O nitrogénio da Terra primitiva pode ter vindo de meteoritos, sugerem amostras do asteroide Ryugu

Um novo estudo descobriu que micrometeoritos de corpos celestes de gelo do Sistema Solar exterior podem ter sido responsáveis pelo transporte de nitrogénio para uma região próxima à Terra durante os primeiros dias do nosso sistema.

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A partir de amostras do asteroide Ryugu, uma vasta equipa de investigadores acredita que o nitrogénio existente na Terra pode ter sido proveniente de meteoritos.

Compostos de nitrogénio, incluindo sais de amónio, são ricos em materiais nascidos em áreas distantes do Sol. No entanto, ainda faltam evidências de como estes alcançaram a região orbital da Terra.

Hope Ishii, coautora do estudo e docente da Escola de Ciências e Tecnologia do Oceano e da Terra UH Mānoa (SOEST) do Havai, explica que as descobertas mostram uma maior possibilidade de que mais compostos de nitrogénio do que os reconhecidos anteriormente tenham sido trazidos para perto da Terra. Isto poderia ter servido potencialmente como blocos de construção da vida no planeta.

Para este estudo, os investigadores tiveram como objetivo encontrar pistas sobre os materiais que chegaram perto da órbita da Terra, onde está situado o asteroide Ryugu, a partir da análise de evidências espaciais com base nas amostras deste corpo celeste. Com um microscópio eletrónico, os investigadores descobriram que as superfícies das amostras estavam revestidas com pequenos minerais de nitrogénio e ferro.

Toru Matsumoto, principal autor do estudo e professor assistente da Universidade de Kyoto, explica que propõem que os micrometeoritos, que são minúsculos meteoritos que contém compostos de amónio, foram trazidos por corpos celestes de gelo e acabaram colidindo com o asteroide Ryugu.

As colisões de micrometeoritos desencadeiam reações químicas de magnetita e resultam na formação de nitreto de ferro.

O nitreto de ferro foi observado sobre a superfície da magnetita, que contém átomos de oxigénio e ferro. Quando esta superfície é exposta ao ambiente no espaço, os átomos de oxigénio perdem-se devido à irradiação dos iões de hidrogénio do Sol e ao calor do impacto dos micrometeoritos. Tais processos levam à formação de ferro metálico sobre a superfície da magnetita, que então reage prontamente com o amónio. Isto resulta em condições ideais para a síntese de nitreto de ferro.

Amostras do asteroide Ryugu

Em 2020, pedaços do asteroide Ryugu chegaram à superfície da Terra. Desde então, as amostras da rocha têm sido objeto de estudo para saber mais sobre a natureza deste asteroide.

A nave japonesa Hayabusa2 foi lançada em 2018, atingiu o asteroide em 2019 e deixou cair uma cápsula contendo asmostras do mesmo, com um peso de 5,4 gramas, em 2020. Graças a isso, os cientistas tiveram a oportunidade de observar a rocha de perto. Esta rocha espacial é categorizada como um asteroide potencialmente perigoso que faz parte do grupo Apollo. O seu diâmetro estende-se por cerca de 900 metros.

Referência da notícia
Matsumoto T., Noguchi T., Miyake A., et al. Influx of nitrogen-rich material from the outer Solar System indicated by iron nitride in Ryugu samples. Nature Astronomy (2023).