'Ponto de não retorno': registados primeiros eventos calor e humidade!

As condições de calor e humidade na atmosfera podem ser desagradáveis, mas num novo estudo descobriu-se que, pela primeira vez, nos registos da história climática da Terra, alguns locais no planeta superaram os limites da sobrevivência humana.

Suor
As condições atmosféricas que foram medidas estavam quentes e húmidas ao ponto de a sobrevivência humana ser fisicamente impossível.

Por experiência, a maioria de nós sabe que é mais fácil lidar com o ar seco do que com o calor húmido. Isto não tem apenas a ver com a forma como sentimos a humidade, existe uma explicação científica. A nossa temperatura corporal central tem de permanecer dentro de uma gama relativamente estreita de temperaturas para que possamos funcionar eficazmente - dentro de meio grau acima ou abaixo de 36,8 ºC é normal. Se a nossa temperatura central atingisse os 40°C, o calor provocaria uma séria ameaça à nossa vida e a maioria das pessoas não conseguiria sobreviver à temperatura central do seu corpo ao atingir os 43°C.

Mantermo-nos frescos

Para nos mantermos frescos, quando o tempo está quente, nós suamos. O suor em si não nos arrefece, não é como mergulhar num fluxo de ar frio, porque o suor está à mesma temperatura do nosso corpo. É a evaporação do suor que apresenta o efeito refrescante. Quanto mais rápido o suor se evapora, mais impacto tem.

Quando o ar está saturado e carregado de humidade, o nosso suor evapora-se muito devagar e possui a árdua tarefa de nos manter frescos.

Porque o ar húmido suprime a evaporação, existe um limite teórico para o quão frescos o suor nos consegue manter. Isto conhece-se por 'termohigrometria'. Para tal, experimente, num termo-higrómetro, enrolando um pedaço de pano húmido em torno do termo-higrómetro (literalmente, a temperatura medida quando o bulbo do termómetro está molhada(o)). Se possuir uma estação meteorológica pessoal, pode deixar a extremidade do pano mergulhada numa tigela de água e esta vai absorver a água à medida que seca.

Como o nosso metabolismo fornece uma fonte de calor adicional, o termo-higrómetro nem sequer precisa de se aproximar particularmente da temperatura central do nosso corpo para que estejamos em perigo; se a termohigrometria for superior a 30°C isso significa que estamos em sarilhos. Para comparação, os dias mais insuportáveis no Reino Unido apresentam termohigrometrias em torno dos 23 ºC. Para alcançar 30 ºC tem de estar realmente muito quente e muito húmido. Os modelos das alterações climáticas prevêem que este ponto possa ocorrer em algumas regiões, daqui a algumas décadas. Os investigadores descobriram que alguns locais já atingiram ocasionalmente o 'ponto de não retorno'.

Medições novas

Autores de um novo estudo, publicado na Science Advances, examinaram uma base de dados de uma estação meteorológica. Eles descobriram que, ao contrário das estimativas, os termohigrómetros que medem 30°C e acima, já começaram a aparecer. As regiões que sofrem destes eventos extremos de calor e humidade tendem a estar onde oceanos quentes se encontram com massas continentais também quentes, situadas nos trópicos e subtrópicos.

Cada episódio durou normalmente uma ou duas horas. Os "pontos quentes" em particular encontram-se nas regiões costeiras do Sul da Ásia, Médio Oriente, sudoeste da América do Norte, Golfo do México, Oeste dos EUA, Índia, Austrália, África Ocidental e Paquistão interior. Parte da elevada humidade pode-se dever à irrigação em grande escala.

Quando tais eventos ocorrem, a única forma de manter a temperatura corporal dentro de níveis seguros é encontrar um local mais fresco, como um edifício com ar condicionado, um fluxo de ar frio ou ir para debaixo do solo. Estar simplesmente à sombra e parar a atividade não é suficiente.

Como o clima continua a aquecer, é provável que estes eventos se tornem mais frequentes, mais prolongados e afetem um maior número de regiões povoadas. Estes eventos têm o potencial de ter sérias implicações na forma como essas populações poderão viver as suas vidas.