Os colapsos antárticos podem induzir glaciações no Hemisfério Norte

A Água de Fundo Antártica cobre mais de dois terços do fundo do oceano global, e a sua formação diminuiu recentemente, contudo, a sua variabilidade a longo prazo é mal compreendida.

Antártida
Variações detetadas na Água de Fundo Antártica podem induzir o Hemisfério Norte numa era glaciar.

Uma equipa de investigadores reconstruiu a história da Água de Fundo Antártica desde há cerca de 4,7 milhões de anos e descobriu que esta sofreu algumas alterações por várias vezes, e que tais alterações podem ter induzido o transporte de humidade para alimentar a glaciação do Hemisfério Norte.

Um novo estudo, conduzido por uma equipa liderada pelo Professor Deng Chenglong do Instituto de Geologia e Geofísica (IGG) da Academia Chinesa de Ciências (CAS) e publicado na revista Science Advances, foi baseado num nódulo Fe-Mn de 36 mm de diâmetro do Pacífico Oriental, localizado 5050 m abaixo do nível do mar.

O nódulo descoberto e os resultados

O nódulo foi recolhido pelo Guangzhou Marine Geological Survey do Geological Survey da China.

A análise magnética foi um fator importante na obtenção de resultados precisos de datação. "Esta é uma pista, embora a datação final tenha sido obtida por integração com 10Be/9Be (rácio de fluxo isotópico), Co metal flux e afinação astronómica", afirmou o Dr. YI Liang da Universidade de Tongji, primeiro autor do estudo, a frequentar o pós-doutoramento no IGG/CAS.

Uma vez que a Água de Fundo Antártica (AAFA) é a principal fornecedora de oxigénio na região do leito oceânico, "(...) foram utilizados vários métodos científicos para identificar a relação entre a acumulação de metais no nódulo Fe-Mn e as condições do redox oceânico (processo químico que envolve transferência de elétrons de uma molécula, átomo ou íon para outro reagente)", frisou o Professor Deng. Os conteúdos de Ni, Mn e Cu são utilizados para indicar as alterações da AAFA.

Estes resultados mostram que o oxigénio da água do mar tem sofrido um aumento linear no Pacífico oriental desde há cerca de 3,4 milhões de anos. Esta tendência coincide com a observação da camada de gelo do Antártico (AIS), sugerindo uma covariação entre os dois.

Ao comparar o registo AAFA com outros registos geológicos dos últimos milhões de anos, os investigadores encontraram um aumento glaciar na circulação oceânica de fundo. Esta observação implica que o CO2 atmosférico pode ter sido armazenado regularmente no oceano profundo quando o clima da Terra era frio, por exemplo, durante os períodos glaciares passados.

As comparações evidenciaram claramente sete intervalos de pouco oxigénio na água do mar, sugerindo que a influência do AAFA foi reduzida a um nível muito mais baixo.

Embora hajam registos de outros colapsos no passado que tenham resultado em eras glaciares, ainda não é certo o que poderá acontecer agora.

Estes períodos são conhecidos como colapso do AAFA e acompanharam um aumento nas águas profundas do Atlântico Norte (NADW), bem como fases chave da história do Hemisfério Norte, tais como quando o NADW se intensificou ou amplificou.

Embora não saibamos o que irá acontecer em resposta ao atual derretimento do AIS e ao abrandamento do AAFA, o colapso do AAFA pode ter empurrado a Terra para um clima glaciar mais rigoroso várias vezes no passado.