Eventos climáticos extremos estão a causar um declínio de insetos comuns
A crise silenciosa que ameaça os ecossistemas e como o calor extremo e a seca estão a provocar o declínio alarmante dos insetos comuns. Descubra o que está em jogo, saiba mais aqui!

Este artigo de investigação aborda a preocupante questão de como os eventos climáticos extremos estão a afetar as populações de insetos, utilizando um modelo matemático para prever os seus impactos. O trabalho foca-se na borboleta-da-couve (Pieris napi) como espécie modelo.
Especificamente, prevê-se que eventos na cauda mais distante da distribuição de probabilidade — os mais raros e severos — aumentarão a uma taxa superior do que eventos extremos menos graves. Estes fenómenos, que são de baixa probabilidade mas de alto impacto, são apelidados de "eventos LLHI" (low-likelihood, high-impact events).

Quais os modelos utilizados para o estudo?
Os MPMs são ferramentas fiáveis que representam resumos matemáticos do ciclo de vida das populações, permitindo incorporar os efeitos da variação climática e de eventos extremos. Embora estes modelos tenham sido amplamente utilizados na investigação sobre mudanças globais, a sua aplicação em populações de insetos tem sido mais lenta, em parte pela necessidade de dados observacionais detalhados. A compreensão das respostas dos insetos às alterações climáticas é crucial, pois eles desempenham funções-chave no ecossistema, como a polinização e a decomposição.
Qual o inseto que foi usado e porquê?
No âmbito deste estudo, os investigadores usaram populações de borboletas-da-couve monitorizadas a longo prazo numa área mediterrânica para parametrizar um MPM e prever as suas respostas a regimes atuais e futuros de eventos extremos.
A borboleta-da-couve é uma espécie multivoltina, cuja fase larval se especializa em plantas da família das crucíferas que prosperam em condições húmidas.

Para a metodologia, o estudo utilizou os MPMs para simular a dinâmica populacional. Estes modelos classificaram os indivíduos em adultos e juvenis, com subdivisões de idade. Para incorporar o impacto dos eventos climáticos extremos, os autores modificaram as taxas vitais com base em dados experimentais sobre como as temperaturas extremas e a escassez de alimento influenciam a sobrevivência juvenil e a eclosão da pupa. Os eventos de calor extremo foram definidos como dias em que as temperaturas máximas microclimáticas excediam os 35 °C, sendo classificados como "dias quentes LLHI" se excedessem os 40 °C.

Quais os resultados apresentados?
Os resultados do estudo revelam que, em cenários climáticos atuais, as taxas populacionais são significativamente determinadas pelos impactos da seca, criando um mosaico regional de populações em declínio e em não-declínio. No entanto, as simulações indicaram que, em cenários futuros que não cumpram o Acordo de Paris, os extremos de calor LLHI desencadearam declínios generalizados e graves nesta espécie, que é atualmente abundante.
O estudo conclui que os eventos LLHI podem emergir como um novo, mas negligenciado, fator crítico para o declínio das populações de insetos. Em suma, as abordagens de modelação baseadas em processos e de ciclo completo são ferramentas essenciais para compreender os verdadeiros impactos das alterações climáticas.
Referência da notícia
Vives-Ingla M, Capdevila P, Clements CF, Stefanescu C, Carnicer J. Novel Regimes of Extreme Climatic Events Trigger Negative Population Rates in a Common Insect. Glob Chang Biol. 2025 Apr;31(4):e70148. doi: 10.1111/gcb.70148. PMID: 40193059.