Investigações em genética revelam segredos da longevidade da Baleia-da-Gronelândia

Uma baleia capaz de viver mais de 200 anos sem sinais significativos de envelhecimento pode revelar segredos sobre uma vida longa e saudável, inclusive para os humanos. Saiba mais aqui!

Baleia-da-Gronelândia
Baleias-da-gronelândia podem resistir ao cancro graças à maior capacidade de reparação do ADN.

Uma baleia capaz de viver mais de 200 anos sem evidências significativas de doenças relacionadas com a idade pode colocar em evidência conhecimentos inexplorados sobre como viver uma vida longa e saudável, mesmo entre humanos.

Recentemente, investigadores revelaram o genoma completo da baleia-da-gronelândia e identificaram diferenças-chave em comparação com outros mamíferos. As alterações nos genes da baleia-da-gronelândia relacionados à divisão celular, reparo de ADN, cancro e envelhecimento podem ter contribuído para aumentar a sua longevidade e resistência ao cancro.

Num estudo publicado na revista biorXiv, autores dos Estados Unidos da América (EUA) apresentaram o genoma completo da baleia-da-gronelândia e destacaram as suas características genéticas distintas. Os autores do estudo, encabeçado por Denis Forsanov, da Universidade de Rochester, em Nova Iorque, ressaltam a importância dessas conclusões.

No seu entendimento, as diferenças de longevidade entre espécies são muito limitadas e, desta forma, as descobertas do seu trabalho fornecem algumas orientações para novos estudos sobre genética. De facto, este estudo partilha da conclusão de que as espécies criaram certos “truques” para terem uma vida mais longa. No caso em concreto da Baleia-da-Gronelândia, permite aplicar o que se descobriu para apoiar os humanos no combate a doenças relacionadas com a idade.

Eficiência no reparo de ADN: um segredo genético para a longevidade

As Baleias-da-Gronelândia, além de serem a segunda maior espécie animal do planeta Terra, apresentam um impressionante limite de vida, que excede 200 anos, superando todos os outros mamíferos conhecidos. Curiosamente, estas majestosas criaturas marinhas não parecem estar propensas ao cancro, apesar de possuírem um número muito grande de células. Etse fenómeno é conhecido como "Paradoxo de Peto".

No entanto, os investigadores descobriram que, ao contrário do que se pensava anteriormente, as células fibroblásticas da Baleia-da-Gronelândia podem sofrer transformação oncogénica com menos supressores de tumor do que as células fibroblásticas humanas. Em vez disso, identificaram uma eficiência e precisão excecionais na reparação de quebras no ADN das células da Baleia-da-Gronelândia, em comparação com outros mamíferos.

Além disto, dois tipos de proteínas, o CIRBP (Cold Inducible RNA Binding Protein) e o RPA2 (Replication protein A2), foram encontrados em níveis elevados nas células fibroblásticas da Baleia-da-Gronelândia, aumentando a eficiência e a fidelidade na reparação de ADN em células humanas.

Estes resultados sugerem que a Baleia-da-Gronelândia, ao invés de possuir supressores de tumor adicionais como barreiras à oncogénese, confia num reparo de ADN mais preciso e eficiente para preservar a integridade do genoma. Esta estratégia, que não elimina as células, mas as repara, pode ser fundamental para a longevidade sem risco de cancro na Baleia-da-Gronelândia.

Perspetivas para a investigação e replicação para humanos

O estudo da Baleia-da-Gronelândia e de outros organismos de vida longa é de grande importância na identificação de mecanismos inovadores de longevidade e o seu potencial para aplicação em seres humanos. Os investigadores pretendem avançar na investigação e planeiam criar murídeos (roedores) que expressem vários genes da Baleia-da-Gronelândia, na esperança de determinar a importância de diferentes genes para a longevidade e a capacidade de resistência a doenças.

Baleia da Gronelândia; longevidade
Os resultados agora disponíveis para as Baleias-da-Gronelândia poderão contribuir para informações muito valiosas para a medicina humana.

Para além disto, tais conclusões podem revelar adaptações fisiológicas relacionadas com o tamanho. Por exemplo, as células das baleias têm uma taxa metabólica muito mais baixa do que as de mamíferos menores, e os investigadores descobriram alterações num gene específico envolvido na termorregulação.

De facto, a compreensão dos mecanismos moleculares e celulares que permitem que estas criaturas vivam uma vida tão longa e saudável pode fornecer valiosas informações para a medicina humana, embora ainda haja muito nas maravilhas do reino animal que necessite de ser explorado.