Serão os E.T. mesmo verdes? Pois bem, esta astrobióloga portuguesa suspeita que são roxos
Lígia Fonseca Coelho está no Instituto Carl Sagan, nos Estados Unidos, a liderar uma investigação que pode vir a revolucionar a forma como procuramos por sinais de vida no vasto universo.

O verde simboliza esperança e é sinal de vida. Mas isso só se aplica à Terra. A água, a luz solar, o dióxido de carbono e a temperatura criam as condições ideais para os organismos produzirem a clorofila, o pigmento verde essencial para fazerem a fotossíntese.
Em vez disso, os microrganismos absorvem a luz infravermelha – invisível ao olho humano – realizando a fotossíntese no escuro. Esses micróbios, designados de fototróficos, produzem energia sem oxigénio, precisamente o oposto, portanto, do que nos ensinaram na escola.

A abordagem é inédita e já valeu à investigadora a prestigiada bolsa 51 Pegasi b Fellowship, atribuída pela Heising-Simons Foundation para incentivar a investigação teórica e experimental em astronomia planetária.
Uma nova forma de procurar vida alienígena
Lígia Fonseca Coelho, com mestrado em Microbiologia e doutoramento em Bioengenharia concluídos no Instituto Superior Técnico, desfaz não só o estereótipo do extraterrestre verde, como propõe um método revolucionário na busca de vida fora da Terra.
Ao invés de procurar sinais na atmosfera ou na superfície de exoplanetas, a investigadora propõe procurar por indícios de vida nas camadas de nuvens de planetas gasosos ou de ambientes com atmosferas estáveis.
O objetivo da investigação é enriquecer o catálogo de bioassinaturas, permitindo que futuras missões possam desvendar os mistérios de superfícies e interiores de lugares distantes como a Lua Europa – a quarta maior de Júpiter, considerada um local promissor devido ao vasto oceano de água salgada que se acredita existir sob uma crosta de gelo.

Os dados recolhidos poderão depois ser usados para construir novos modelos de luas que orbitam os exoplanetas. Partindo da vida na Terra como ponto de referência, a equipa liderada por Lígia Fonseca Coelho está a catalogar as cores e as assinaturas químicas de organismos e minerais que apresentam luz refletida nos planetas à sua volta.
A base de dados pode vir a ser um instrumento valioso para definir como vão os telescópios procurar por sinais de vida no universo.
Ao fornecer um inventário das cores mais prováveis encontradas na superfície de outros planetas, será possível adaptar o design de futuros telescópios da NASA ou da ESA.
Apoiada nesses novos pressupostos, as lentes telescópicas poderão ser capazes de absorver o comprimento de onda onde estão estas bioassinaturas.
Nem todas as estrelas são amarelas como o nosso Sol
A observação das anãs vermelhas foi o momento eureka para a investigadora portuguesa a trabalhar nos Estados Unidos. As estrelas mais comuns na Via Láctea emitem principalmente radiação infravermelha.

Significa isto que os planetas na sua órbita teriam as condições ideais para as bactérias serem roxas. O estudo concluiu que as estrelas mais abundantes não são, afinal, amarelas como o nosso Sol, mas sim vermelhas.
A energia que emitem para a superfície dos planetas sendo maioritariamente infravermelha, apresenta um ambiente propício para as bactérias assumirem uma aparência roxa.
Em busca dos mecanismos que regem a vida no universo
Embora não sejam considerados vida alienígena em si, os biopigmentos produzidos pelas bactérias são agora uma nova pista para procurar vida em planetas que orbitam em estrelas longe do nosso Sistema Solar.
Se os biopigmentos na Terra são produzidos por ser vivos, protegendo-nos contra a radiação ou oscilações drásticas de temperatura, é bem possível que esses mesmos mecanismos existentes na Terra possam ser universais.
Referências da notícia
James Dean. In search for alien life, purple may be the new green. Cornell University
Lígia Fonseca Coelho, Lisa Kaltenegger, Stephen Zinder, William Philpot, Taylor L. Price, Trinity L Hamilton. Purple is the new green: biopigments and spectra of Earth-like purple worlds. Monthly Notices of the Royal Astronomical Society