seja traduzido em cenas que as pessoas podem visualizar no seu quotidiano: ruas nubladas, telhados desabados, transporte parado.
Este impacto visual facilita que a ideia de "preparação" passe de um conceito vago para um plano de ação concreto, que inclui tudo, desde armazenar água e lanternas até armazenar máscaras de cinzas ou elaborar um plano familiar.

No entanto, nem tudo são flores. A utilização da inteligência artificial para comunicar riscos tem as suas vantagens: é impactante, emocional e motiva as pessoas a prepararem-se. Ao mesmo tempo, abre um debate inevitável: onde está a linha entre educar e assustar?
Especialistas do setor de turismo e especialistas em gestão de emerg��ncias alertam que um tom excessivamente apocalíptico pode gerar confusão, medo ou até mesmo prejudicar a economia local se for interpretado como um alerta genuíno.
Por este motivo, as autoridades de Tóquio insistem em enfatizar que se trata de um exercício de consciencialização e não de um alerta de emergência contínuo. O equilíbrio entre informar sem alarmar torna-se, neste momento, tão delicado quanto necessário.
Um emblema da cidade e uma ameaça latente
A história do Monte Fuji é indissociável da do Japão. A sua formação começou há cerca de 100.000 anos, resultado da atividade ao longo do "Anel de Fogo do Pacífico". Várias erupções moldaram a sua silhueta atual, considerada quase perfeita.
A mais memorável é a erupção do Hoei de 1707. Durante semanas, enormes quantidades de cinzas cobriram Edo, a antiga Tóquio. Embora não tenha havido fluxos de lava, o desastre interrompeu as plantações, forçou a evacuação de aldeias e marcou a memória coletiva.

Desde então, o vulcão não voltou a entrar em erupção, o que aumenta a preocupação: períodos de calmaria não significam extinção, mas sim que a energia está a acumular-se no subsolo.
Nesse contexto, simulações e visualizações digitais servem ao propósito de ensaiar o pior para estar mais bem preparado. Estudos de comunicação sustentam que materiais que mostram, em vez de apenas explicar, geram maior recordação e predisposição à ação.
No Japão, um país acostumado a conviver com terramotos e vulcões, a chave é transmitir a gravidade do risco sem perder de vista o facto de que atualmente não há sinais de uma erupção iminente. Preparar-se, em resumo, significa reduzir impactos futuros: desde ter filtros de cinzas até planear como se locomover ou manter provisões básicas em casa.