Prevê-se que os castores provoquem a mudança mais visível da paisagem no Ártico dos últimos séculos
Um novo estudo da Universidade do Alasca e da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia mostra como as alterações climáticas têm influência na distribuição das lagoas dos castores no Alasca.

O estudo sublinha que o aumento projetado na distribuição das lagoas dos castores e as mudanças associadas exigirão uma reavaliação da forma como compreendemos e gerimos os ecossistemas da tundra ártica.
As lagoas dos castores criam impacto no ecossistema
As lagoas dos castores são criadas pelas barragens construídas por castores para formar tocas subaquáticas e áreas de alimentação. Essas represas, além de serem lares para os castores, desempenham um papel crucial no ecossistema, melhorando a qualidade da água, fornecendo habitats para diversas espécies e ajudando a regular o fluxo hídrico.
As barragens atuam como filtros naturais, retendo sedimentos e poluentes, e a água que sai das lagoas é geralmente mais limpa do que a que entra. As lagoas e os canais criados pelos castores atraem uma variedade de vida selvagem, incluindo insetos, peixes, anfíbios, aves e outros mamíferos.
Os castores são considerados "engenheiros do ecossistema" devido ao seu impacto significativo na paisagem e na biodiversidade. As suas atividades de construção de barragens podem transformar áreas de fluxo rápido em áreas de água parada, criando novos habitats e modificando o fluxo do ecossistema.
Distribuição das lagoas de castores nos cenários climáticos futuros
As lagoas dos castores começaram a aparecer na tundra ártica, surgindo na década de 1970 no oeste do Alasca, e, desde então, expandiram-se para regiões mais profundas da tundra. Atendendo a esta expansão em regiões de tundra é importante a observação dos ecossistemas típicos de riachos de tundra do norte do Alasca, norte do Canadá, norte da Europa e norte da Ásia.

Para o desenvolvimento do estudo foi empregue uma combinação de dados históricos, imagens de satélite e modelos climáticos para compreender e prever esta expansão.
Os autores do estudo científico utilizaram mais de 11.000 localizações mapeadas de lagoas de castores no Ártico do Alasca e os seus atributos climáticos, geográficos e ambientais para compreender quais destes atributos controlam a distribuição das lagoas de castores e, se a temperatura for um dos fatores, como é que a distribuição dessas lagoas irá mudar nos cenários climáticos futuros.
No clima atual, as lagoas de castores estão disseminadas na maior parte no oeste do Alasca.
De acordo com o estudo, prevê-se que até 2050, em cenários climáticos futuros, na encosta norte do Alasca, que atualmente não possui lagoas de castores, comecem a aparecer essas lagoas, comparável ao oeste do Alasca.
Como consequência da expansão da engenharia dos castores para zonas mais profundas da tundra, haverá um novo regime de perturbação na tundra (pelo menos à escala dos séculos), intensificado pelo aquecimento e em expansão para o Ártico.

Como resultado destas alterações físicas, a biodiversidade irá provavelmente aumentar localmente. À medida que os castores continuam a remodelar os cursos de água, a sua engenharia introduz uma perturbação persistente nos ecossistemas da tundra de terras baixas.
Num cenário climático extremo, de alta emissão de gases de efeito estufa, aumentará para 79 600 km² em 2050 e 151 000 km² em 2090; num cenário onde as emissões globais de gases de efeito estufa estabilizam em meados do século XXI e depois diminuem, aumentará para 54 500 km² em 2050 e 99 000 km² em 2090.
Especificamente, o estudo prevê que a encosta norte do Alasca, atualmente desprovida de lagoas de castores, se tornará adequada para eles em meados do século, comparável às condições atuais do oeste do Alasca.
O estudo também mostra como a temperatura é um fator crucial na determinação da distribuição das lagoas dos castores e do seu impacto em todo o ecossistema através da construção de barragens na tundra do Alasca.
Referência da notícia
“Predicted expansion of beaver pond distribution in Arctic Alaska, 1910–2090”, Ken D Tape and James D M Speed, Environmental Research Letters, Volume 20, Number 9, Published 30 July 2025.