O vento que atufa de areia as toalhas de praia

Aproveitado como meio propulsor de navios desde o antigo Egipto, e tendo sido fulcral para o apogeu atingido com a era dos descobrimentos, o vento desempenhou desde sempre papel determinante no desenvolvimento da espécie humana.

toalha ao vento praia mar
Os regimes de vento são fortemente influenciados pela orografia, explicando a sua intensificação de norte para sul, ao longo da costa oeste da Península Ibérica.

A circulação geral da atmosfera é alimentada pelo aquecimento diferenciado da superfície terrestre, este diretamente relacionado e dependente da latitude. Em média, nos trópicos ocorre um ganho de energia, enquanto nos polos acontece uma perda. Esta dinâmica atinge equilíbrio por efeito do transporte de ar quente desde a região do equador em direção aos polos, e ao mesmo tempo, o transporte de ar frio, à superfície, dos polos em direção ao equador.

Uma súbita mudança de alguns graus na temperatura da água do mar, tem um efeito tão determinante sobre o vento, quanto uma linha de costa como barreira orográfica. Sobre água mais fria, o ar arrefecerá, tornando-se mais estável, mas o atrito impele o vento a rodar no sentido anti-horário e a diminuir a velocidade. Já sobre águas mais quentes, o ar é aquecido, torna-se menos estável, misturando-se mais verticalmente, o efeito do atrito é facilmente superado, pelo que o vento será mais forte e rodará mais no sentido horário.

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Expressando-se, em regra, a oeste da costa portuguesa durante a estação do verão, o Anticiclone dos Açores, em conjugação com depressão térmica sobre o deserto norte africano, influenciam determinantemente os estados do tempo que se vivenciam durante o veraneio. Analogamente, no inverno, com o Anticiclone dos Açores a assumir uma posição média mais meridional, as condições climáticas em Portugal passam a ser influenciadas pela passagem de diversas massas ar.

Não obstante os ventos provenientes de noroeste soprarem regularmente durante o ano inteiro, de facto os ventos vindos de norte exponenciam a sua passagem durante a época quente, representando ambos cerca de 82% da prevalência sentida nos meses de Julho e Agosto.

Ventania pôr do sol penedos mar
Em geral, na área entre o Anticiclone dos Açores a uma baixa pressão, o vento sopra entre 15 e 25 nós.

Falamos da Nortada

De facto, durante os meses de verão, constata-se uma dominância dos ventos de norte e noroeste cuja velocidade é frequentemente exponenciada durante a tarde. Este fenómeno meteorológico denominado de Nortada, ventos de direções entre 315⁰ e 45⁰, com velocidades maiores ou iguais a 7 m/s, reflete-se também ao nível da TSM, propiciando à formação de nevoeiros litorais. A Nortada que durante o Verão atinge a costa ocidental portuguesa, explica igualmente a formação de uma corrente de deriva litoral Norte-Sul, e temperaturas da água do mar particularmente baixas.

Este tipo de vento que desestabiliza a época quente, está relacionado com a formação da depressão térmica acima da Península Ibérica. Manifesta-se soprando de nor-noroeste ou de norte, com uma intensidade crescente ao longo do dia, mas dependente da situação sinóptica, pode fazer-se sentir em diferentes espaços temporais.

Ainda que dependente das condições atmosféricas espácio-temporais, comummente, o vento desloca-se de áreas frias, altas pressões, para baixas pressões, zonas mais quentes, sendo que quanto maior for a diferença de pressão, maior será a velocidade do vento.

O Anticiclone dos Açores e o vento nas praias

Quando o Anticiclone dos Açores se localiza a noroeste de Portugal e aqui prevalece um gradiente de pressão relativamente fraco, entre 1010 e 1020 hPa, o vento sopra mais forte, quase perpendicularmente à costa, especialmente entre as 12h e as 15h, afastando-se da praia a partir das 15-16h, e rodando lentamente para a direita. Neste caso, apesar de ao final do dia não se fazer sentir vento na praia, vulgarmente, são observados “carneirinhos” no mar, sinónimo de vento moderado.

Porém, quando o Anticiclone dos Açores se localiza a norte da Península Ibérica, a pressão atmosférica apresenta valores entre 1012 e 1018 hPa. Neste caso, geralmente há formação de nevoeiro a norte do Cabo da Roca que se prolonga sob a forma de barra sobre o mar. As manhãs têm vento fraco, inferior a 6 nós, mas a partir do princípio da tarde, começam a aparecer os “carneirinhos” no mar. O vento vai-se aproximando da praia e soprando, em geral a partir das 14h, entre os 15 e os 20 nós, rumo noroeste, diminuindo de intensidade ao final da tarde.

Mas, quando o Anticiclone dos Açores e a depressão de origem térmica por cima da Península Ibérica, flanqueiam Portugal, e a dorsal anticiclónica se estende desde o norte do país até ao Golfo da Gasconha, surgem dias com vento muito forte de rumo nor-noroeste, com velocidades superiores a 20-25 nós a partir do início da tarde. Vento com rajadas fortes, de 35-50 nós, que vai rodando nor-noroeste e norte ao longo da tarde.

É facto que o ar por cima da terra aquece mais rapidamente do que o ar por cima do mar. De forma a equilibrar a atmosfera, o ar quente sobre a terra sobe, e o ar mais frio sobre o oceano desce, impulsionando a movimentação de massas de ar, surgindo o vento. As diferenças de pressão atmosférica, levam a que as massas de ar mais quente se movam e se expandam, e as mais frias se comprimam. E, é de todo este bailado meteorológico que nasce a ventania, a Nortada que se tem feito sentir nos últimos dias!