OMM avisa o continente asiático: a região está a aquecer quase duas vezes mais rápido que o avanço mundial
O relatório "State of the Climate in Asia 2024" da OMM alerta que a região está a aquecer quase duas vezes mais rápido que a média global, provocando condições climáticas mais extremas e representando sérias ameaças às vidas, aos ecossistemas e às economias.

A temperatura média anual global próxima à superfície em 2024 estabeleceu-se em 1,55 °C acima da média pré-industrial de 1850-1900 e 1,19 °C acima da média de 1961-1990.
É a temperatura média global mais alta já experienciada para o período de 1850 a 2024, de acordo com todos os conjuntos de dados que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) utiliza para monitorizar a temperatura média global, superando o recorde anterior de 1,45 °C estabelecido em 2023. Desde 2015 a 2024 que se têm registado os 10 anos mais quentes de sempre.
A concentração atmosférica dos três principais gases de efeito estufa também atingiram novos recordes máximos observados em 2023, o último ano para o qual há dados globais consolidados disponíveis, com níveis de dióxido de carbono (CO2) em 420,0 (± 0,1) partes por milhão (ppm), metano (CH4) em 1.934 (± 2) partes por bilhão (ppb) e óxido nitroso (N2O) em 336,9 (± 0,1) ppb, respetivamente 151%, 265% e 125% dos níveis pré-industriais.
Recordes atrás de recordes, ano após ano
A monitorização de dados em tempo real de locais específicos, incluindo Mauna Loa2 (Havaí, Estados Unidos da América) e Kennaook/Cape Grim3 (Tasmânia, Austrália), indicam que os níveis de CO2, CH4 e N2O continuaram a aumentar em 2024.
Já taxa de aquecimento oceânico nas últimas duas décadas (2005-2024) foi mais que duas vezes superior à observada no período de 1960 a 2005, e o calor oceânico em 2024 foi o mais alto já registado.

O aquecimento oceânico e a perda acelerada de massa de gelo das camadas de gelo contribuíram para a elevação do nível médio global do mar em 4,7 mm por ano entre 2015 e 2024, atingindo um novo recorde observado em 2024.
O mais recente relatório sobre o estado do clima no continente asiático da OMM alerta que a região está a aquecer a uma velocidade quase duas vezes superior à média global, o que resulta em condições climáticas mais extremas e se traduz em sérias ameaças às vidas, aos ecossistemas e às economias.
Um retrato preocupante do continente asiático
Em 2024, o continente asiático vivenciou um dos dois anos mais quente já registados, com ondas de calor generalizadas e prolongadas. As temperaturas médias atingiram recordes (1.04 ºC acima da média de 1991-2020). A tendência de aquecimento neste continente é quase duas vezes superior à média global, com a tendência de 1991-2024 a ser praticamente o dobro da de 1961-1990.
As temperaturas da superfície dos mares e oceanos foram as mais altas alguma vez conhecidas, e a taxa de aquecimento decenal da superfície do mar na Ásia é atualmente quase o dobro da média global. Este fator, aliado a ondas de calor marinhas afetaram vastas áreas levam a uma elevação do nível do mar, que nos oceanos Pacífico e Índico ultrapassou a média global, aumentando os riscos para as áreas costeiras baixas.

A redução da queda de neve no inverno e o calor extremo do verão aceleraram a perda de massa dos glaciares no Himalaia Central e em Tian Shan, contribuindo para o aumento de riscos, como inundações e deslizamentos de terra causados por descargas dos lagos glaciais, fazendo perigar a segurança hídrica a longo prazo. As chuvas extremas, secas e ciclones tropicais destrutivos também causaram danos generalizados e mortes.
O ciclone tropical Yagi, a tempestade mais forte do ano, causou danos generalizados e vítimas no Vietname, Filipinas, República Democrática Popular do Laos, Tailândia, Mianmar e China.
Inundações recordes na Ásia Central, as piores em mais de 70 anos, e chuvas extremas nos Emirados Árabes Unidos, onde caíram 259,5 mm em 24 horas, marcaram alguns dos eventos mais graves relacionados com precipitação intensa desde o início dos registos em 1949.
Em setembro, a seca na China afetou 4,76 milhões de pessoas, danificou 335.200 hectares de cultivos e originou perdas diretas estimadas em 2,89 mil milhões de yuans. Também em setembro, as chuvas recordes que se deram no Nepal provocaram inundações severas, causando a morte a pelo menos 246 pessoas. Os danos ultrapassaram 12,85 mil milhões de rúpias nepalesas, mas a ação coordenada e antecipada permitiu o apoio vital a mais de 130.000 pessoas.
O relatório explicita como o reforço e fortalecimento dos sistemas de alerta precoce e de antecipação no Nepal estão a ajudar as comunidades adaptarem-se e responderem aos riscos climáticos, apelando a investimentos urgentes em adaptação, alertas precoces e desenvolvimento resiliente às mudanças climáticas neste e em todos os países do continente asiático.
Referência da notícia
WMO (2025) State of the Climate in Asia 2024.