O custo invisível da crise climática: milhões de europeus afetados por transtornos de saúde mental

A catástrofe climática tem um custo psicológico invisível: milhões de europeus sofrem de eco-ansiedade e trauma, saiba mais aqui!

Estudos indicam que o número de casos de trauma psicológico causados por um desastre climático (como cheias ou incêndios) pode ser 40 vezes superior ao número de lesões físicas registadas.

A crise climática não é apenas uma ameaça ao ambiente físico e à saúde corporal; ela impõe um fardo cada vez mais pesado e, muitas vezes, invisível: os seus efeitos devastadores na saúde mental da população europeia. De acordo com o Observatório Europeu do Clima e da Saúde (EEA), os impactos psicológicos das alterações ambientais estão a aumentar de forma alarmante, afetando milhões de pessoas através de diversas e complexas vias. Os eventos climáticos extremos representam a via mais direta de impacto na saúde mental.

Estima-se que, entre 1998 e 2018, na União Europeia e no Reino Unido, entre 1,72 e 10,6 milhões de pessoas tenham reportado algum tipo de perturbação mental como resultado direto de inundações.

Quais os impactos do clima na saúde mental?

Os impactos do clima na saúde mental estendem-se para além do trauma imediato, manifestando-se em efeitos crónicos e subtis. Temperaturas elevadas, especialmente durante as ondas de calor, estão intrinsecamente ligadas a alterações do humor e a distúrbios comportamentais, incluindo o aumento da agressividade e da criminalidade. Estudos indicam também uma correlação preocupante entre as altas temperaturas e um aumento no risco de suicídio, um elo que se verifica ser particularmente forte entre os homens.

Entre 1998 e 2018, estima-se que entre 1,7 e 10,6 milhões de europeus tenham sido afetados por transtornos mentais (ansiedade, depressão) devido a grandes inundações.

Para aqueles que já vivem com condições de saúde mental pré-existentes, o calor extremo representa um perigo acrescido. O risco de morrer para estes pacientes durante os períodos de calor aumenta, devido à interação das temperaturas elevadas com certos medicamentos (como diuréticos e psicotrópicos), que podem agravar as condições.

Paralelamente aos efeitos diretos do calor, a preocupação constante com a ameaça climática em curso e antecipada tem gerado novos fenómenos psicológicos. Termos como 'eco-ansiedade' – o medo crónico de uma catástrofe ambiental que resulta da observação do impacto irrevogável das alterações climáticas – e 'solastalgia' – a angústia sentida pela perda de um ambiente familiar e amado – tornaram-se comuns, afetando especialmente os mais jovens.

As ondas de calor não afetam só o corpo; o aumento da temperatura está cientificamente ligado a um crescimento de comportamentos agressivos, aumento da criminalidade, por exemplo.

O impacto da crise climática na saúde mental é amplificado pela desigualdade social. A vulnerabilidade não é uniforme; grupos como crianças, jovens, idosos, indivíduos com baixos rendimentos, redes sociais fracas ou doenças psiquiátricas prévias, e comunidades indígenas ou tradicionais, enfrentam uma probabilidade significativamente maior de desenvolver psicopatologias.

Quais as projeções futuras?

As projeções futuras reforçam a urgência da ação. Prevê-se que o aumento da frequência e intensidade das ondas de calor e das cheias continue a elevar o número de casos de depressão e ansiedade.

Pessoas com problemas de saúde mental pré-existentes enfrentam um risco de mortalidade mais elevado durante ondas de calor.

Uma análise aponta que só as inundações costeiras poderão causar cinco milhões de casos adicionais de depressão ligeira anualmente na UE até ao final do século, na ausência de medidas de adaptação eficazes. Nos países do Norte, a diminuição da neve e o aumento da cobertura de nuvens projetados podem agravar desafios como o Transtorno Afetivo Sazonal.

As recomendações dos especialistas

Os especialistas recomendam uma mudança de paradigma, defendendo a priorização de políticas de adaptação que ofereçam benefícios conjuntos para o ambiente e para a saúde mental (como um maior acesso a espaços verdes), intervenções proativas para as comunidades mais vulneráveis, e um aumento significativo do investimento em investigação para colmatar o défice de conhecimento nesta área.

É crucial que os sistemas de saúde se tornem mais resilientes e que a comunicação sobre as alterações climáticas seja feita de forma cuidadosa e construtiva, sem gerar pânico, mas incentivando a ação. O reconhecimento do sofrimento psicológico como uma consequência central da crise climática é o primeiro passo para mitigar este custo invisível e proteger o bem-estar das futuras gerações.

Referência da notícia

https://climate-adapt.eea.europa.eu/en/observatory/evidence/health-effects/mental-health-effects