Pão de investigadores portugueses liberta compostos bioativos no momento certo para facilitar a sua digestão

Plantas medicinais do Alentejo, probióticos e farinha de bolota são os ingredientes centrais deste alimento que tem como trunfo técnicas inovadoras desenvolvidas pelas universidades de Coimbra, Évora e Algarve para promover a saúde digestiva.

Pão cortado ao meio
O pão dos investigadores portugueses mostrou-se capaz de esperar pelo processo digestivo para desprender compostos bioativos que promovem a saúde digestiva. Foto: Pixabay

O pão é um alimento central na dieta mediterrânica, mas cada vez mais evitado por estar associado a problemas digestivos e ao aumento do peso. O seu consumo em excesso, especialmente dos que são feitos com farinhas refinadas e fermentos químicos, pode provocar inchaço, flatulência, asia entre outros distúrbios gastrointestinais.

O pão hoje, na verdade, tem muito pouco a ver com aquele que foi consumido durante séculos pelos povos ancestrais, desde os egípcios, que descobriram a fermentação natural, até aos gregos e romanos que aprimoraram as técnicas de panificação, tornando-o num alimento central das suas dietas.

O trigo agora é cultivado para ter alta produtividade, resistente às doenças e processado industrialmente. A pressa de produzir em quantidade e a economia de escala acabaram por comprometer o seu valor nutricional, tornando inclusive indigesto para os intolerantes ao glúten.

Três universidade e um projeto inovador

Resgatar as melhores qualidades do pão é, por todas essas razões, o objetivo que levou os investigadores de três universidades portuguesas a se unirem em torno do projeto AlBread: Uso de plantas aromáticas do Alentejo e farinha de bolota no desenvolvimento de pão funcional.

O consórcio, liderado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, conta ainda com especialistas das faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade de Coimbra e das universidades do Algarve e de Évora.

Apoiado por empresas dos setores da extração de óleos essenciais, produção de farinhas e panificação, o programa visa criar um alimento com propriedades funcionais, utilizando ingredientes naturais com benefícios já demonstrados na saúde gastrointestinal.

ervas aromáticas e medicinais
Óleos essenciais de ervas aromáticas cultivadas no Alentejo estão na base do projeto AlBread. Foto: Pixabay

A integração de óleos essenciais extraídos de plantas aromáticas e medicinais do Alentejo, como a erva-príncipe e o rosmaninho, estão na base da fórmula que desenvolveram. A utilização de farinha de bolota proveniente da região do montado alentejano é outro dos elementos diferenciadores deste pão.

A aposta, no entanto, não está apenas centrada nos ingredientes, mas também em metodologias inovadoras que potencializam as qualidades do pão. Recorrendo a técnicas de manipulação laboratorial, os investigadores estão a encapsular compostos bioativos, como probióticos e óleos essenciais, para serem libertados no momento certo do processo digestivo, preservando o sabor e o aroma tradicional do pão.

Um salto evolutivo para a panificação

O protótipo de pão funcional está ainda em desenvolvimento, mas os investigadores asseguram ter já obtido “resultados promissores” nas fases de extração e encapsulamento dos compostos ativos.

Massa de pão na mesa do padeiro
A farinha de bolota é o ingrediente que fornece os nutrientes procurados pelos especialistas para desenvolver o novo pão: sem glúten, rica em amido, fibras, proteínas e lipídios com perfil semelhante ao azeite. Foto: Pixabay

"Contamos, em breve, apresentar um primeiro protótipo de pão funcional, com propriedades antioxidantes e digestivas, que respeite o sabor e a textura do pão tradicional, mas com benefícios acrescidos para a saúde", revelou o investigador Luís Alves, citado no comunicado da Universidade de Coimbra.

Os investigadores estão, aliás, convictos de que o desenvolvimento deste novo produto alimentar pode vir a ter um peso relevante no setor da panificação funcional em Portugal, aliando inovação científica, valorização de produtos locais e promoção de hábitos alimentares saudáveis.